9 de abril de 2017 – Domingo de Ramos na Paixão do Senhor – JESUS: SERVO SOFREDOR E TESTEMUNHA FIEL

Sentimo-nos desconcertados numa sociedade competitiva, que privilegia a posse, o prazer e o poder, gerando violência e alienando as pessoas. O que é que pode satisfazer os anseios mais profundos de vida plana? Como realizar o projeto de Deus? O que significa ser cristão hoje?

A primeira leitura apresenta-nos a função do Servo Sofredor plenamente moldável nas mãos de Javé e suficientemente coerente na execução da sua missão, passando por cima do que é capaz de mexer com os brios de qualquer um: Ofensas, violência, perda de honradez.

Lendo a Paixão de Jesus segundo São Luca, percebe-se que a fidelidade e determinação do Servo Sofredor encontraram plena realização em Jesus, a testemunha fiel. A Sua humilhação até à morte na cruz foi motivo de escândalo para os homens do Seu tempo.

Nesta celebração do dia de Ramos, Paulo pede que examinemos se o nosso projeto de vida coincide com o de Jesus: servo, obediente até ao fim, ou se pautamos a nossa vida segundo as leis da sociedade em que vivemos (segunda leitura).

1ª Leitura – (Is 50,4-7): a função do Servo Sofredor

Estamos diante de um texto do segundo Isaías (cf. o comentário à I leitura do domingo passado). A perícope é chamada «terceiro canto do Servo de Javé». Os cantos são assim distribuídos: 1º canto: 42,1-9;2º canto: 49,1-6; 3º canto: 50,4-11; 4º canto 52, 13-53,12.

Ao lermos qualquer um destes cantos surge logo a primeira pergunta feita pelo eunuco a Filipe: «De quem fala o profeta: de si mesmo ou de outro?» (act 8,34). A resposta não é fácil. Até hoje, as opiniões dos estudiosos podem ser sintetizadas em quatro tipos de interpretação sobre quem seja o Servo Sofredor: a) Interpretação coletiva: tratar-se-ia do povo de Israel; b) Interpretação individual: o Servo Sofredor seria uma pessoa anónima; c) interpretação mista: ele seria ora Israel como um todo, ora um grupo de pessoas, ora uma pessoa só, como, por exemplo, o próprio profeta; d) interpretação messiânica: os cantos falariam de um messias do futuro ideal. Segundo os autores do Novo Testamento, esse ideal encontrou perfeita realização em Jesus.

2ª Leitura – (Fl 2,6-11): O Evangelho de Jesus Cristo

Paulo está preso em Éfeso, mas tem nas mãos um trunfo que lhe garantirá a liberdade: basta que prove ser cidadão romano. A decisão de fazer valer os seus direitos de cidadão romano provocou grande mal-estar em Éfeso e também em Filipos. De facto, para os primeiros cristãos, o martírio era o momento mais nobre e mais próprio para a propaganda do Evangelho. Declarar-se cristão e morrer violentamente por causa disso, provocava adesões à fé. Então porque é que Paulo foge desse momento? Estaria anunciando uma coisa e vivendo outra?

Eis, então, que ele escreve aos Filipenses. Para ele, é vantagem morrer, mas opta pela libertação em vista da possibilidade de ainda continuar a evangelizar. A seguir, passa a mostrar os perigos que ameaçam os Filipenses: perigos de fora (os falsos missionários) e perigos de dentro (divisões na comunidade). Por fim, convida a todos para que tenham em si as mesmas disposições pessoais (sentimentos) que havia em Jesus Cristo.

Evangelho – Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo Mateus (Mt 26, 14-27, 66): A VITÓRIA DO MESTRE DA JUSTIÇA.

A fidelidade de Jesus aos Seus: Jesus sabe que vai ser traído por um discípulo e abandonado pelos outros. Mostra assim a plena gratuidade do Seu dom, sendo fiel aos discípulos até ao fim: marca um novo encontro na Galileia. Aí Jesus reunirá novamente os discípulos para continuar a Sua missão.

A grande tentação: O que se passa no íntimo de Jesus? Uma luta dramática em que se confrontam a companhia e a solidão, o medo e a serenidade, a coragem de continuar o projeto até ao fim e a vontade de desistir e fugir. A oração é fonte que reanima o projeto de vida segundo a vontade do Pai; a vigilância impede que a pessoa se torne inconsciente diante das situações.

Fidelidade até ao fim: Um dos discípulos alia-se aos adversários e trai Jesus com um gesto de amizade. Um dos presentes tenta defender Jesus com as mesmas armas dos opressores. Por fim, todos fogem e Jesus fica sozinho. Aquele que realiza o projeto de Deus e atrai o povo é considerado pelos poderosos como malfeitor e perigoso. Mas eles não têm coragem de prendê-l’O à luz do dia.

Jesus é o juiz: Para as autoridades, Jesus é réu, e elas já tinham decretado a morte d’Ele. Agora montam um processo teatral e falso para justificar tal decreto. Jesus não Se defende, pois as acusações realmente não O culpam de nada. No projeto de Deus, as coisas invertem-se: este homem, condenado à morte injustamente, é o Messias, o Filho de Deus, que inaugura a sociedade justa do Reino de Deus. Por isso, de réu Ele passa a ser o juiz (o Filho do Homem), que condena os autores da Sua morte. As duas forças que se chocam são irreconciliáveis, e o rompimento é inevitável (rasgar as vestes).

Pedro cai na tentação: Enquanto Jesus fala corajosamente diante das autoridades, Pedro não é capaz de vigiar, e cai na tentação de abandonar o seguimento de Jesus, negando-O covardemente diante de pessoas simples.

Jesus é inocente: O quadro é sóbrio. Judas enche-se de remorso e proclama a inocência de Jesus diante da indiferença das autoridades. As trintas moedas mostram que Jesus foi traído pelo preço de um escravo.

Jesus ou Barrabás?: Sob a dominação romana, o Sinédrio podia condenar à morte, mas não podia executar a sentença. Por isso Jesus é entregue ao governador romano, sob falsa acusação de ser subversivo político que pretende retomar o reino judaico contra a dominação romana. O processo diante de Pilatos é também uma grande farsa dominada pelos interesses de ambas as autoridades. Jesus ou Barrabás? Pilatos prefere Jesus porque não O vê como perigo para o poder romano; além disso, desconhece o alcance do projeto de Jesus. As autoridades dos Judeus sabem muito bem que Jesus é mais perigoso para a estrutura interna do país que Barrabás (zelota). A multidão fica ao lado das autoridades porque depende delas e porque agora estão enfrentando o poder estrangeiro. Pressionado, Pilatos defende o seu próprio prestígio e entrega Jesus à multidão. Barrabás torna-se uma peça no jogo de interesses entre os dois poderes. Jesus não participa da farsa e é condenado. Se Ele fosse solto estaria negando todo o Seu projeto. A mulher de Pilatos, pagã, reconhece que Jesus é justo. Enquanto isso, o povo, enganado pelas autoridades, pede a morte de Jesus, julgando estar a proceder bem.

O verdadeiro rei: Revestido com todos os sinais de poder (púrpura, coroa, ceptro e adoração), Jesus é motivo de zombaria. Mas, despojado desse poder, ao retomar as próprias vestes, Ele revela-Se como o verdadeiro Rei: Aquele que dá a vida para salvar o Seu povo.

O verdadeiro Messias: Jesus está completamente só. O Seu corpo poderoso é reduzido à fraqueza extrema. Contudo, Ele até ao fim permanece consciente da Sua entrega, e recusa a bebida entorpecente. A inscrição, com o motivo da sentença, inaugura na história o tempo da realeza que não oprime, mas que dá a própria vida. As zombarias revelam a verdadeira identidade de Jesus: Ele é o novo Templo e o Messias – Rei que não age em vista dos seus interesses.

Jesus é o Filho de Deus: No meio do aparente fracasso, a fé descobre todo o significado da morte de Jesus. Com Ele chega o dia do julgamento e começa a era da ressurreição: todo o sistema que gera a morte é desmascarado, e a vida manifesta-se em plenitude. A salvação está aberta para todos aqueles que confessam que Jesus é o Filho de Deus.

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