3 de junho de 2016 -Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – Ano C

A solenidade do Coração de Jesus é um convite à alegria pessoal, muito íntima e sincera, fruto da conversão e do convívio com Ele e com a comunidade reunida no amor misericordioso de Deus. Por isso, encontrando a ovelha, é o próprio Jesus que, alegre, a coloca sobre os ombros.

No entanto, é também um convite especial à alegria comunitária, digamos eclesial, partilhada por Jesus connosco e por todos os que, n’Ele, foram encontrados e se tornaram próximos. É o próprio Jesus que nos convida a participar das alegrias do seu Coração, imitando-o no Seu movimento de misericórdia para com os que mais necessitam.

  1. Um amor que busca e salva

Na leitura do Evangelho que há pouco escutámos, São Lucas usa a figura do Bom Pastor para falar deste amor divino. O Bom Pastor é uma imagem querida a Jesus nos Evangelhos.

Ao responder aos Fariseus que se lamentavam porque Ele recebia os pecadores, comendo com eles, o Senhor faz-lhes uma pergunta: «Quem de vós, que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se perdeu, até a encontrar? Ao encontrá-la, põe-na alegremente nos ombros e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz- lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha perdida’» (Lc 15, 4-6).

Esta parábola sublinha a alegria de Cristo e do nosso Pai celeste por todo o pecador que se arrepende. O amor de Deus é um amor que nos busca. É um amor salvífico. Este é o amor que encontramos no Coração de Jesus.

É da ferida aberta no coração do Filho que fluirá, eternamente, pela água do batismo, a misericórdia que nos torna filhos e filhas do Pai, e a ardorosa compaixão do Espírito derramado em nossos corações pelo sangue redentor, no indissolúvel encontro humano-divino selado pelo Ressuscitado em Pentecostes.

Paulo exorta-nos a compreender o amor do Senhor e a convertemo-nos em loucos por Cristo (1 Cor 4, 10). Diante deste amor, qualquer atributo divino que lhe possa ser conferido – omnipotência, omnipresença, omnisciência – fica relegado e passado para trás. Mais do que nunca, o Senhor é o Amor na Sua unidade trinitária de Pai misericordioso, de Filho libertador e de Espírito santificador. Apenas nesta «loucura» seremos fortalecidos pelo Espírito de Jesus Ressuscitado que armará a Sua tenda nos nossos corações.

  1. «Foi Deus quem nos amou primeiro» (1 Jo 4,19)

Quando conhecemos o amor que existe no Coração de Cristo, sabemos que cada pessoa, cada família, cada povo sobre a face da terra pode depositar a própria confiança nesse Coração. Recordamos o que disse Moisés: «És um povo consagrado ao Senhor, teu Deus. Se o Senhor vos preferiu e vos distinguiu foi porque o Senhor vos ama» (Dt 7, 6-8). Desde os tempos do Antigo Testamento, o fulcro da história da salvação é representado pelo amor inexaurível, pela predileção de Deus e pela nossa resposta humana a esse amor. A nossa fé é a resposta ao amor e à predileção de Deus.

Mas será o amor de Deus será o prémio pela nossa própria bondade?

A parábola de hoje diz-nos que Deus não nos ama porque somos bons, ama-nos porque Ele mesmo é bom, e sempre o será. Na verdade, «Foi Deus quem nos amou primeiro» (1 Jo 4,19). O Seu amor a todo homem é incondicional e manifesta-se na dádiva da Sua vida que se dá por meio de Jesus. Esta confiança absoluta na bondade de Deus, manifestada em Jesus, é a paz do cristão.

  1. Amar como Jesus amou…

Uma vez mais aproximamo-nos da pessoa de Jesus a partir daquilo que é o mais nuclear da Sua realidade: Jesus foi aquele que soube amar de verdade, aquele cujo coração misericordioso ama a todos os homens e mulheres do mundo, em especial os pobres e os marginalizados.

Agora, é Jesus que nos convida a viver também dessa maneira, pois o amor, ou seja, seu Espírito, «foi derramado em nossos corações» (Rom 5, 5) e podemos amar. Na verdade, é um chamamento à responsabilidade de, como Jesus, ser compassivo e misericordioso com os pobres e marginalizados da sociedade. Esse é o modo de «desagravar», de certa forma, o coração ferido de Jesus, pois o Seu rosto, transfigurado, é o rosto de tantos homens e mulheres que sofrem, dos homens e mulheres desvalidos, que necessitam de nosso amor e misericórdia.

Que sejamos como Cristo de quem se dizia: «Esse homem recebe os pecadores e come com eles!» (Lc 15, 2). Nesta atitude de comunhão e acolhimento que gera partilha e reencontro, seremos convidados a tomar na alegria do nosso Deus: «Alegrai-vos comigo!» (Lc 15, 6).

Que a Virgem Maria, que viu crescer e instruiu Jesus, nos ensine a amar como Jesus amou!

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