Missão: o que o amor não pode calar!

  1. Que é o amor? Este conceito universal, tem sempre a ver com afinidades, sentimentos que se traduzem em afectos e cujos resultados são uma série de atitudes, experiências e acções. Nelas se exprime aquela essencial diferenciação com o egoísmo: enquanto este procura a posse da outra parte, sem nada ter para lhe oferecer, o amor assenta na compaixão e produz gestos altruístas e de serviço.
  2. É o amor, compassivo e altruísta, quem gera e produz os actos mais intensos e mais nobres, até à heroicidade ou até ao martírio. A dedicação ao outro, individual ou colectivo, faz parte da natureza dialogal profunda da pessoa. E faz-se responsabilidade: desde a mais básica filantropia até à suprema abnegação ao serviço dos outros, actua-se sempre aquele traço constitutivo da natureza humana que leva a pessoa a responsabilizar-se pelas carências do «próximo» e a tentar resolvê-las como se fossem suas.
  3. Ora, a grande carência do nosso tempo é a religiosa: sem fé e fé verdadeira, o homem despoja-se do seu real valor, a verdade confunde-se com o apetite e o mundo torna-se pobre e indigente, pois jamais se conseguirá apagar a fome de Deus. As pessoas e maneira do pensar do mundo podem não saber isso. Mas, depois, sentem-lhe os efeitos: se a pessoa não é “imagem e semelhança de Deus”, qual a diferença entre ela e os animais? Porque nos preocuparmos com os que passam fome, não dispõem de estruturas de saúde, não sabem o que é uma escola, são refugiados ou tentam atravessar o Mediterrâneo para virem apanhar as migalhas que caem da nossa mesa abastada?
  4. A grande «periferia» do nosso tempo, para usar a feliz expressão do Papa Francisco, é constituída pelos muitíssimos que não conhecem Deus ou põem a sua esperança num «simulacro de Deus». Uns estão longe, para além do mar. Mas outros estão bem perto de nós: são nossos concidadãos. Para os primeiros, que nunca ouviram falar de Cristo, receber o que desconhecem. Mas os nossos vizinhos julgam «ter o rei na barriga»: imaginam que sabem tudo de tudo e que não precisam de mais nada. Recusam, por isso, ouvir a Palavra da Eterna Novidade e acolhem-se à sombra do pior inimigo da fé: a ignorância. Sim, a ignorância religiosa é o manto grosseiro com que a nossa Europa se está a cobrir.
  5. Eis a razão pela qual se torna cada vez mais imperceptível a fronteira entre aquilo que antigamente designávamos por «missão ad gentes», ou para o exterior, e a «missão ad intra», a recuperação de tantos cristãos, somente de nome, nas Igrejas de velha cristandade. Temos de nos dar às duas. Mas que esta não ceda ao perigo de tentar absorver aquela. É um risco, de facto, imaginarmos que, devido à falta de recursos, teremos de nos concentrar e acudir somente às nossas dificuldades internas.
  6. Felizmente, há homens e mulheres absolutamente extraordinários que fazem da sua vida um hino de amor e, como dizia acima, dão-se completamente, entregando a sua vida à causa de Deus e dos irmãos. Lá fora e aqui dentro. São eles quem, na liberdade, procura reorientar vidas na direcção do grande horizonte do sentido: Deus. São os missionários. Para eles, o testemunho da minha imensa admiração. E a certeza de que precisamos de todos eles e de muitos mais. Quem quer ser como eles?

+ Manuel Linda

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