22 de março de 2015 – 5º Domingo da Quaresma Ano B

Ao aproximar-se a celebração da Paixão e Morte do Senhor, na Liturgia deste 5º Domingo da Quaresma, Jesus é apresentado como o grão de trigo que cai na terra e morre para produzir muito fruto. Ele cai debaixo do peso da Cruz, e é com lágrimas que leva a cabo a nova aliança de Deus com a humanidade afundada no pecado. Elevado da terra na Cruz, Ele atrai-nos a Si, e aqui estamos a celebrar o mistério da nossa redenção que se torna presente neste altar.

– A aliança com Deus implica o perdão dos pecados, que nós obtemos no Sacramento da Reconciliação.

– A salvação pressupõe a obediência à custa de sacrifício, sacrifício a que o nosso Salvador não foi poupado

– Para viver com Cristo também é preciso enterrar o nosso eu e morrer para os vícios e pecados. A nossa glória também está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Quaresma encaminha-se para o seu termo e a Paixão do Senhor, cada vez mais próxima, vai mobilizando a atenção dos fiéis, aproveitando ao máximo o conteúdo doutrinal da Liturgia.

O tema da Aliança, na sequência dos domingos passados, volta à 1.ª leitura, hoje pela boca de Jeremias. Mas esta, diz-nos o profeta – será uma aliança «nova» diferente.

É para ser estabelecida após um perdão total dos pecados – «Hei-de perdoar-lhes os pecados e não mais recordarei as suas faltas!» – e comportará uma radical transformação interior. Os termos da Aliança já não serão impostos a partir de fora, de acontecimentos exteriores ao próprio homem. Não. Vão brotar-lhe do coração porque é lá, no seu íntimo que vai situar-se a fonte, a raiz e a plenitude da salvação transformadora: «Hei-de pôr-lhes a minha Lei no íntimo da alma e gravar-lha-ei no coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu Povo».

Mas esta «nova aliança» é constituída a partir do sangue derramado de Jesus Cristo, na morte sangrenta que plenamente aceita, fazendo depender deste sacrifício o nosso resgate, a nossa salvação. Enfim, estamos no núcleo do mistério pascal, do seu dinamismo: através da morte, a caminho da vida, pela Ressurreição.

E assim, na 2.ª leitura, o autor da Carta aos Hebreus lembra-nos toda esta realidade angustiosa e trágica da paixão do Senhor, ao dizer-nos que «nos dias da Sua vida mortal» dirigiu «preces e súplicas com um forte brado e com lágrimas» àquele que O podia livrar da morte. E o Filho aceita deliberadamente a vontade do Pai, «aprendendo, de quanto sofrera, o que é obedecer». Como Filho de Deus, não tinha necessidade alguma de enfrentar a morte nem de passar pelo sofrimento; aceitou porém uma coisa e outra, tornando-se assim «causa de salvação eterna» para todos aqueles que se Lhe juntam na obediência.

É este Cristo «obediente, sofredor, abandonado, atormentado, crucificado» que a Liturgia de hoje nos apresenta: este quinto domingo da Quaresma também é conhecido por «domingo da Paixão» e tradição, em muitas das nossas terras, marca-o com procissões dos «Passos» dolorosos do Senhor.

Mas – e voltamos à dinâmica do Mistério Pascal – a cruz do Gólgota, não é o fim. É o preâmbulo, é condição necessária; mas o fim é a vida, e a vida em abundância.

Com a leitura do Evangelho de hoje, aproximemo-nos do Senhor, que está em Jerusalém a preparar-se para a Festa. Juntemo-nos a um grupo de gregos que, para poderem ver Jesus, recorreu a Filipe e a André. Chegam, e que lhes diz o Senhor? Fala-lhes logo de glorificação. Mas, estranha glorificação esta! Ora ouçamos: «Em verdade vos digo; Se o grão de trigo cair na terra e não morrer, fica só ele; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem tem amor à vida, perde-a; e quem detesta a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a Vida eterna».

O Senhor sabe que a sua glorificação e a glorificação dos seus virá pela morte, comparada à do grão de trigo, condição para que germine em nova espiga.

Da sua morte nascerão o novo povo de Deus, que vai acolher gregos e judeus, homens de todas as raças e nações, todos chamados à Vida nova, à nova aliança no Seu sangue: «uma vez elevado da terra, atrairei todos a Mim».

E, apesar de toda esta perspetiva de triunfo, o Senhor não deixa de sentir o sofrimento: «Agora a minha alma está perturbada: E que hei-de dizer? Pai, salva-me desta hora?» Dias mais tarde – Getsémani –, dirá «A minha alma está numa tristeza de morte.»

Estas palavras mostram-nos a realidade crua da Paixão do Filho de Deus que, sendo verdadeiro homem, saboreou em toda a plenitude a amargura e aflição dos tormentos.

Mas, não recuou! Ele sabe que está no ponto-cume da Sua missão: «Por causa disto é que eu cheguei a esta hora!»

Neste domingo da paixão, do sofrimento, em que antes se celebrava o dia mundial do doente, dos nossos doentes, grãos de trigo que, como o Senhor vão morrendo a caminho duma vida sem limitações, saibamos assumir a nossa condição de sofredores, e encontrar na luz que nos vem da Paixão do Senhor a resposta a tantos e tão grandes problemas que o sofrimento sempre levanta.

Não caiamos, nem deixemos que ninguém caia no desespero.

A cruz, a de Cristo, e a nossa com Ele, é a véspera da Ressurreição!

 

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