1 de novembro de 2017 – Solenidade de Todos os Santos

«Os Santos, tendo atingido pela multiforme graça de Deus a perfeição e alcançado a salvação eterna, cantam hoje a Deus no Céu, o louvor perfeito e intercedem por nós.
A Igreja proclama o mistério pascal realizado na paixão e glorificação deles com Cristo propõe aos fiéis os seus exemplos, que conduzem os homens ao Pai por Cristo; e implora, pelos seus méritos, as bênçãos de Deus.
Segundo a sua tradição, a Igreja venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como as suas imagens. É que as festas dos Santos proclamam as grandes obras de Cristo nos Seus servos e oferecem aos fiéis os bons exemplos a imitar» (Constituição Litúrgica, 104.111).

A festa dos nossos irmãos que chegaram à casa do Pai
Iniciamos o mês de Novembro com a solenidade de Todos os Santos. O nosso coração e pensamento voltam-se para os milhões de homens e mulheres que, ao longo da história, foram agraciados por Deus e aceitaram o Seu dom. Paulo Tillich dizia que «um santo é um pecador de quem Deus teve misericórdia». Estamos celebrando, pois, a vida de seres humanos curados e salvos pela misericórdia de Deus. Não é um dia reservado para os heróis ou para uma elite que não tem nada a ver com nossas preocupações e alegrias. É a festa dos nossos irmãos e irmãs que chegaram à casa do Pai! E até é bom e salutar recordar neste dia que a maior parte dos nossos nomes tiveram a sua origem em algum santo: José, António, Francisco, Catarina, Teresa, Xavier, Isabel. A festa, pois, está caracterizada pela alegria e pelo agradecimento.

As bem-aventuranças, uma explosão de alegria
É desta alegria que nos fala o Evangelho de hoje quando Jesus proclama verdadeiramente felizes aqueles que seguem e vivem o programa das Bem-aventuranças.
Poderia haver a tentação de ler as Bem-aventuranças, esses diversos caminhos que conduzem à autêntica felicidade, como se fossem apenas pautas para um comportamento novo e diferente. Assim as entendeu Gandhi, por exemplo. Segundo isto, o discípulo deve confiar totalmente em Deus (pobre de espírito), deve partilhar o sofrimento alheio (os que choram), deve tratar com serenidade os demais (ser manso), etc.
No entanto, no seu sentido original, estes ditos de Jesus não constituem normas morais, por mais sublimes que pareçam, mas explosões de alegria pelos efeitos que a iminência do Reino de Deus produz. O acento não recai no «ter que» ser pobres ou tristes ou famintos para ser feliz. A verdadeira boa-nova – e, portanto, motivo da felicidade – é que todos os que não têm um advogado de defesa (os pobres, os humildes, etc..) são bem-aventurados porque Deus decidiu ser um verdadeiro rei para eles. A expressão «porque deles é o reino dos céus» – utilizada por Mateus em algumas ocasiões – é um eufemismo para expressar justamente isto: que Deus é rei dos pobres (ou seja, seu defensor).

Santos, felizes e eleitos
E a santidade consiste nisso mesmo: santo é um bem-aventurado, um homem ou uma mulher feliz. A santidade, antes de qualquer outra coisa, é uma experiência de participação da felicidade de Deus. Onde existe a experiência da graça existe sempre expressão de alegria («chára»).
Os cristãos, por vezes, são acusados de caminhar pela vida com ímpeto messiânico. Queremos salvar a todos: aos pobres, da sua pobreza; os pecadores, do seu pecado; os ateus, do seu ateísmo. Todavia, não existe esforço de salvação digno de crédito sem uma experiência gozosa de ter sidos salvos. Os esforços que não brotam de uma abundância de felicidade acabam por ser fruto do ressentimento ou da auto-suficiência. Não podem, pois, ser expressão do Evangelho, de boa-nova. Menos salvadores e mais gente salva! Menos lutadores e mais santos! Este parece ser o grito profético que ressoa num dia como o de hoje.
Falar de santos felizes não é falar de pessoas que não têm as mãos manchadas, que viveram sem problemas. Referimo-nos a milhões de mártires, virgens, confessores, profetas, pais e mães de família… que, perante fragilidades e problemas, tentações e adversidades, souberam aceitar a escolha de Deus.
Num precioso livro sobre a vida espiritual num mundo secular, H. Nouwen confessa que «a grande batalha espiritual começa – e nunca termina – por afirmar a nossa condição de eleitos. Muito antes que alguma pessoa nos falasse neste mundo, foi-nos dirigida a nós a voz do amor eterno. A nossa condição de seres valiosíssimos, únicos na nossa individualidade, não foi dada por aqueles com quem nos encontramos no tempo – o da nossa existência cronológica – mas pelo Deus uno que nos elegeu com o Seu amor terno, um amor que existiu desde toda a eternidade e durará para sempre». Esta é a mensagem da primeira carta de João que hoje precisamos colocar em primeiro plano.

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