25 de março de 2019 – Solenidade da Anunciação do Senhor

A solenidade da Anunciação é o Dia D em que O Senhor desencadeou o processo do nosso resgate, concebido desde toda a eternidade e concretizado numa revolução e Amor.

O encontro do Verbo – Segunda Pessoa da Santíssima Trindade – com a nossa natureza humana dá-se no seio virginal de Maria. É o encontro da santidade infinita com a nossa pobreza, do Céu com a terra.

É uma aventura de Amor do nosso Deus, movido pela Sua infinita misericórdia para connosco.

A solenidade da Anunciação do Senhor foi marcada em relação com o Natal, nove meses antes da sua celebração.

Alegremo-nos, pois, pela magnanimidade de Deus que não hesitou em mergulhar no barro humano, para nos salvar.

1. A promessa de Deus

a) A Incarnação, sinal da bondade de Deus. «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas».

Perante os muitos problemas que ameaçam o seu reino, Acaz está hesitante e já não ousa pedir o auxílio do Senhor. O profeta Isaías garante-lhe que não será o seu filho Tabel – que não pertence à linhagem de David – a ocupar o trono e anima-o a pedir ao Senhor um sinal de que proporá contra com a protecção do Alto.

Acaz desculpa-se com falsa piedade, dizendo que não quer pôr Deus à prova, mas a realidade é que já não crê, nem confia nem espera no Senhor.

Então Isaías avança com a promessa de um sinal de Deus: não só não acabará a Casa de David, mas uma virgem descendente deste rei conceberá e dará à luz um filho que ocupará o seu trono. A tradição interpretou sempre esta profecia como referente a Maria sempre Virgem.

Encontramo-nos muitas vezes também desanimados, pensando que não temos em quem nos apoiarmos. O mistério da Incarnação do verbo é o maior sinal de que Deus nos ama e podemos contra sempre com Ele.

Perante a atitude do rei Acaz e a resposta que vem do Alto, devemos perguntar. De que espécie é a nossa confiança? Desejamos a santidade de Deus, ou preferimos continuar uma vida tibia, sem entusiasmo por Deus?

b) O Messias, filho da sempre Virgem Maria. «o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será ‘Emanuel’»

A virgindade perpétua de Maria insinuada neste texto — uma virgem conceberá e (uma virgem) dará à luz é o grande sinal da benevolência de Deus para com o Seu Povo.

Pela virgindade perpétua de Maria, O Senhor alcança a vitória sobre a concupiscência da carne. Vencerá depois a concupiscência dos olhos na lapa de Belém; e sobre a soberba da vida, pela humildade de uma criança indefesa. Deste modo abre ao homem o caminho da liberdade e da vitória sobre a tríplice concupiscência herdade do pecado original.

Trata-se de um sinal miraculoso. Esta concepção virginal – Maria será Mãe de Jesus sem o concurso de qualquer homem – não tem explicação humana.

Com a virgindade de Maria, o Senhor levantará uma nova bandeira nas hostes do povo de Deus. Em Israel a virgindade não era apreciada, praticamente, não existia. A fecundidade era considerada uma bênção de Deus – e a esterilidade uma maldição – e a expectativa de que qualquer podia ser a mãe do Messias ou, pelo menos, uma das suas antepassadas. Perante esta mentalidade não havia espaço para outro caminho.

Dá a impressão de que o Senhor gosta de escolher sempre o caminho mais difícil, aquele que parece impossível aos homens.

No seguimento do exemplo de Maria, uma multidão inumerável de virgens há-de encontrar o seu caminho na vida da Igreja.

c) A vontade do Pai, caminho da Redenção. «Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui;[…]Euvenho, meu Deus, para fazer a tua vontade’».

O autor da Carta aos Hebreus desvenda-nos um mistério profundo: Não se trata apenas de que o verbo se faz Homem, na fidelidade e docilidade à vontade do Pai, mas este será também o caminho de todos nós. Não será preocupação do cristão descobrir quais as coisas boas que há-de fazer na vida, mas recolher-se e descobrir qual a vontade de Deus a seu respeito, para logo a pôr em prática.

Deus quer desfazer um equívoco perigoso para nós. Confundimos fazer coisas boas com a fazer a vontade de Deus. Ora, a verdade é que uma coisa usualmente considerada boa, quando impede o que Deus quer, torna-se moralmente má. (Rezar o Terço é bom. Mas se uma pessoa, em vez de ir à missa dominical, prefere ir para outro lugar rezar o Terço, desobedece ao Senhor).

Temos a preocupação de perguntar ao Senhor, nas encruzilhadas da vida, em momentos de hesitação, qual a Sua vontade a nosso respeito?

Pode ajudar-nos a viver em oração continua a renovação deste desejo em muitos momentos da nossa vida.

2. Deus cumpre a promessa

a) Maria, Mãe de Jesus. «O nome da Virgem era Maria.»

S. Lucas tem o cuidado de identificar perfeitamente Nossa Senhora. Não é uma figura lendária, mas uma pessoal que marcou presença na história dos homens. Diz-nos:

– Qual a terra em que vivia: Nazaré da província da Galileia.

– O nome do seu noivo com quem comprometeu a sua vida é José, da linhagem de David.

– O nome desta Mulher singular: Maria. Trata-se de uma transcrição em grego do Maryam, ou Miriam que em hebraico significa «contumácia» ou «rebelião»; a origem é incerta, mas pode ter sido originalmente um nome egípcio, provavelmente derivado de mry («amada») ou mr («amor»), no sentido de «senhora amada».

O Arcanjo saúda-A como «Cheia de graça», imaculada, talvez a sugerir que Ele foi criada Imaculada em atenção à escolha que Deus fizera dela para Mãe do Redentor.

Quando no Antigo Testamento, Deus chama alguém a uma nova missão muda-lhe o nome: Abraão, Isaac, Jacob; Jesus muda o nome de Simão por Pedro, quando o chama para assumir a chefia da Igreja. Maria é a cheia de graça, como nome próprio. Até à consumação dos tempos, as pessoas hão-de repetir esta saudação à Mãe de Deus, com todo o carinho.

b) Verdadeira Mãe virginal. «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. […] Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus.»

Jesus, ao entrar no mundo, não passa por Ela como um estranho. Assumirá a carne da sua carne e sangue do seu sangue. Tudo quanto Jesus tem de humano, de Maria o recebeu.

Podemos dizer que Jesus é mais Filho de Maria do que qualquer outro ser humano o é de sua mãe. Com efeito, na origem de qualquer ser humano há um património materno e paterno; mas em Jesus, Maria tem a exclusividade da doação.

Fica bem clara a Conceição virginal de Maria. Ela desvenda-nos o mistério quando faz a pergunta ao Anjo, para saber com clareza o que Deus quer d’Ela: «Como será isto, se eu não conheço homem?». Este pergunta não se pode entender apenas com referência ao presente, mas com alcance futuro. Qualquer jovem poderia afirmar o mesmo quando manifesta a vontade de casar com o seu noivo.

Maria deixa claro que é seu propósito não conhecer nunca qualquer homem – neste caso, José.

Numa situação em que as duas propostas parecem irreconciliáveis – a virgindade e o casamento – a magnanimidade de Deus torna-as possíveis na maternidade de Maria. Somente Ela harmoniza em si a virgindade e a maternidade.

c) Mãe do Filho de Deus. «Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.»

Jesus será – chamar-se, na linguagem bíblica é o mesmo que ser – «Filho do Altíssimo O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». O Arcanjo fala a Maria numa linguagem a que Ela está habituada, pois encontra-a nas páginas do Antigo Testamento.

Quando Isabel A saúda como «a Mãe do meu Senhor», Maria não a desmente, mas canta o Magnificat.

A gravidez de Isabel em idade que naturalmente já não tem explicação é o sinal oferecido por Deus a garantir a autenticidade da embaixada.

Nas embaixadas do Antigo Testamento, há sempre:

– Uma mensagem com um conteúdo concreto. Gedeão ouve dizer: «O Senhor está contigo!»

– O chamamento a uma missão concreta: libertar o Povo de Deus da praga dos Madianitas.

– Um sinal a confirmar que é deus quem intervém: o velo de lã.

Em Maria há uma saudação, o chamamento a uma vocação concreta – Mãe de Jesus – e um sinal – a maternidade «fora de tempo» de Isabel.

Deus revela-lhe neste encontro o seu passado e o seu futuro. À luz desta mensagem todos os acontecimentos da sua vida ganham sentido. Começou a revolução do Amor lançada por Deus no mundo.

Sem o mistério da Anunciação não teríamos a Santíssima Eucaristia que estamos a celebrar, nem qualquer sacramento, sinal sensível da graça que produz. Continuaríamos a falar a um Deus distante, anónimo e quase incomunicável.

É, pois, com o coração imensamente agradecido – também a Nossa Senhora, pela sua admirável cooperação nos planos de Deus – que celebramos o mistério da Incarnação e nos propomos recordá-lo todos os dias ao rezar o Angelus.

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