27 de março de 2022 – 4º Domingo da Quaresma – Ano C

Qualquer pessoa, com alguma inteligência, se interroga sobre o sentido da nossa vida presente.

Testemunha todos os dias que nascem e morrem pessoas; as que vivem não chegam a realizar aqui na terra os sonhos de felicidade; aparentemente, os que atropelam as leis e os seus semelhantes alcançam sucesso, ao passo que os que tratam a vida com seriedade são marginalizados.

Perante estas realidades desconcertantes, perguntam a si mesmas, no íntimo: a vida presente é definitiva, de modo que tudo acabe aqui? Ou caminhamos para outra?

É precisamente esta interrogação que a Quaresma nos propõe constantemente na Liturgia da Palavra de cada Domingo.

 

1. A nossa Terra da Promissão

O Baptismo, libertação do opróbrio. «Naqueles dias, disse o Senhor a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egipto». Os filhos de Israel acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó

A história do Povo de Deus é uma figura da nossa caminhada pelo mundo até à Pátria definitiva.

Saímos da escravidão do pecado e passamos através das águas do Baptismo para a longa caminhada que nos há-de levar ao Céu.  Nela encontramos tentações contra a confiança em Deus, fome, sede e muitas outras dificuldades.

Entraremos um dia na Terra Prometida, no Céu, onde viveremos para sempre na mesma felicidade do nosso Deus.

Finalmente, Deus cumpriu a promessa feita aos Patriarcas e aos Profetas da Antiga Lei. Prometera a Abraão que daria aquela terra aos seus descendentes. Jacob partiu para o Egipto com as 70 pessoas da sua família, com fé no regresso à sua terra.

No coração da Aliança de Amor que fizemos com Deus, pelo nosso Baptismo, está esta mesma promessa: somos filhos de Deus e iremos viver eternamente para a Casa do Pai que é o Paraíso.

Fazemos parte de uma grande família, em crescimento contínuo: a Igreja, novo Povo de Deus que está na terra a militar, a purificar-se no Purgatório e na felicidade do Paraíso, contemplando a Deus face a face.

Nascemos, porém, marcados pela mancha original e privação da graça santificante e da filiação divina. Não tínhamos possibilidade de entrar manchados no Céu. Estávamos marcados com o selo da morte. Era o nosso opróbrio.

Deus libertou-nos dele, lavando na fonte baptismal a mancha do pecado original e infundindo em nós a graça santificante, a vida divina de Cristo ressuscitado.

Nesta Quaresma, convida-nos a renovar a graça baptismal por uma confissão profunda e contrita, fugindo da rotina que é inimiga do verdadeiro amor.

 

2. O Banquete da Salvação

A Parábola do filho pródigo ajuda-nos a tomar consciências dos passos que temos dado na vida espiritual.

A Confissão custa-nos, porque somos soberbos — não gostamos de tomar consciência de que falhamos — e falta-nos o amor de Deus.

Para nos ajudar a compreender o tesouro da confissão sacramental que nos faz recomeçar, Jesus conta-nos a Parábola do filho pródigo.

Somos os preferidos de Deus. «Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles”.»

A nossa experiência pessoal diz-nos que temos dificuldade em perdoar e, mesmo depois de o fazermos com os lábios, conservamos dentro de nós uma ferida que volta a sangrar com toda a facilidade.

A partir deste nosso modo de ser, formamos de Deus uma ideia semelhante. Achamos que os nossos pecados nos dificultam cada vez mais o regresso à Sua amizade.

Talvez por causa da dificuldade que sentimos, Jesus insiste muito na alegria de Deus em perdoar e no convite a que experimentemos também esta alegria de dar o perdão aos outros.

Acolhermo-nos à misericórdia de Deus. O Mestre divino conta as três parábolas da Misericórdia — da dracma perdida, da ovelha extraviada e do filho pródigo — e conclui: «tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’»

Como se explica esta alegria de Deus quando as pessoas se reconciliam com Ele, se nós somos precisamente o contrário e entendemos a reconciliação com quem nos ofendeu como um favor difícil?

Deus quer dilatar o nosso pobre coração para que se pareça com o Seu.

Aproximemo-nos da misericórdia de Deus com confiança. Não existe motivo para ter medo d’Ele ou estar de pé atrás, como quem desconfia sempre à espera do pior.

Deus não quer que tenhamos medo d’Ele, mas que o amemos. Só o amor leva à comunhão e esta é a nossa vocação eterna.

Rostos do Deus misericordioso. Usemos nós também de misericórdia para com os outros. Jesus conta-nos a Parábola do Bom Samaritano e diz, a concluir: “Vai e faz o mesmo.”

Censura o credor que é perdoado de uma grande soma e se recusa a perdoar uma insignificância que lhe deve um outro.

Check Also

Tens de vencer o teu orgulho

O orgulho é um erro que faz parte da nossa natureza, sendo que me é …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.