26 de fevereiro de 2017 – 8º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Caímos no desânimo com muita facilidade, passando de um optimismo infantil a um pessimismo doentio.

Onde estará a verdadeira razão deste nosso comportamento que, por vezes, tanto nos faz sofrer?

É verdade que o momento em que vivemos, encarado sem a luz da fé, torna-se propício a que vejamos tudo escuro: falta de estabilidade económica e no trabalho, insegurança a todos os níveis de convivência humana, e a luta contra as doenças que surgem continuamente.

O Senhor toma-nos carinhosamente pela mão, na Liturgia da Palavra de hoje, para nos ajudar a descobrir e a combater as causas deste pessimismo.

1) Vencer a tentação do desânimo

a) O porquê dos nossos desânimos. «Sião exclamou: ‘O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me‘.»

É uma realidade que nos deixamos tentar muitas vezes pelo desânimo. Podemos estar doentes, com tendência para ver tudo com óculos escuros. Muitas vezes, porém, as causas são outras:

  • Temos apego à nossa própria vontade. Queremos o que Deus não quer, ou fugimos do que Ele quer de nós.
  • Falta-nos a confiança em Deus. Só confiamos e estamos contentes quando o Senhor nos faz a vontade. O mistério da cruz repugna-nos e revoltamo-nos contra ele.
  • Em última análise, na raiz de tudo isto encontra-se a nossa falta de fé. Esquecemos ou não temos presente a verdade fundamental da nossa filiação divina. Esta solidão interior prejudica-nos e leva-nos ao desânimo. Fazemos lembrar uma criança mergulhada no escuro, com a mãe ao seu lado que lhe manifesta a sua presença falando-lhe carinhosamente, embora o filho não a veja; indiferente a tudo isto, a criança chora inconsolável
  • b) Os sinais da bondade de Deus. «Mas pode a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do fruto das suas entranhas

Antes de nos pedir que confiemos n’Ele, o Senhor manifesta-nos a Sua bondade pelo comportamento de algumas criaturas. Parece dizer-nos: «Abre os olhos e vê!»

As mães, mesmo tão limitadas nas suas possibilidades, com defeitos, guardam intocável o afecto e carinho para com os filhos. Até os animais nos dão exemplo disto, guiados pelo instinto, tratando das crias, e mudando-as de lugar, quando algum perigo as ameaça.

Também os santos são pequenos vislumbres do coração misericordioso de Deus. Comove-nos uma Beata Teresa de Calcutá que se entrega aos mais pobres dos pobres; o Venerável João Paulo II que se entrega sem restrições aos cuidados do rebanho, até ao esgotamento; santa Joana Beretta Molla, médica, falecida aos 39 anos, para salvar a vida da filha que deu à luz. A enumeração podia continuar. Eles são como os faróis que, na escura e tempestuosa noite, enviam sinais para o alto mar, indicando o porto seguro.

Mas, enquanto o farol não vai ao encontro dos marinheiros, Deus está connosco na barca para nos ajudar.

c) O Senhor ama-nos sempre. «Pois, ainda que ela o esquecesse, Eu não o esqueceria

Deus ama-nos sempre, seja qual for o caminho por onde andamos transviados. É o mistério insondável da Sua misericórdia.

Quanto mais doentes, pequeninos e indefesos são os Seus filhos, mais lhes manifesta o Seu Amor.

Deus, nosso Pai, é mil vezes mais generoso para connosco do que todas as mães da terra juntas.

Sendo assim, nenhuma situação neste mundo justifica o nosso desânimo, porque podemos contar sempre com Ele.

Recolhamo-nos em oração, quando a escuridão do desânimo se abater sobre nós.

    2)  Acolher a bondade do Senhor

a) Viver o desprendimento. «Ninguém pode servir a dois senhores: […] Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro

A confiança em Deus deve ser acompanhada duma diligência para fazer tudo o que está dentro das nossas possibilidades, para resolver os problemas. Quando estamos doentes, por exemplo, o primeiro cuidado há-de ser consultar o médico e obedecer-lhe.

Está fora de dúvidas que temos de procurar diligentemente o sustento de cada dia e, na condição de fieis correntes que vivem no mundo, amealhar algumas economias, para um tempo de crise.

Mas este cuidado não nos pode levar a passar por cima da Lei de Deus, lançando mão de todos os meios.

É que, se não vivermos com uma preocupação de fidelidade à lei do Senhor, pode chegar o momento em que não hesitamos em usar todos os meios – também os ilícitos – justificando-os com um fim bom que procuramos.

b) Confiar no Senhor. «Não vos inquieteis, no tocante à vossa vida, com o que haveis de comer ou de beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir

Depois de termos feito tudo quanto se encontra ao nosso alcance, abandonemo-nos a uma grande confiança no Senhor.

Ele não prometeu excluir da nossa vida a cruz do sofrimento. Nossa Senhora dizia a santa Bernadette Soubirous, a vidente de Lurdes: «Não prometo fazer-te feliz na terra, mas no Céu.» A Imaculada Conceição referia-se, com certeza, à felicidade como os homens a entendem geralmente. A sua família continuou com graves dificuldades económicas, o pai foi injustamente acusado de ter roubado um pedaço de madeira, e ela sofreu a asma até ao fim da vida. Jovem religiosa, ainda, foi preciso sentá-la numa cadeira – estava-se em Fevereiro gelado, em Névers – e trazê-la para junto da janela para que pudesse respirar nos últimos momentos da vida.

Mas podemos ter a certeza de que o Senhor escolhe sempre o melhor para nós. Apresentemos-Lhe os nossos pedidos, mas deixemos Deus escolher.

Que admirável exemplo de confiança nos dá o Santo Job, nas paragens longínquas do Antigo testamento!

c) Ser fiel. «O que afinal se requer nos administradores é que cada um deles se mostre fiel

Paulo toma conhecimento de que há grandes divisões na Igreja de Corinto e ele mesmo não escapa à calúnia. Tenta ajudá-los a afastar este mal, dando-lhes doutrina que é para todos os tempos, exortando-os a serem fieis.

Como se manifesta esta fidelidade? Encontramos na sua carta algumas indicações práticas.

  • Examinar o nosso comportamento na presença de Deus, sem nos preocuparmos com o que as pessoas podem dizer de nós. É diante do Senhor que havemos de tomar as nossas decisões, e não sob a pressão das apreciações que o nosso comportamento pode causar nos outros, nem sempre bem formados ou bem intencionados.
  • Manter a consciência limpa, sem esquecer que deve estar bem formada, para não nos iludirmos. Não faltam pessoas que estão continuamente a dizer que estão de consciência tranquila, quando até um cego vê que estão submersos no mal. Não falamos de consciência tranquila, mas limpa. É a Palavra de Deus que a purifica.
  • Não julgar os outros. As críticas e murmurações são uma fonte de inquietação para os que as fazem e os que as sofrem.

O Senhor não nos entregou a missão de julgar, nem possuímos todos os dados para o podermos fazer com justiça.

  • Participação na Missa Dominical. O Senhor ilumina as trevas do nosso coração especialmente no encontro com Ele em cada Domingo e dá-nos forças, na Eucaristia, para cumprirmos as exigências que ela nos ajuda a descobrir.

A paz que buscamos, numa confiança ilimitada no Senhor, não dispensa, pois, este encontro com Ele no primeiro dia da semana.

Em casa de Isabel, Maria manifesta a maior tranquilidade e alegria, apesar dos problemas que se acumulam no horizonte da sua vida, porque confia no Senhor.

Check Also

1 de maio de 2024- São José Operário

1.      A importância e o valor do Trabalho. Deus, Criador de tudo quanto existe, podia dar-nos …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.