Periferias

O Papa Francisco colocou no palco principal dos debates sobre a missão da Igreja Católica na atualidade o tema das periferias. São recorrentes os apelos à “saída” para junto das “periferias existenciais e geográficas” e, no documento programático para este pontificado, a Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, Francisco refere-se em nove ocasiões à(s) “periferia(s)”. O Papa centra nesse imperativo missionário a principal atitude de quem é hoje portador da “luz do Evangelho”.

O escrutínio sobre o que já é passado comprova reiteradamente que opções prioritárias pelo que aparentemente é marginal consolida o percurso e a ação de pessoas e instituições. Estão aí os principais capítulos das suas histórias, escritos com ousadia, desinstalação e determinação no romper com comportamentos acomodados. Mas a produzir rapidamente efeitos positivos. Para quem os inaugura e no ambiente onde acontecem.

O tema pode emergir, no contexto atual, como resposta verbal a um desafio do Papa Francisco, referenciado com frequência, citado e até aplaudido.

Mas menos, muito menos, serão as circunstâncias em que o vemos a acontecer, refugiados muitas vezes na dificuldade em descobrir as circunstâncias em que podem ser o vetor principal de um projeto pessoal ou institucional. Bastará dar o primeiro passo e nunca olhar situações inesperadas como o limite, mas o limiar.

A História ensina que a atitude agora lembrada pelo Papa Francisco está na origem de muitos feitos. Foi “em saída” que se conheceram novos mundo, se construíram projetos inovadores e aconteceu o melhor que o mundo tem!

As comemorações dos cinco séculos da criação da Diocese do Funchal e a realização do Congresso “A Primeira Diocese Global” estão a ser uma ocasião para novos encontros com a realidade madeirense, nomeadamente a que documentam o alcance do que aparentemente pode parecer periférico.

A Madeira foi ponto de passagem de navegadores e comerciantes para novos mundos. Por lá passou a primeira globalização, em latitudes de rotas mercantis e sobretudo de transmissão de experiências humanas e de valores pelas vagas dos oceanos.

Criada em 1514, a diocese do Funchal deixou para a História a primeira experiência de organização das comunidades crentes nos territórios “descobertos e a descobrir”, tendo por sede uma ilha situada no meio do Atlântico e que se estendia, dessa forma, até à América Latina, África e Ásia.

Aparentemente periférico, o Arquipélago da Madeira tornou-se o centro. E assim acontece, outrora como hoje, cada vez que uma porção de terra, nestas ou noutras ilhas, é bastante para ser ponto de partida para outras periferias. Porque estar rodeado pelo mar ou chegar à ponta de uma ilha não é o limite, mas o limiar…

Paulo Rocha

Agência Ecclesia

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