O DIA DO SENHOR

O dia que o Senhor fez

Se o Domingo é assim justamente «dia do Senhor (die Domini), isto não aconteceu porque esse é o dia que o homem dedica ao culto do seu Senhor, mas porque esse é o dom precioso que Deus fez ao Seu povo: «Este é o dia que o Senhor fez: nele exultemos e alegremo-nos» (Salmo 117,24). «Tudo o que Deus criou de mais grandioso e de mais sagrado» recordava S. Leão Magno, «teve a sua origem na dignidade deste dia»: O princípio da criação, a Ressurreição do Seu Filho, a efusão do Espírito Santo, tiveram igualmente lugar neste dia. Pelo que, nenhum outro dia é tão sagrado para o cristão como o Domingo.

O «Dia da Igreja»

Igreja quer dizer assembleia; a Igreja vive e realiza-se, sobretudo, quando se reúne em assembleia convocada pelo Ressuscitado («lá me verão», cf. Mt 28,10) e reunida no Seu Espírito.

O dies dominicus é também o dies Ecclesia, o dia da Igreja.

Uma comunidade reunida na fé e na caridade é o primeiro sacramento da presença do Senhor no meio dos Seus: no sinal humilde, mas verdadeiro, de convenire in unum (cf.1 Cor 11,20), no reencontrar-se de muitos na unidade de «um só coração e uma só alma» (cf At,4,32), se manifesta a unidade daquele corpo misterioso de Cristo que é a Igreja.

A assembleia cristã, sacramento da presença de Cristo no mundo, deve saber exprimir em si mesma a verdade do seu «sinal».

– na amabilidade do acolhimento que se torna unidade com todos os presentes;

-na intensidade da oração que se abre à comunhão com todos os irmãos na fé, embora ausentes;

– na generosidade da caridade que toma a seu cargo as necessidades de todos os pobres e necessitados, o grito dos quais se ouve hoje no nosso país;

Na variedade de ministérios, por fim, em que se exprime toda a riqueza dos dons que o Espírito Santo infundo na Sua Igreja e nos diversos encargos que a comunidade confia aos seus membros.

Uma só mesa para todos

Na sua forma plena e mais perfeita, a assembleia realiza-se quando se reúne à volta do seu Bispo, ou com aqueles que, associados a ele pela Ordem Sacra no mesmo sacerdócio ministerial, o representam legitimamente em cada uma das porções da sua grei, a paróquia.

Esta plenitude é tal que acolhe e assume em si um dom e um mistério peculiar. O grupo, ou o movimento, de per si, não são assembleia; eles mesmos são parte da assembleia dominical, do mesmo modo que são parte da Igreja. É válida para todos, por tudo isto, a recomendação da Igreja antiga de «não diminuir a Igreja e de não privar de um membro o Corpo de Cristo com a própria ausência».

E o corpo do Senhor não é empobrecido somente por aqueles que não vão fazer parte da assembleia, ainda por aqueles que, fugindo da mesa comum, aspiram a sentar-se a uma mesa privilegiada e mais rica: não parecem na verdade, assemelhar-se àqueles cristãos de Corinto que se recusavam a pôr em comum o seu rico alimento com o dos pobres (ccf. 1 Cor 11,21).

Se a Eucaristia é partilha (expressa no gesto da fração do pão), tendo como exemplo Aquele que nada reservou para Si, agora que muito recebemos, devemos estar muito disponíveis para dar, mesmo quando o dar pareça perder.

A «festa» num mundo secularizado

O caráter festivo do domingo é certamente aquele que é captado mais imediatamente e mais universalmente participado pela cultura contemporânea. Mas o domingo do homem secularizado não é o mesmo do cristão. O homem secularizado vive o seu domingo sobretudo como dia de descanso do trabalho e a sua festa quase se reduz ao mero sentir-se liberto do peso e da saturação das tarefas de todos os dias; um dia de férias que é quase só evasão.

A cultura contemporânea secularizada, de facto, privou o domingo do seu significado religioso originário e tende a substituí-lo, ou pelo refúgio na privacidade, ou por novos ritos de massa: o desporto, a pesca, a discoteca, o turismo… Linguisticamente, passou-se do «dia do Senhor» para o «fim de semana», do « primeiro dia da semana» para o «fim de semana».

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