5 de maio de 2024 – 6º Domingo da Páscoa – Ano B

O texto do Evangelho deste domingo é a continuação do domingo passado. Após ter mencionado a alegoria da videira e dos ramos, Jesus explica o que acontece naqueles que permanecem unidos a Ele.

Há entusiasmos passageiros por Cristo, ditados pela emoção momentânea, e há um apego duradouro que nenhuma força é capaz de quebrar. Esta adesão firme e decidida é expressa por João com o verbo permanecer que aparece sete vezes na parábola da videira e mais três no início do nosso recho.

Jesus permanece no amor do Pai porque está sempre unido a Ele, é fiel e «faz sempre aquilo que lhe agrada; no mundo, os discípulos só podem tornar-se um reflexo desta união se permanecem no seu amor e observam os seus mandamentos: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada».

Nestas palavras e nestas imagens, densas de misticismo, é nitidamente compreensível a referência à Eucaristia, o sacramento em que se celebra e se realiza esta união íntima com o Senhor: «Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele».

É por esta razão que, antes de se aproximar da Eucaristia, cada pessoa «examine-se a si mesma», para verificar se está verdadeiramente decidida a permanecer no Senhor; caso contrário, o seu gesto é uma mentira, e «come e bebe a sua própria condenação».

Nestes primeiros versículos, Jesus não apresenta o seu amor como modelo a imitar, mas como uma vida que continua nos discípulos que, no Batismo, foram inseridos nele, tornando-se seus membros. Deste modo, é Ele quem atua neles. Nos discípulos, é Ele quem anuncia a boa nova aos pobres, ama, cura, consola, enxuga as lágrimas da viúva e do órfão.

O fruto desta união com Cristo e com o Pai, assim como da observância dos seus mandamentos, é a plenitude da alegria.

O termo alegria aparece sete vezes no Evangelho de João. O primeiro a utilizá-lo é o Baptista quando afirma: «O amigo do esposo sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria e tornou-se completa»; depois é sempre Jesus que, com insistência, repete aos discípulos a promessa da sua alegria.

Está ainda radicada nas pessoas a convicção de que permanecer em Cristo equivale a renunciar a tudo aquilo que dá felicidade. Não é assim. Jesus chama a atenção, isso sim, para as alegrias vãs e ilusórias que derivam do egoísmo, da procura do prazer a todo o custo, mas propõe a alegria autêntica, a que provém da união com Ele e com o Pai. Porém esta alegria, a única verdadeira e duradoura, só pode ser obtida passando pela dor: «Haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria». Tentar caminhos alternativos, escolher estradas fáceis e espaçosas significa perder-se, afastar-se da meta.

Depois de ter falado dos seus mandamentos, como se fossem muitos, Jesus declara: «É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei», como se se tratasse apenas de um.

A comunidade cristã é composta por «amigos», pelo que ficam de fora os relacionamentos do tipo superior-súbdito, patrão-escravo, mestre-discípulo; na comunidade, todos os seus membros estão no mesmo plano e têm igual dignidade.

Depois de ter lavado os pés aos Apóstolos, Jesus amite ser «mestre e senhor», mas dá um significado completamente novo a estes títulos: «primeiro», aquele que é «grande» na comunidade é quem lava os pés ao último. Não há lugar para quem, em vez de servir, ambiciona honrarias e cargos de prestígio.

Todo o trecho é um hino ao amor. Mas quem deve ser amado? A exortação é claramente dirigida apenas aos discípulos, e o amor parece ficar restrito ao grupo. É de perguntar então por que motivo Jesus não pediu um amor universal, que se estende a todos, até mesmo aos inimigos, como fez no discurso da montanha.

É verdade, aqui Jesus dirige-se diretamente apenas aos membros da comunidade cristã, e só a eles recomenda que devem estar unidos e de amarem-se reciprocamente. É uma limitação, mas tem um motivo: antes de falar de amor e de paz aos outros, é preciso cultivar o amor e a paz na Igreja.

Somente uma comunidade onde os membros façam uma experiência viva e profunda de acolhimento, de tolerância, de perdão, de serviço recíproco e de partilha dos bens pode anunciar ao mundo fraternidade e paz.

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