Quaresma: Reconciliação permanente do cristão

Deus, por amor, criou o homem à Sua imagem e semelhança, isto é, com espírito com vontade, consciência e liberdade (Gen 1,26). Colocou o homem num lugar de harmonia, paz e bem-estar. Ia ao seu encontro no jardim, onde convivia, dialogava com ele (2,8.15). deu-lhe uma mulher com companheira, porquê: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (Gen 2,18). Deus deu uma orientação muito importante ao homem: «Não comas o fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em comeres, certamente morrerás» (Gen 2,17).

A harmonia e o bem-estar, em que o homem e a mulher viviam, despertaram a inveja de Satanás: «Por inveja do demónio é que a morte entrou no mundo» (Sab.2 24). O homem aceitou a proposta de Satanás. E sua vida passou a ser de sofrimento. E o pior de tudo, é que perdeu a imagem de Deus, de tal maneira que chega até a considerar Deus seu inimigo. Ou a dizer que não há Deus. É a situação em que vive a humanidade atualmente. E muitos órgãos da comunicação social caminham nesta linha, num total esquecimento e numa deplorável ignorância de Deus Criador e do Seu grande Amor. Mas neste Seu grande Amor por todos nós, Ele nunca abandonou o homem. E logo após a queda no pecado, Ele faz uma promessa solene ao homem, diante de Satanás: «Esta (a mulher) esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar» (Gen 3,15). A Igreja vê esta promessa realizada em Maria Imaculada, Virgem sem pecado para dar um corpo humano ao Filho de Deus. É o Mistério celebrado no Natal. Jesus fez-se Homem para resgatar o homem desta condição degradante que o afasta de Deus e o reconduz à Sua amizade. Isto aconteceu na Páscoa, pelos sofrimentos, morte na cruz e ressurreição.

Chegámos assim à Quaresma tempo propício e oportuno para prepararmos o nosso coração para celebrar dignamente a Páscoa, pela meditação, contemplação dos sofrimentos da Morte e Ressurreição de Cristo, grande manifestação do Seu Amor misericordioso por todos os homens, para os libertar da situação desastrosa e humilhante do pecado.

Jesus deixou-nos a Sua Igreja para levar e dar a conhecer a todos os homens de todos os tempos este amor misericordioso e a todos convidar a aderir ao Seu plano de Salvação. Pelo batismo cada um de nós aceita e adere a este plano de salvação. E no batismo fomos lavados dos nossos pecados e reconciliados com Deus e com os irmãos. Ficamos santos, porque nascemos na natureza de Deus que é Santo. Mas, continuamos fracos, frágeis, inconstantes, sujeitos à tentação e à queda. A carta aos Romanos descreve essa situação dramática do cristão: «Querendo fazer o bem é o mal que eu encontro. Sinto prazer na Lei de Deus, de acordo com o homem interior. Mas vejo outra lei nos meus membros, a lutar contra a lei da minha razão e a reter-me cativo no pecado, que se encontra nos meus membros. Que desditoso homem que eu sou! Quem me há-de libertar deste corpo de morte? Graças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo, Nosso Senhor» (Rm 7,14-25).

Coloquemo-nos a questão: Será que já vivemos o nosso compromisso batismal? O sacerdote perguntou-nos: renunciais a Satanás e a todas as suas obras? Este compromisso exige de cada um de nós uma luta interior e diária. Será que o nosso coração já não aceita obras de Satanás? Perante esta descrição de Paulo aos Romanos, e a nossa experiencia diária temos de aceitar que sim. Por isso, só com a graça e o auxílio que Jesus nos conceda por meio do Espírito Santo, o cristão é capaz de enfrentar luta contra o pecado, na nossa vida, e sairmos vencedores aquando da «vinda gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo». Na Quaresma, meditando nos sofrimentos e Morte de Cristo, recebemos este auxílio, absolutamente necessário, na luta contra o pecado e cresceremos no amor a Jesus que tanto sofreu por nós. E este esforço, é claro, tem de ser toda a hora, todo o dia, todos os anos, porque só assim estaremos vigilantes e atentos para a hora da vinda do Senhor, a nossa morte. Morte, que é o nosso encontro com Cristo Ressuscitado.

 

Autor: Pe. Aníbal Morgdo (Luanda)

Fonte:

Jornal Voz da Missão

Nº 975| fevereiro de 2017

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