16 de junho de 2023 – Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Celebramos, hoje, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, uma devoção profundamente enraizada no povo cristão. Nesta celebração contemplamos o Coração trespassado, símbolo da fé cristã, que expressa de forma sensível e autêntica a boa nova do amor misericordioso de Jesus. Imbuídos neste espírito e na celebração da jornada mundial de oração pela santificação dos sacerdotes, rezemos por eles para que “nada, absolutamente nada, anteponham ao amor de Cristo” (Regra de S. Bento, cap. 72).

 

Introdução

O Evangelho da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus recorda algumas verdades fundamentais sobre a nossa relação com Deus. Começa por nos recordar a importância da oração, revelando-nos alguns traços da espiritualidade de Cristo. Jesus reza ao Pai, louva o Pai pelo facto de os pequenos e humildes se abrirem à proposta do Reino. Diante de um Jesus em oração devemos parar e reflectir sobre a nossa vida de oração. Quando falamos em oração, a primeira coisa que nos vem à mente é o recitar certas fórmulas que aprendemos na nossa infância. Muitas vezes reduzimos a oração a um “papaguear” fórmulas sem qualquer incidência prática. O exemplo de Jesus deve levar-nos a fazer um exame de consciência sobre a nossa oração.

 

Porque rezar?

O primeiro ponto deste exame de consciência é o da necessidade da oração. Ninguém pode dispensar-se da oração. Ninguém pode dizer que não precisa de rezar. Na verdade, uma relação de amizade que não se alimente com o diálogo franco e íntimo com o passar do tempo vai esmorecendo até desaparecer totalmente. Todos nós temos dessas experiências. Quantas grandes amizades que tínhamos e que terminaram porque deixamos de alimentar essa relação com momentos de diálogo e de encontro. O facto de Jesus, o Filho de Deus, rezar várias vezes e por momentos prolongados impressionou tanto os discípulos que os evangelhos dão-nos a informação de que Jesus várias vezes se retirava sozinho em oração e levou os próprios discípulos a pedirem a Jesus que os ensinasse a rezar. O exemplo de Jesus em oração recorda-nos que todos nós temos a necessidade de rezar, que todos nós temos necessidade de alimentar a nossa relação com Deus, de matar a sede que em nós habita. E porquê esta necessidade? Porque “Santo, sem oração?!… – Não acredito nessa santidade” (S. Josemaria, Caminho, 107).

 

Como rezar?

O segundo ponto que o exemplo de Jesus orante nos interpela prende-se com a forma como fazemos a nossa oração. Na verdade, muitas vezes pensamos que a oração não tem nada a ver com a nossa vida. Vivemos uma espécie de esquizofrenia onde separamos a nossa relação com Deus da nossa vida quotidiana com todas as suas alegrias e tristezas. No entanto, o exemplo de Jesus recorda-nos que a oração provém da nossa vida concreta com todos os seus sucessos e derrotas, alegrias e tristezas, satisfações e anseios. É o nosso “eu” real e não o nosso “eu” ideal que deve rezar. Os momentos de oração devem ser momentos de verdade diante de Deus. A nossa oração deve ser uma leitura daquilo que nós realmente somos à luz da palavra de Deus. Os nossos momentos de oração são muitas vezes momentos de agonia e de luta onde nos vamos conformando com a vontade de Deus e não onde queremos conformar Deus com as nossas vontades mesquinhas e egoístas.

O facto da oração de Jesus ser uma oração de acção de graças também interpela a forma como rezamos. A minha oração é mais de petição ou de agradecimento? A nossa oração também tem de ser uma oração de louvor, uma oração em que, com coração agradecido, eu louvo a Deus pelos inumeráveis benefícios que me concede e pelas maravilhas que opera na minha vida. Se são mais as coisas boas do que as necessidades que eu tenho na minha vida porque razão é que dos meus lábios sai mais depressa um pedido de ajuda do que um obrigado?

 

“Tomai sobre vós o meu jugo”

“Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo.” Na época de Jesus não só os animais mas também os homens carregavam o jugo como sinal e exercício de escravidão. Os fariseus no tempo de Jesus consideravam a lei como um jugo glorioso que devia ser levado com alegria. Jesus veio libertar o homem do jugo da lei.

Jesus garante que Deus não exclui ninguém e convida a todos a aceitarem o Reino de Deus. Quem é amado e acolhido por Jesus toma o seu jugo e esforça-se por ser fiel no seu caminho de seguimento a Jesus. O amor de Deus que nos conforta nos nossos cansaços e nos consola quando somos oprimidos não é ópio que nos mantêm na mesma situação, mas força que nos leva a rejeitar todos os jugos, todas as forças de pecado, de ódio, de egoísmo, de mentira, de violência que nos oprimem e nos leva a tomar o jugo de Jesus. Quando na oração nos encontramos com Jesus somos acolhidos e confortados com Deus mas esse acolhimento e conforto levam-nos a tomar o jugo de Jesus e a segui-lo.

Que ao tomarmos contacto com este Jesus que reza e que é manso e humilde de coração, revalorizemos os nossos momentos de oração e tomemos o jugo de Jesus, não um jugo de servidão mas de liberdade.

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