CAMINHAR EM TEMPO COMUM

A vida da maioria dos Discípulos do Senhor, na realidade, decorre em clima de tempo comum, sem nada de extraordinário que mereça a atenção dos Meios de Comunicação Social. Haveria, sem dúvida, muitas coisas belas a contemplar no quotidiano. Mas, ao grande público, interessa o que salta fora da normalidade, mesmo quando de maldades e crimes se trate.

O  trabalho, a vida de família, o convívio diário nada têm de especial, se não formos capazes de captar o amor heróico e perseverante, que muitas vezes os reveste por dentro.

E, no entanto, o Tempo Comum é cheio de riqueza e significado para o fiel seguidor do Evangelho.

UMA CHAMADA À ESPERANÇA. Lembra-nos com insistência esta virtude a cor verde dos paramentos. É a virtude de todo aquele que se lança a caminhar . Fá-lo porque tem esperança de chegar à meta.

Ao longo do caminho, é também esta a cor dos campos, montes e árvores que mais frequentemente o acompanham.

Caminhar significa, em cada passo, em cada gesto, um acenar da esperança de chegar ao fim almejado. Não faria sentido caminhar sem destino, sem uma finalidade. Os que assim fazem, ou se perdem, ou voltam desanimados, ao ponto de partida. Não é por acaso que o andar à deriva se exprime também em português pela palavra «errar», ou «andar errante».

SANTIDADE E VIDA COMUM OU ORDINÁRIA. Somos chamados a realizar a vocação à santidade que recebemos no Batismo, não com ações extraordinárias ou gestos teatrais que chamem a atenção dos outros, mas na grandeza do silêncio quotidiano.

O próprio Senhor recomenda-nos que nos coloquemos humildemente diante do olhar do Pai do Céu, no silêncio do nosso quarto, quando dermos esmola, quando jejuarmos ou fizermos oração.

A maior parte dos cristãos, à imitação da Sagrada Família de Nazaré, passa pela vida em bicos de pés, realizando o trabalho, a vida de família e de lazer sem despertar a atenção, nem sobressair diante dos outros.

É uma vida comum, ordinária, no melhor dos sentidos.  Todo o seu valor é recebido do amor com que ilumina esses passos, palavras e gestos. «O bem não faz ruído, e o ruído não faz bem».

Corremos o risco de tomar nas mãos a biografia de um santo, preocupando-nos exclusivamente com encontrar factos extraordinários, chamativos da nossa atenção, deixando de a fixar naquilo que é essencial: o amor com que souberam enriquecer as coisas pequenas de cada dia.

ALERTA PERMANENTE À VIGILANCIA. Deixamo-nos absorver pelas caseiras diárias, com a maior das facilidades.

Tudo isto pode e deve ser integrado no nosso plano de santificação. Mas nós tendemos a deixar monopolizar a nossa atenção para um ponto secundário da paisagem, esquecendo o conjunto.

Para que isto não aconteça, temos a advertência do Senhor: Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o Senhor.

À medida que o Tempo Comum se aproxima do seu termo, a liturgia vai-nos convidando a levantar o nosso olhar para o horizonte largo temos diante de nós, recordando-nos que a vida na terra acabará necessariamente, para dar lugar a outra forma de viver imensamente superior: «A vida não acaba, mas apenas se transforma. E desfeita esta morada terrestre outra imortal se adquire nos céus».

UMA TAREFA PARA CADA DIA. A iluminação da Palavra de Deus que vamos recebendo em cada Domingo vai-nos recordando que o Senhor, como o melhor dos pais, não se contenta com a nossa mediocridade, mas quer-nos santos de altar.

Se, porém, nos apontasse de uma só vez todos os defeitos que temos de corrigir e as virtudes que é necessário cultivar, talvez morrêssemos de susto.

Mas, tal como o pai de  uma criança que está a ensiná-la a construir um brinquedo, lhe aponta uma pequena tarefa de cada vez, porque a limitação de inteligência do filho não abarca mais, assim, ao longo do Tempo Comum, a Palavra de Deus vai-nos apontando pormenores concretos que é necessário retocar, pequenas pinceladas, para que o quadro da nossa vida fique completo.

Deste modo, se  formos fiéis, ao fim da nossa vida, guiados pelo Espírito Santo, apresentaremos ao Senhor um quadro belo.

Viver bem em Tempo Comum é, de facto, muito importante, a tal ponto que tem ressonâncias de eternidade.

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