Sábado da 11ª Semana do Tempo Comum (18 de junho de 2021) «Não vos preocupeis com o dia de amanhã»

CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA

 

  1. Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O texto evangélico de hoje é de grande beleza literária e abre com um dilema que é ponto de partida: “Ninguém pode estar ao serviço de dois senhores. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Mas o que dá unidade à passagem é a recomendação que Jesus repete insistentemente: Não vos angustieis. Esta é a solução do dilema apresentado na entrada: abandonar-se à providência amorosa de Deus. Ideia que Jesus realça com duas belas imagens da natureza: Se as aves e os lírios do campo são objeto do cuidado de Deus, que provê gratuitamente a sua manutenção diária, quanto mais o será o homem, que vale muito mais.

“Não vos preocupeis com a vida, o alimento e o vestuário”. Quatro vezes se exclui no texto a preocupação angustiosa pelo sustento diário. O aviso dirige-se tanto ao rico a quem sobra, mas que pode ser escravo da obsessão do ter e gastar, como ao pobre a quem falta e que igualmente pode ser avassalado pela psicose de penúria. O nosso Pai do céu já sabe que temos necessidade de tudo isso. Deus é Pai e é mãe; ou melhor, não tem sexo. Mas dado que ao homem há que falar-lhe de modo humano, a imagem do pai é a mais usual na Bíblica, especialmente no Novo Testamento; foi a que proferiu o próprio Jesus.

“Sobretudo procurai o reino de Deus e a sua justiça; o resto vos será dado por acréscimo”. Esta conclusão responde à atitude básica do cristão, seguidor de Cristo. Mediante a opção prioritária por Deus e o seu reinado na nossa vida e no mundo, estabelecemos a hierarquia de valores querida por Jesus. Ele não diz procurai “unicamente”, mas “sobretudo”; com isso não exclui o resto, mas coloca-o no seu lugar apropriado. Cristo sabe muito bem que nós não somos aves nem lírios, e que necessitamos de ganhar a vida com diligência e trabalho, mas descobrindo a cada passo a providência amorosa de Deus e confiando-nos totalmente ao Pai, sem angústia obsessiva pela aquisição de coisas para a manutenção quotidiana.

 

  1. A Deus rogando e coim o maço dando. A algumas pessoas a linguagem de Jesus no evangelho de hoje pode parecer-lhes de um excessivo romantismo, pouco realista e próprio de um sonhador ébrio de poesia, trinos e flores. Contudo, Cristo nunca falou como um sonhador, tão pouco hoje, embora seja evidente que a hierarquia de valores que estabelece choca frontalmente com a sabedoria dos nossos “sensatos” e tacanhos critérios.

A atitude do crente face ao dinheiro e aos bens materiais, isto é, o empenho que Jesus assinala para o que o segue, põe à prova a nossa fé e confiança em Deus. O dinheiro significa segurança e uma garantia económica muito de acordo com a nossa psicologia. Temos fome de seguranças de todo o tipo, também espirituais; por isso a psicose de segurança corre a par da de ter e possuir.

Não obstante, uma obsessão de segurança total choca com a fé; esta será sempre risco, aventura e atitude de peregrino em marcha pela vida. O que faz com que não estejamos a salvo dos imprevistos de uma insegurança temporal, embora compensada amplamente por uma garantia superior de outro tipo. A confiança e o abandono nas mãos de Deus que Jesus hoje nos pede é fé n’Aquele a quem servimos por amor e por quem nos sentimos amados. Deus sabe muito bem que necessitamos de muitas coisas para a subsistência de cada dia, que se fundamenta no dinheiro e nos bens que com ele se adquirem. Por isso Jesus nos ensinou a rezar: Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia.

Esta confiança em Deus não é alienante, isto é, não nos exime da nossa responsabilidade nas tarefas temporais, não nos permite dormir a sesta nem desinteressar-nos do nosso compromisso cristão no mundo. Já o diz o adágio: A Deus rogando e com o maço dando. Esse é o espírito da parábola dos talentos. A procura do Reino não exclui o desenvolvimento humano e temporal, antes o está pedindo. O homem é o colaborador da obra de Deus no mundo, cujo recursos têm destinatário universal: toda a pessoa de qualquer raça, credo e cultura.

Hoje devemos fazer um exame pessoal e comunitário, orientado para a conversão de atitudes, mentalidade e conduta de acordo com os critérios e exemplo de Jesus. Qual é o deus a quem prestamos culto? É urgente uma opção ao dilema inicial: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro. A proposta de Cristo é clara: Livres da angústia existencial e da febre possessiva, procuremos antes de tudo o reino de Deus e a sua justiça; o resto  ser-nos-á dado por acréscimo.

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