PROCURAR CONHECER A DEUS

Nos nossos dias, em relação a Deus, há quem afirme não acreditar nele (ateus), quem diga que o desconhece (agnósticos), quem manifeste a crença nele (crentes) e ainda quem proclame uma fé de excessiva segurança (fanáticos). A todos pode bem servir esta exortação de Oseias, que escutámos na liturgia de hoje (cf Os 6, 3-6): “Procuremos conhecer o Senhor”. O profeta afirma que a vinda de Deus “é certa como a aurora” e virá como “aguaceiro de outono” e “como a chuva da primavera sobre a face da terra”. Denuncia que o amor do povo para com Deus “é como o nevoeiro da manhã, como o orvalho da madrugada que logo se evapora”. Não será assim a fé e a religiosidade de muitas pessoas no tempo presente? Oseias contesta uma religiosidade focada nos sacrifícios e na oferta de vítimas queimadas pelo fogo. Não é o tipo de culto que mais agrada a Deus. O que realmente quer é a prática da misericórdia e a busca do conhecimento, ou seja, fazer caminho e estabelecer uma relação pessoal com Deus.
Como podemos progredir no conhecimento de Deus? A leitura e meditação da sua palavra é importante. Os livros que falam dele e o estudo ajudam. O mais importante, porém, é buscá-lo através da experiência pessoal e do testemunho de quem a vive e orienta a própria vida segundo Deus. Os textos bíblicos da liturgia apresentava-nos hoje a figura de Mateus e o seu encontro inesperado com Jesus (Mt 9-9-13) e a de Abraão, que esperou “contra toda a esperança”, acreditou e tornou-se “pai de muitos povos, como lhe tinha sido dito” (cf Rm 4,18-25).
Deus está presente em todo o lado, pelo que podemos descobrir sinais dele, pressentir a sua ação, admirar as obras da sua criação e intuir a sua companhia e ajuda nas variadas situações e circunstâncias da vida, mesmo nas mais dramáticas trágicas. É na experiência pessoal e comunitária, através do coração e do amor, que podemos conhecer verdadeiramente a Deus, como Jesus ensina no Evangelho. Deus enche de si a nossa alma, dá-nos confiança, entusiasmo, amor, compaixão e força para a vida e para a convivência e cooperação com os outros. O refrão do salmo responsorial, hoje, prometia: “A quem procede retamente farei ver a salvação de Deus”. Uma vida reta, honesta, generosa, comprometida e livre é caminho que nos leva a Deus, que havemos de encontrar em algum momento do nosso percurso.
Etty Hillesum (1914-1943), jovem judia morta num campo de concentração nazi, é testemunha e exemplo admirável de busca e encontro com Deus. O seu “Diário” e as cartas documentam a riqueza interior e a luz que a habitava e constituía a força e o motivo para a sua vida e atividade: “Dentro de mim, há um poço fundíssimo. Lá dentro está Deus. Às vezes consigo lá chegar. Mas o mais frequente é o poço estar cheio de pedra e cascalho e Deus soterrado. Então é preciso desenterrá-l’O”.� Efetivamente, encontra o modo de viver uma estreita relação pessoal com Deus mediante a meditação, o voltar-se “para dentro, submergir-se” e a oração, como esta: “Meu Deus, pega-me pela mão. (…) Gosto de me sentir abrigada e segura, mas se for deixada ao relento, aceitá-lo-ei, se for a Tua mão que me deixar. Hei-de acompanhar-Te sempre guiada pela Tua mão e tentarei não ter medo”. Com espantosa lucidez, defende Deus quanto à responsabilidade pelo campo de ódio, opressão e infâmia: “Não é Deus que nos deve explicações. Nós é que lhas devemos a Ele. Sei o que ainda nos pode esperar. Deus não nos deve explicações pelas coisas sem sentido que fazemos. Somos nós quem tem que dar explicações”. Deus está mais próximo de nós do que possamos pensar. Precisamos é de lhe prestar atenção e abrir os olhos do coração para estarmos com ele.
 
 
Autor: Pe. José Guarda, Diocese de Leiria-Fátima
  Fonte:  https://www.facebook.com/jmfguarda

Check Also

Tens de vencer o teu orgulho

O orgulho é um erro que faz parte da nossa natureza, sendo que me é …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.