1 de novembro de 2023 – Solenidade de Todos os Santos – Ano A

Muitas pessoas interrogam-se hoje sobre o sentido da vida e mesmo até se vale a pena viver. Esta pergunta é mais dolorosa quando se trata de uma pessoa doente, humanamente sem futuro, ou mesmo diminuída a tal ponto que a comunidade humana a rejeita, como acontece com algumas crianças que nascem com incapacidades graves.

A solenidade de Todos os Santos, quase ao terminar o Ano Litúrgico, vem recordar-nos que a vida humana é um dom de Deus e tem sentido e valor. Estamos de passagem na terra, em tempo de prova, mas a nossa verdadeira Pátria, na comunhão da Verdade e do Amor, é o Céu para sempre.

 

1. A nossa Esperança é Deus

A esperança é, com frequência, uma palavra banalizada e, muitas vezes, sem qualquer conteúdo. As pessoas têm esperança de tudo: de que um doente recupere a saúde, o clube preferido de futebol ganhe, a as dificuldades acabem.

No fim, é como quem passa a vida a beber e sempre com sede. As pequenas esperanças, mesmo quando se realizam, não nos tornam felizes.

Só há uma esperança que vale apena alimentar: a esperança de crescer na amizade com Deus, até chegarmos a uma comunhão perfeita com Ele. E, para esta felicidade ser perfeita, deve durar para sempre.  Quando vivemos uns momentos felizes, mas sabemos que são muito breves, aquela felicidade já não nos diz nada.

Marcados na fronte. O texto do Apocalipse proclamado como primeira leitura foi escrito em tempo de perseguição dos cristãos. Perante um mundo que se desmorona e deixa as pessoas desconcertadas, S. João levanta o braço a apontar-lhes o Céu.

Hoje, diante do falhanço de todos os projetos humanos de uma vida sem dor, com a doença definitivamente vencida, sem inimizades, com amor pleno, temos necessidade de olhar para o Céu. Deste modo acertaremos o passo e reencontraremos o sentido da vida.

O selo do Deus vivo que temos na fronte é o indelével caráter batismal, o sinal permanente de que somos filhos de Deus chamados a habitar na felicidade do Céu para sempre.

«Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus».

A multidão dos eleitos. Ao falar dos eleitos do Céu, S. João fala-nos de uma multidão de bem-aventurados.

O número de 144.000 eleitos é simbólico. Foi obtido multiplicando as doze tribos de Israel por doze mil, um dos números da plenitude na linguagem bíblica.

«Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas».

Quando as pessoas, por falta de fé, comentam que a Igreja está a diminuir, desconhecem a realidade. A Igreja está sempre a crescer, desde a sua fundação, com as pessoas que vão chegando ao Céu e ali ficam para sempre. É a meta dos desportistas que triunfam.

Se passearmos pelo meio destes eleitos, iremos encontrar muitas pessoas conhecidas que estiveram neste templo, trabalharam ao nosso lado, sentaram-se à mesma mesa das refeições.

A felicidade dos eleitos. Muitas vezes damos conosco a imaginar como será a felicidade dos eleitos. A nossa tentativa falha porque só podemos imaginar o que conhecemos.

Santo Afonso Maria de Ligório explicava que, se prometêssemos a um cavalo uma refeição melhorada, ele ficaria a imaginar que seria um feno mais saboroso, ou outro manjar do seu conhecimento. Não seria capaz de sonhar com os bons pratos que os homens preparam.

Assim somos nós, quando tentamos imaginar a felicidade dos bem-aventurados no Céu, apenas com o que conhecemos na terra. S. João tenta ajudar-nos: «Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: “A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”. Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos.»

Andemos um pouco, em espírito, pelo meio destes felizes eleitos do Senhor, e perguntemos-lhes se valeu a pena a vida que levaram na terra, a oração ao Senhor e a Nossa Senhora, a fidelidade aos Mandamentos a Lei de Deus, a preocupação de ajudar os outros no caminho da salvação. Dir-nos-ão com um sorriso de alegria que valeu a pena.

 

2. O caminho da Esperança

Ao contemplar a felicidade dos eleitos do Céu, é natural que façamos uma pergunta: como havemos, nós também de chegar até lá, para comungarmos na glória e felicidade de todos estes bem aventurados do Senhor?

Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Na simplicidade e majestade da montanha, rodeado dos Doze Apóstolos que acabou de eleger e sobre os quais fundará a Sua Igreja, e rodeado por uma multidão faminta de verdade e de amor, Jesus traça o perfil dos verdadeiros discípulos a caminho do Céu.

Não é pelos muitos sinais religiosos pendurados nas paredes da casa, na roupa ou no carro, nem pelos discursos entusiásticos que nós conhecemos os verdadeiros cidadãos do Reino de Cristo, mas pela vida que levam.

Ao proclamar as bem-aventuranças, Jesus revela-nos a Sua intimidade e convida-nos a segui-l’O no dia a dia.

O Seu convite é muito oportuno, porque o ambiente em que vivemos é totalmente contrário ao espírito das oito bem-aventuranças e correríamos o risco de nos deixarmos enganar.

 • O desprendimento. Enquanto à nossa volta muitos procuram a felicidade no ter, Jesus convida-nos a usar dos bens deste mundo como emprestados por Deus para nosso uso e a contentarmo-nos com o que basta para passar a vida com sobriedade e temperança. «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus

A pobreza evangélica é uma atitude do coração, e não uma circunstância externa. Pode-se viver desprendido no meio de todas as coisas e estar ridiculamente apegado a uma ninharia, vivendo quase sem nada.

A mansidão e humildade. Muitos pensam em conquistar um lugar na vida e nos corações usando a arma da violência.

Jesus ensina-nos que a única arma eficaz para o conseguir é a mansidão, um coração benévolo que se recusa a responder à violência com a violência. «Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra

Encontra-se nesta bem-aventurança um desmentido claro do engodo que é marxismo que se propõe instaurar um mundo novo de justiça pela violenta luta de classes.

A contrição dos pecados. Com muita frequência parecem pessoas nos meios de comunicação social a proclamar que têm a consciência tranquila, quando sabemos que não a podem ter.

Vivemos numa civilização do faz-de-conta, em que o importante não é ser santo, mas parecer bom.

Jesus ensina-nos que o verdadeiro caminho para nos sentirmos felizes no caminho do Céu e fomentar a contrição dos nossos pecados, e não recalcar a consciência, para não sentir o seu aguilhão. «Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados

Desejos de santidade. A soberba leva-nos a viver enganados sobre o que realmente somos diante de Deus. Comparamo-nos com os outros e achamo-nos sempre melhores.

Esta cegueira leva-nos a viver num falso contentamento com a nossa virtude, sem desejos de progredir, porque achamos que já somos suficientemente bons.

Jesus convida-nos a fomentar um descontentamento interior sobre o que somos e a desejar converter-nos. Emendar os nossos defeitos e pecados. «Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados

A misericórdia. Por natural tendência, somos propensos à crueldade, à dureza de coração, à vingança das ofensas reais ou imaginárias que recebemos. Custa-nos a perdoar uma segunda vez. Achamos que já é demais, que o nosso irmão ou irmã está a abusar.

Ao mesmo tempo, sabemos que temos necessidade de que Deus tenha paciência connosco e nos perdoe uma e outra vez. Só o alcançaremos, se usarmos de misericórdia para com os nossos irmãos. «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia

A pureza e a castidade. Vivemos num ambiente hedonista em certos meios de comunicação social, nos ambientes de trabalho e de convívio social, ao mesmo tempo que o veneno de uma sensualidade fora de toda a lei é explorada como meio de lucro fácil.

Precisamos de pedir ao Senhor a fortaleza para implantar à nossa volta um ambiente limpo e saudável onde possamos viver com dignidade e respirar à vontade.

Não é na podridão moral que encontramos a felicidade, mas na luta generosa por uma vida limpa, diz-nos Jesus. «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

Fomentar a paz. O nosso ambiente está cheio de guerrilheiros que ateiam as chamas da guerra por todos os lados. Também nós nos deixamos envolver facilmente pela murmuração, pelo dar ouvido à maledicência, fomentando descrenças ódios e separações, destruindo a imagem das outras pessoas.

Jesus convida-nos a sermos construtores da paz no meio em que vivemos. «Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus

A fortaleza cristã. Há muitas formas de perseguição aos filhos de Deus, no mundo de hoje. Tidas as vezes que as leis, a pressão social ou o ambiente tentam a desviar-nos da Lei de Deus, da fidelidade à Aliança batismal, aí temos a perseguição.

Para que não caiamos na tentação de nos julgarmos uns desgraçados, uns incompreendidos, Jesus proclama bem alto que também este caminho de perseguição é um caminho de felicidade. «Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós

A causa da verdadeira alegria. Não somos felizes porque temos muitas riquezas, muitos amigos, ou impomos a nossa vontade pela força. Jesus ensina-nos o segredo da verdadeira alegria. «Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Foi esta a alegria que Nossa Senhora, depois de ter atravessado apressadamente as montanhas, levou a casa de Zacarias e de Isabel.

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