Membro do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral explicou o modelo de economia que o papa quer

O subsecretário do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé) disse ao clero das dioceses do sul, reunido em atualização em Albufeira, que o papa deseja um novo modelo de economia, verdadeiramente fundado sobre o bem comum.

O padre Nicola Riccardi – que substituiu o cardeal Peter Turkson, prefeito do mesmo dicastério, a quem o pontífice pediu que o representasse e fosse portador de uma mensagem ao Fórum Económico Mundial que teve hoje início em Davos (Suíça) – explicou esta manhã que o encontro sobre ‘A Economia de Francisco’, convocado pelo papa para se realizar de 26 a 28 de março, em Assis, com mais de 2.000 jovens tem em conta o estabelecimento de um acordo com vista àquele objetivo.

“O papa deseja estabelecer um pacto para criar uma nova economia”, anunciou o conferencista, explicando que jovens economistas entre os 18 e os 35 anos deverão escrever a carta programática e que Francisco pediu que aquele dicastério seja o “supervisor na organização do evento”. “O papa tem particularmente no coração este momento porque crê na fecundidade do encontro”, acrescentou, explicando que o encontro deverá ser o ponto de partida para um novo modelo de economia.

O orador, que na primeira de duas intervenções abordou o tema “Desenvolvimento Económico vs Desenvolvimento Humano integral: O desafio da centralidade do homem”, reforçou que “esta economia deve ser repensada” e apelou à intervenção dos cristãos. “Esta economia precisa do nosso contributo como crentes para que possa caminhar”, pediu, esclarecendo que Francisco “não é contra a economia”, mas “é contra um modelo assente sobre o indivíduo que não promova uma relação com o outro”.

“Quando o papa Francisco diz não a uma economia da exclusão refere-se a esta economia, uma economia baseada unicamente sobre o crescimento, que não produz benefício humano. Esta é a questão que nós, a nível pastoral, nas nossas paróquias e comunidades devemos ter em conta”, prosseguiu, pedindo que “nas dioceses, no contacto com os jovens e as famílias” se procure “uma nova via pastoral para acolher esta urgência” e “criar uma espiritualidade de ecologia”.

“Deveremos, como comunidade cristã crente, formar nos nossos fiéis uma responsabilidade social fundada sobre o primado do bem comum”, pediu ainda o padre Nicola Riccardi aos 116 participantes da atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a decorrer no hotel Alísios, em Albufeira, lembrando que “hoje em dia há muita teoria de legitimação da propriedade privada”, “mas não saiu ainda uma lei sobre o bem comum”.

O orador, que criticou o “individualismo económico” que procura “o interesse individual em vez do bem comum”, disse ainda que “o atual modelo económico valoriza o crescimento sem se preocupar em perceber quem beneficia desse crescimento”. “Todos ou uma parte? O ambiente como é tido no crescimento? É respeitado? Não é respeitado?”, questionou o sacerdote que estudou economia antes de entrar no Seminário e é docente de Ética Económica na Pontifícia Universidade Antonianum em Roma.

Alertando para as “desigualdades” produzidas por esta economia, garantiu que “1% da população da população mundial detém mais de 50% da riqueza de 99%”. “Isto é qualquer coisa de inumano”, considerou, assegurando que “a concentração da riqueza tem vindo a aumentar” e que “quem governa é a economia”. “É qualquer coisa inaceitável”, lamentou, referindo também que nem sempre o aumento do PIB significa melhoria da qualidade de vida. “E tem ainda uma outra limitação: não afere sobre a distribuição da riqueza, nem afere as condições sociais, de trabalho, de ambiente”, sustentou.

Pese embora reconheça que “a pobreza no mundo foi reduzida”, o subsecretário do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral questionou: “mas no que é que se está a tornar este modelo económico?”.

O padre Nicola Riccardi considerou ainda que “o problema de hoje é um problema antropológico”. “O homem mudou a consciência de si. O homem é chamado a viver no prazer e tendo em vista o sucesso a todo o custo sem se preocupar com o outro. Este é o entendimento antropológico do homem hoje”, criticou. Apelando a um “novo modelo antropológico”, disse “o conceito da mútua indiferença está a modificar a cabeça do homem, fazendo-o acreditar que deve viver sem se sentir responsável pelo outro” e destacou que o “grande desafio” é “intervir sobre a cultura”.

 

Fonte:https://folhadodomingo.pt/

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