8 de setembro de 2016 – Festa da Natividade de Nossa Senhora

A festa da Natividade da Virgem Santa Maria tem provavelmente a sua origem  em meados do século V, na cidade de Jerusalém. Há, junto às ruínas da Piscina Probática, a igreja de santa Ana, construída sobre uma casa onde, segundo a tradição, terá vindo à luz deste mundo a Mãe de Deus e na qual se venera uma imagem da Virgem Menina.

Se o nascimento duma criança é saudado com júbilo, o de Maria foi-o imensamente mais, porque é como o clarão da madrugada que anuncia o nascer do Sol divino, do Redentor, que iluminará todas as nações.

A Natividade de Maria é, pois, a consoladora promessa de que a Redenção é generosamente oferecida por Deus a todos nós.

À generosidade do Senhor, que nos dá tão claros felizes sinais de que se aproxima a hora do nosso resgate, havemos de corresponder com o reconhecimento da nossa condição de pecadores, com o arrependimento e desejo sincero e operativo de emenda.

  1. Maria, clarão da alvorada da Redenção

A Natividade de Nossa Senhora celebra-se com justificada alegria, porque o primeiro sinal claro de que está próxima a hora do nascimento do Salvador. «Hoje é o começo da salvação do mundo, porque na Santa Probática foi-nos gerada a Mãe de Deus através de quem o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, nos foi gerado» (S. João Damasceno, Homilia sobre a Natividade de Maria, 6 PG 96).

Deus prometeu um Redentor aos nossos primeiros pais, dissipando a noite cerrada e tenebrosa que se abateu sobre a terra, como consequência do pecado. Se por uma mulher – Eva – entrou a acção de Satanás no mundo. Uma outra Mulher inaugurará uma nova humanidade, ao conceber e dar à luz o Redentor.

O Senhor manteve acesa a luz desta esperança, pelos Patriarcas e Profetas, na vida do Povo de Deus.

Com a Natividade de Maria, chegou a hora de Deus e as maravilhas começaram a acontecer.

  1. a) Deus elegeu Maria, desde toda a eternidade. Referindo-se à escolha de Belém para lugar do nascimento de Jesus, o profeta Miqueias anuncia: «As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos».

Antes de escolher o lugar do nascimento, Deus escolheu, logicamente, Aquela que daria à luz o Filho de Deus. A expressão hebraica usada pelo profeta parece aludir à designação duma origem anterior ao tempo, portanto, eterna e divina.

Manifesta aos homens esta eleição, quando envia o Seu Embaixador – o Arcanjo S. Gabriel – para receber d’Ela a aceitação do Seu projecto de Salvação.

  1. b) Mãe do Redentor. «Por isso, Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há-de ser mãe». Este abandono de Deus é apenas aparente. Espera apenas a hora própria para exercer a Sua misericórdia.

O mesmo Senhor pergunta: «Pode, acaso, uma mãe esquecer o próprio filhinho, não se enternecer pelo filho das suas entranhas? Pois bem; ainda que tais mulheres dele se esqueçam, eu, porém, não me esquecerei de ti». (Is 49, 15).

O Senhor preparou a humanidade no decurso do tempo que viu como necessário, para desencadear no mundo esta revolução de Amor.

O nascimento de Maria Santíssima, Mãe do Redentor, significa que chegou a hora das maravilhas que Ele quer operar no mundo.

  1. c) Mãe da unidade dos povos. «Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos

O pecado causou feridas profundas e dolorosas nos homens. Uma vez cometido o pecado, são imprevisíveis as suas consequências.

Ele fere-nos naquilo que é essencial da nossa vocação cristã. Chamados à vida em comunhão com Deus e com os irmãos, nesta vida e na futura, encontramos, como consequência da ofensa a Deus a divisão, fruto da falta de Amor.

O nascimento de Maria é o primeiro gesto visível  de Deus com que desencadeia esta revolução de Amor. Um dos seus frutos imediatos será, com certeza, a unidade, como fruto do amor.

Não são as mães da terra o sinal e instrumento de unidade e comunhão dos filhos consigo mesma e entre eles?

  1. d) Nossa paz. «Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz.» Maria aproxima-nos de Jesus. Por isso, recuperamos a paz e a alegria quando deixamos que Ela nos tome em seus braços. Basta, por vezes, um pouco de oração, num filial desabafo com Ela, para nos sentirmos mudados. Que o digam tantas pessoas que visitam um santuário mariano.

Dificilmente encontraremos um quadro mais belo do que o de uma criança adormecida placidamente nos braços da mãe, num abandono confiante.

Maria foi-nos dada como Mãe para que vivamos neste mesmo abandono que tem como primeiro fruto a paz.

  1. Maria, a maior bênção de Deus, depois de Jesus

Depois de Jesus, que se torna membro da família humana, pelo mistério da Redenção, Maria Santíssima é a maior bênção de Deus para todos nós.

  1. a) Membro eminente da família humana. Os hebreus guardavam cuidadosamente a própria geneanologia – a linha dos seus ascendentes –, quer para saberem a que tribo pertenciam (cada filho de Jacob – Israel – à excepção de José, deu origem a uma –, quer porque Deus tinha prometido que o Messias havia de nascer do Povo de Deus, e era necessário manter uma atenção permanente nesta espera.

A linhagem era feita pelo nome dos homens, excepto quando algum tivesse filhos de várias mulheres. Tais foram os casos de Faré, de Zara; Salmon, de Raab; Booz, de Rute; e David, de Betsabé, mulher de Urias.

Na genealogia de Jesus de S. Mateus, José aparece para garantir legalmente que era descendente de David. Mas, de facto, a verdadeira ascendência vem-Lhe através de Maria.

  1. Mateus usa uma forma engenhosa para nos insinuar a conceição virginal de Jesus por Maria: «José, Esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo». Na continuação, apresenta o testemunho do santo Patriarca sobre a virgindade perpétua de Nossa Senhora: Maria não concebeu o Filho pelo concurso de um homem, mas pelo poder do espírito Santo.
  1. b) Maria muda o rumo da história da humanidade. Houve, na História Sagrada, várias mulheres que mudaram o rumo dos acontecimentos. A primeira foi Eva (cf. Gen 3, 1 e ss). Introduziu no mundo o reino de Satanás, com todas as tristes consequências; Rebeca logrou que o direito de primogenitura recaísse em Jacob (Israel) e não sobre Esaú. Os dois eram gémeos, mas este tinha nascido em primeiro lugar. A mãe foi instrumento de Deus para que a Isaac sucedesse o de melhores sentimentos(cf. Gen 25, 16 e ss). Ester, com a oração e audácia, salva o Povo de Deus de morrer exterminado, durante o cativeiro de Babilónia (Estar, 4-6), Judite salva a cidade de Betúlia de ser exterminada por Holofernes, general de Nabucodonosor (cf. Judite 7-9).

Maria, a nova Eva, abre, com o seu fiat, as portas à entrada de Deus no mundo, para nos resgatar do pecado e encher de todas as bênçãos em Cristo. Pela sua intervenção, o Senhor ajudou radicalmente o rumo da história do mundo. «Em vez do fruto da árvore da morte, Ela apresenta aos homens o pão da vida; substitui aquele alimento amargo e envenenado pela doçura dum alimento eterno.» (S. Bernardo, Louvores da Virgem Maria, hom. II).

Há, pois, motivo para que todo o universo exulte de alegria com o seu nascimento: Ela é o clarão da madrugada que anuncia o Sol nascente que iluminará «os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos nos caminhos da paz.» (Lc  1, 79).

  1. c) Ela mudará o rumo da nossa vida. Maria congrega em si as duas vocações possíveis de um ser humano. Radicalmente, todos estão chamados a colaborar na obra de Deus sobre a terra, pela paternidade ou maternidade. Ambas contribuem para completar o mundo criado. Uns são chamados a vivê-la no caminho do matrimónio; outros, pelo da castidade virginal, por amor do Reino dos Céus. Maria reúne si – como privilégio único, as duas vocações possíveis: é sempre Virgem e Mãe.

Maria nasceu para ser a Mãe do Redentor e, portanto, para alcançar a felicidade de cada um de nós.

«Hoje a Liturgia recorda a Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria. Esta festa, muito sentida pela piedade popular, leva-nos a admirar em Maria Menina a aurora puríssima de Redenção. Contemplamos uma menina como todas as outras, e ao mesmo tempo única, a ‘bendita entre as mulheres’ (L–c 1, 42). Maria é a Imaculada ‘filha de Sião’, destinada a tornar-se a Mãe do Messias.» (João Paulo II, em 8-IX.2004).

Tem por vocação – por ser Mãe de Jesus – ser Mãe também de cada um de nós. É como a melhor das Mães que havemos de A contemplar, desde o instante do seu nascimento.

Ela vencerá o nosso Inimigo, também pela fidelidade ao Senhor de cada um de nós.

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