»Enraizados e Alicerçados no Amor» (Ef 3,17b) Eucaristia, fonte de vida

Vivemos tempos novos, marcados por surpreendentes sinais do Espírito Santo. Entre eles, emerge com forte capacidade profética o carisma pastoral do Papa Francisco que chama toda a Igreja à conversão missionária através de muitos gestos repletos da novidade do evangelho e do magistério, expresso, sobretudo, na Exortação Apostólica Evangelii Goudium. Com o Santo Padre, mergulhemos no mesmo Espírito que há cinquenta anos animou e conduziu o Concílio Vaticano II. Será que nós estamos a responder aos apelos que o Espírito dirige à Sua Igreja, pela voz do Concílio Vaticano II e pelo Papa Francisco, sugerindo uma Igreja inteiramente missionária?

O Papa apela-nos a uma conversão pastoral no centro da qual está, como paradigma, «a atuação missionária» (EG,15). Este apelo de Francisco não surge como uma exortação de circunstância, mas como corrente missionária capaz de cumprir a verdadeira reforma da Igreja.

A Constituição pastoral, Gaudium et Spes, A Igreja no mundo atual, recorda-nos que a revelação do Amor de Deus se destina a todos os homens e que «…) o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem ao mistério pascal por um modo só de Deus conhecido» (GS 22). O Papa Francisco retoma este ensinamento conciliar quando sublinha: «Esta salvação, que Deus realiza e a Igreja jubilosamente anuncia, é para todos, e Deus criou um caminho para se unir a cada um dos seres humanos de todos os tempos. Escolheu convoca-los como povo, e não como seres isolados. Ninguém se salva sozinho, isto é, nem como individuo isolado, nem por suas próprias forças» (EG. 113). O Bispo de Roma concretiza que «a salvação, que Deus nos oferece, é obra da sua misericórdia» (EG 112) e que «a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho (EG 114).

O Papa Francisco explica com extraordinária beleza, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o dinamismo de «saída», (…) que Deus quer provocar nos crentes» (EG 20). Só no Evangelho vivido e repartido com os irmãos encontramos a genuína alegria missionária. A alegria de estar com todos, redescobrir que amar é estar com os irmãos, descobrindo Cristo em cada um deles.

Como Cristo está presente na Eucaristia, também a nossa presença há de ser gratuita e silenciosa, sem se impor, mas fazendo surgir nos gestos de quem serve, a beleza de Cristo Bom Pastor.

Enquanto Mensageiros de Fátima, somos convidados a parar diante da Eucaristia, fonte de Amor, para crescermos na nossa entrega e assim partirmos em missão, refrescados pela certeza da fidelidade do Senhor à Sua promessa: «Estarei convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20b). nesta aprendizagem é mestre o pequeno pastorinho Francisco: «Depois que adoeceu, dizia-me, às vezes, quando eu, a da escola, passava por sua casa: – Olha, vai à Igreja e dá muitas saudades minhas a Jesus Escondido. Do que tenho mais pena é de não poder ir estar uns bocados com Jesus Escondido» (Cf. Memórias da Irmã Lúcia, 8ª edição, agosto 2000. Página 141).

Nos caminhos da nossa vida, muitas vezes pode atingir-nos o cansaço e a aridez do deserto do mundo imundo em que vivemos as diásporas do reino de Deus. Como à Samaritana, também o Senhor nos diz: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem te diz “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e Ele havia de dar-te água viva!» (Jo 4,10). Sem dúvida que a Eucaristia será sempre o «Pão dos fortes» e o segredo da nossa permanência e fidelidade ao Mestre. Só parte em missão quem experimenta as belezas do Amor que anuncia e compartilha.

O Evangelho de São Lucas refere, como testemunha a parábola do Bom Samaritano (Lc  10,28,37), que os discípulos se sentiam convidados a viver a misericórdia anunciada e praticada por Jesus. Percebemos, neste ensinamento de Jesus, que o importante no Amor não é tanto “saber” mas sim “ser” e “fazer”. Jesus diz-nos: «Vai e faz o mesmo».

O Amor Cristão não pode ser uma teoria abstrata, mas compromisso concreto, que se torna visível na vida e na ação daquele que se quer identificar com Jesus no Amor ao Pai. Como Jesus, o discípulo que ama a Deus no seu intimo, também ama a Deus nos seus semelhantes. Amar a Deus implica amar o próximo (1 Jo 4,20-21). O amor cristão tem na sua origem o Amor de Deus que nos amou primeiro (1 Jo 4,19). É pela fé que sabemos e experimentamos o Amor de Deus, por isso, o fiel ama a todos os irmãos nascidos do amor de Deus. Será na fé e na caridade que nascem da filiação Divina, que se alicerçarão as vitórias do amor na vida de cada cristão e das comunidades cristãs sobre tudo o que se opõe a Cristo (1 Jo 5,3-4). Amaremos o Amor com que somos amados.

Como na parábola do Bom Samaritano, também nós podemos perguntar: «E quem é o meu próximo?» diremos que, na sociedade pragmática em que vivemos, interessa saber a lista das prioridades e das opções preferenciais ou até saber a quem se deve amar e excluir do amor.

São Lucas, o evangelista da ternura de Deus, mostra-nos neste ensinamento de Jesus que próximo é, sobretudo, o que sofre alguma necessidade ou carência, pois amar a Deus significa colocar-se na perspetiva de Deus que ama todo o ser criado e não hesitou em entregar o Seu Filho Unigénito pela salvação de todos os homens. Por isso, viver, dar-se e sacrificar-se pelo bem dos irmãos é «viver com Deus» e atualizar em nós aquilo que Jesus, vivo em cada cristão, quer que façamos na fidelidade ao Seu Mandamento Novo.

Fonte:

Jornal Voz da Fátima

Ano 94| nº 1126 | 13 de julho de 2016

Autor:

D. Francisco Serra Coelho, Bispo Auxiliar de Braga

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