DA MORALIDADE À FELICIDADE

O homem é, por natureza, um ser moral: capaz do bem e do mal… Embora a sua essência seja a apetência do bem, também é capaz do mal: «quero o bem que está ao meu alcance, mas realizá-lo, não. Efetivamente, o bem que eu quero, não o faço, mas o mal, que não quero, é que pratico… Sinto prazer na Lei de Deus, de acordo com o homem interior; mas vejo outra lei nos meus membros, a lutar contra a lei da minha razão…» (Rm7,18-27).

Pertence à essência do homem a paixão da Felicidade: não há ninguém que não queira nem deseje ser feliz. O contrário seria anormalidade. E o pior mal do Mal é a ilusão de felicidade. Só que o homem, sendo dotado de inteligência (=  semelhante a Deus), é capaz de memória, ou seja: capaz de viver, por assim dizer, ao mesmo tempo, nos três tempos: no passado, no presente e no futuro… O homem nunca é fruto acabado de momentos que passam. Ele é sempre «projeto» … Por outras palavras: tudo o que o homem fez ou faz, em cada momento que passada, passa, como herança a fazer parte do seu futuro. Daí que o mal, com sabor a bem, no momento em que é praticado, deixe sempre, no momento seguinte, a amargura do vazio…

Todo o homem aspira à felicidade. Mas não há felicidade sem moralidade, ou seja: sem o agir de acordo com o bem. Ninguém exprimiu isto melhor do que São Paulo: por um lado, «sente que tudo lhe é permitido» (1 Cor 10,23); por outro lado, «sente que nem tudo convém ou edifica» (1 Cor 10,23)… É o vazio do mal, com sabor a infelicidade, que não é mais do que o preço que pagamos, quando não agimos de acordo com a nossa essência, que é apetência do bem: «Não compreendo o que faço: pois não faço aquilo que quero, mas sim aquilo que aborreço… Que desditoso homem, que eu sou!…» (Rm 7,15-24).

Criou Deus o homem para ser feliz. Dotou-o dessa capacidade e dessa possibilidade: «Esta Lei, que te imponho, neste dia, não é difícil de mais para ti, nem está fora do teu alcance. Não está no Céu, para que possas dizer: “quem irá subir ao Céu, em vez de nós, para nos trazer a Lei, a fim de a escutarmos e a pormos em prática?» Tão pouco ela se encontra para além do mar, de maneira que possas dizer: “quem irá transpor o mar, em vez de nós, para nos trazer a Lei, a fim de a escutarmos e a pormos em prática?” É que a Palavra (= Lei) está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas cumprir».

(Dt 30, 10-14).

De acordo com este texto e com toda a Bíblia, a felicidade é o fruto do cumprimento da Lei (= Palavra de Deus), ou seja: é fruto do agir moral (obediência ao bem): «a Lei do Senhor é perfeita; ela reconforta a alma» (Sl 18,8). «são justos os Mandamentos do Senhor; eles alegram o coração» (Sl 18,9); «Felizes aqueles cuja vida é pura e caminham segundo a vontade do Senhor. Felizes os que observam os seus preceitos e O procuram de todo o coração» (Sl 118,1-2); «Feliz o homem, que não segue o conselho dos ímpios, nem entra pelo caminho dos pecadores. Feliz aquele que não se senta com os maus, mas se alegra na Lei de Deus, meditando-a noite e dia» (Sl 1,1-2).

Por onde anda, hoje, o cumprimento da Lei de Deus? Por onde anda, hoje a moralidade? O que parece campear é a imoralidade: «Pequei e que me aconteceu de mal?» (Ecl 5,4).

 

 

 

Autor:

Pe. Domingos Monteiro da Costa, S.J.

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