TEMPO LITÚRGICO DA QUARESMA

Começa na Quarta-feira de Cinzas e termina em Quarta-feira Santa. São quarenta dias a lembrar e a acompanhar os quarenta dias passados por Jesus no monte da Quarentena, preparando, com a oração e o jejum, a Sua Vida Pública.

 

ORIGEM DA QUARESMA

A Igreja procedia, desde o princípio, uma preparação cuidada de todas as pessoas que desejavam receber o Baptismo. Era um longo período de preparação, chamado Catecumenado, que oscilou, Segundo os tempos, entre os dois e os quatro anos.

Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d. C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias. Assim surgiu a Quaresma.

Quando o imperador romano Constantino Magno deu a paz à Igreja, em 313, pelo Edito de Milão, uma grande multidão de pessoas pediu o Baptismo e foi preciso fazer uma preparação abreviada.

Em breve se verificou que a Igreja estava cheia de «pagãos baptizados», isto é, pessoas que desejavam viver o cristianismo mas permaneciam na maior ignorância religiosa.

A Quaresma nasceu desta preocupação: aprofundar os conhecimentos e levar à prática da vida cristã todos os fiéis. É uma espécie de catecumenado annual. Depois da última Reforma Litúrgica estão previstas leituras para os diversos Domingos da Quaresma, para facilitar este «Catecumenado».

A Igreja publicou o RICA (Ritual para a Iniciação Cristã dos Adultos), no qual encontraremos directivas sobre a organização e o desenrolar um verdadeiro Catecumenado.

Os temas dos cinco domingos da Quaresma seguem ainda um esquema catecumenal, versando o stems fundamentais da fé.

 

SIGNIFICADO DA QUARESMA

A palavra Quaresma vem da língua latina – quadragésima – e é utilizada para designar o período de quarenta dias que antecedem a festa central do cristianismo: a Ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no Domingo de Páscoa. Esta prática vem do século IV.

Este período é reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a fazerem uma comparação entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé com o objectivo de ser uma pessoa melhor e proporcionar o bem para os demais.

Essencialmente, a Quaresma é um retiro espiritual voltado para reflexão. Os cristãos são convidados a viver em recolhimento, oração e penitência para preparar o acolhimento de Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa. Assim, retomando questões espirituais, simbolicamente o cristão está ressuscitando, como Cristo.

 A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência.

 

SIGNIFICADO DESTES 40 DIAS

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egipto, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.

 

UM PROGRAMA PARA A QUARESMA

A Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de acção: a oração, a penitência e a caridade. Não somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor em toda a humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para se aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade, esta última como uma consequência da penitência.

 

AINDA É COSTUME JEJUAR DURANTE ESTE TEMPO

Sim, ainda é costume jejuar na Quaresma, ainda que ele seja válido em qualquer época do ano. A igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício, mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justificam as demais abstinências, porque elas têm a mesma função.

Oficialmente, o jejum deve ser feito pelos cristãos baptizados, na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa. Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório nesses dois dias para pessoas entre 18 e 60 anos.

O jejum, assim como todas as penitências, é visto pela igreja como uma forma de educação no sentido de se privar de algo e reverte-lo em serviços de amor, em práticas de caridade. Os sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por exemplo: um jovem deixa de mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria nos doces é usado para o bem de alguém necessitado.

 

O QUE É O CONTRIBUTO PENITENCIAL

É dentro deste espírito que se recolhe na igreja o contributo penitencial. Juntamos pequenas nunciosas voluntárias — um café, economia de gasolina, caminhando e oferecendo a importância não dispendida, não lanchar, uma refeição mais pobre são outras tantas formas de juntar pequenas migalhas para oferecer.

A finalidade do jejum não é económica, mas acritativa: renunciamos em ordem a disponibilizar para os mais carenciados alguns recursos. Nos primórdios da Igreja, os pobres eram chamados «altares de Deus:»

 

JEJUM E ABSTINÊNCIA

O jejum consiste em fazer uma só refeição forte ao dia. A abstinência consiste em não comer carne. A Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa são dias de abstinência e jejum. A abstinência é obrigatória a partir dos catorze anos e o jejum dos dezoito aos cinquenta e nove anos de idade.

Com estes sacrifícios, trata-se de que todo nosso ser (alma e corpo) participe em um ato onde reconheça a necessidade de fazer obras com as quais reparemos o dano causado com nossos pecados e para o bem da Igreja.

O jejum e a abstinência podem ser trocados por outros sacrifícios, dependendo do que ditem as Conferências Episcopais de cada país, pois elas têm autoridade para determinar as diversas formas de penitência cristã. Algumas indicam: participação na Celebração da Eucaristia, leitura da Sagrada Escritura durante cerca de meia hora, exercício da Via-Sacra, recitação do Rosário, contributo penitencial, etc.

O jejum e abstinência da Quarta-feira de Cinzas e de Sexta-feira Santa não se pode permutar por nenhum outro.

 

A RAZÃO DO JEJUM

É necessário dar uma profunda resposta a esta pergunta, para que fique clara a relação entre o jejum e a conversão, isto é, a transformação espiritual que aproxima o homem a Deus.

O abster-se de comida e bebida tem com como fim introduzir na existência do homem não somente o equilíbrio necessário, mas também o desprendimento do que se poderia definir como «atitude consumística».

Tal atitude veio a ser em nosso tempo uma das características da civilização ocidental. O homem, orientado aos bens materiais, muito frequentemente abusa deles. A civilização se mede então segundo quantidade e a qualidade das coisas que estão em condições de prover ao homem e não se mede com a medida adequada ao homem.

Esta civilização de consumo fornece os bens materiais não somente para que sirvam ao homem em ordem a desenvolver as actividades criativas e úteis, mas cada vez mais para satisfazer os sentidos, a excitação que deriva deles, o prazer, uma multiplicação de sensações cada vez maior.

O homem de hoje deve abster-se de muitos meios de consumo, de estímulos, de satisfação dos sentidos, jejuar significa abster-se de algo. O homem é ele mesmo quando consegue dizer a si mesmo: Não.

Não é uma renúncia pela renúncia: mas para melhor e mais equilibrado desenvolvimento de si mesmo, para viver melhor os valores superiores, para o domínio de si mesmo.

 

O DESENROLAR DA QUARESMA

 

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Com a imposição das cinzas, inicia-se uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.

Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: «Convertei-vos».

Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras «Convertei-vos e crede no Evangelho» e com a expressão «Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás», convida a todos a reflectir sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efémera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A sugestiva cerimónia das cinzas eleva nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, a Deus. A conversão consiste em voltar para Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz da verdade. Uma valorização que implica uma consciência cada vez mais clara de que estamos de passagem na terra.

Sinónimo de «conversão», é também a palavra «penitência» … Penitência sugere-nos a mudança de mentalidade. Penitência exprime o livre esforço no seguimento de Cristo.

 

ESTRUTURAS DO TEMPO DE QUARESMA

Para poder viver adequadamente a Quaresma é necessário esclarecer os diversos planos ou estruturas em que se move este tempo.

Em primeiro lugar, é preciso distinguir a «Quaresma dominical», com seu dinamismo próprio e independente, da «Quaresma das feiras».

 

A «Quaresma dominical»

 

Nela se distinguem diversos blocos de leituras. Além disso o conjunto dos cinco primeiros domingos, que formam como uma unidade, contrapõem-se ao último domingo – Domingo de Ramos na Paixão do Senhor –, que forma mas bem um todo com as feiras da Semana Santa, e inclusive com o Tríduo Pascal.

 

A «Quaresma ferial»

Cabe também assinalar nela dois blocos distintos:

– O das Feiras das quatro primeiras semanas, centradas sobre tudo na conversão e a penitência.

– E o das duas últimas semanas, no que, a ditos temas, sobrepõe-se, a contemplação da Paixão do Senhor, a qual se fará ainda mais intensa na Semana Santa.

Ao organizar, pois, as celebrações feriais, terá que distinguir estas duas etapas, sublinhando na primeira os aspectos de conversão (as orações, os prefácios, as preces e os cantos da missa ajudarão a isso).

– E, a partir da segunda-feira da V Semana, mudando um pouco o matiz, quer dizer, centrando mais a atenção na cruz e na morte do Senhor (sobre tudo as orações da missa e o prefácio I da Paixão do Senhor, tomam este novo matiz).

No fundo, há aqui uma visão teologicamente muito interessante: a conversão pessoal, que consiste no passado do pecado à graça (santidade), incorpora-se com um «crescendo» cada vez mais intenso, à Páscoa do Senhor: é só na pessoa do Senhor Jesus, nossa cabeça, onde a Igreja, seu corpo místico, passa da morte à vida.

Digamos finalmente que seria muito bom sublinhar com maior intensidade as feiras da última semana de Quaresma – a Semana Santa – nas que a contemplação da cruz do Senhor se faz quase exclusivamente (Prefácio II da Paixão do Senhor). Para isso, seria muito conveniente que, nesta última semana ficassem alguns sinais extraordinários que recalcassem a importância destes últimos dias. Embora as rubricas assinalam alguns destes sinais, como por exemplo o facto que nestes dias não se permite nenhuma celebração alheia (nem que se trate de solenidades); a estes sinais terá que somar alguns de mais fácil compreensão para os fiéis, para evidenciar assim o carácter de suma importância que têm estes dias: por exemplo o canto da aclamação do evangelho; a bênção solene diária ao final da missa (bênções solenes, formulário «Paixão do Senhor»); uso de vestimentas roxas mais vistosas, etc.

 

O LUGAR DA CELEBRAÇÃO.

Deve-se procurar a maior austeridade possível, tanto para o altar, o presbitério, e outros lugares e elementos celebrativos. Unicamente se deve conservar o que for necessário para que o lugar seja acolhedor e ordenado. A austeridade dos elementos com que se apresenta nestes dias a igreja (o templo), contraposta à maneira festiva com que se celebrará a Páscoa e o tempo pascal, ajudará a captar o sentido de passagem» (páscoa = passagem) que têm as celebrações deste ciclo.

Durante a Quaresma há que suprimir as flores (as que podem ser substituídas por plantas ornamentais), os tapetes não necessários, a música instrumental, a não ser que seja de tudo imprescindível para um bom canto. O órgão somente deve ser tocado ao acompanhar o canto.

Uma prática que em algumas Igrejas poderia ser expressiva é a de cobrir o altar, fora da celebração eucarística, com um pano de tecido roxo.

 

 

Check Also

14 abril de 2024 – 3º Domingo da Páscoa -Ano B

“Testemunhando a fé no nome de Jesus ressuscitado”. Hoje, no terceiro Domingo da Páscoa, encontramos …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.