Nota Pastoral da CEP sobre o Ano da Vida Consagrada
1. Anúncio feliz do Ano da Vida Consagrada
No final de um encontro com os Superiores Gerais dos Institutos Religiosos no dia 29 de novembro de 2013 em Roma, o Papa Francisco anunciou que o ano de 2015 seria dedicado à Vida Consagrada. Esta proposta para toda a Igreja insere-se também no contexto da celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, designadamente por ocasião do cinquentenário do Decreto «Perfectae Caritatis» sobre a conveniente renovação da Vida Religiosa.
Dois meses mais tarde, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), traçou os principais objetivos e algumas iniciativas já previstas para celebrarmos com qualidade o Ano da Vida Consagrada.
«Fazer memória agradecida do passado» é o primeiro objetivo desta celebração. Os 50 anos que separam do Concílio são momento de graça para a Vida Consagrada, que percorreu um caminho de renovação guiada pelo Espírito, vivendo as suas fraquezas e infidelidades como experiência da misericórdia e do amor de Deus.
O segundo objetivo é «abraçar o futuro com esperança». As crises atuais e as incertezas no amanhã devem ser assumidas como desafio e ocasião favorável para os consagrados crescerem em profundidade como homens e mulheres de esperança.
Esta esperança impele-nos a «viver o presente com paixão», terceira finalidade a ter em conta na preparação e celebração deste Ano: uma paixão de enamoramento, de verdadeira amizade, de comunhão; uma paixão por evangelizar a própria vocação e testemunhar a beleza do seguimento de Cristo; uma paixão para despertar o mundo com testemunho profético, em presenças significantes nas periferias geográficas e existenciais da pobreza.
O Ano da Vida Consagrada coincide, em grande parte, com as celebrações do 5.º Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus, nascida em Ávila a 28 de março de 1515. Figura de grande mulher e de consagrada a Cristo na vida contemplativa, para todos é modelo de progredir na intimidade com Deus pelo exercício perseverante de oração, alcançando assim qualidade apostólica a sua intensa atividade de reformadora da vida carmelita e de toda a Igreja.
2. Vida Consagrada no coração da Igreja
Com esta Nota Pastoral, não pretendemos fazer aqui uma reflexão teológica sobre a Vida Consagrada no mistério e na comunhão da Igreja, mas apenas comungar desta proposta pastoral que o Papa Francisco lançou para toda a Igreja universal e para as Igrejas locais. No mesmo sentido da exortação apostólica Vita Consecrata de João Paulo II, cheios de gratidão damos graças ao Espírito pela abundância de formas de vida consagrada.
A designação «Vida Consagrada» refere-se a um comum horizonte eclesial em que se articulam, de forma complementar, carismas e instituições: ordens e institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado; sociedades de vida apostólica; institutos seculares e outros grupos de consagrados; formas novas ou renovadas de vida consagrada; a Ordem das Virgens, as viúvas e os eremitas consagrados; todos aqueles que, no segredo do seu coração, se entregam a Deus com uma especial consagração (cf. Vita Consecreta, 2).
A Vida Consagrada está colocada mesmo no coração da Igreja, como elemento decisivo para a missão, visto que exprime a íntima natureza da vocação cristã. E continua a ser um dom precioso e necessário também no presente e para o futuro do povo de Deus, porque pertence intimamente à sua vida, santidade e missão. Os consagrados são chamados a assumir, na radicalidade do seu ser, a mesma exigência que é feita a todos os discípulos de Cristo, no horizonte das bem-aventuranças: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48).
Muitas iniciativas concretas de carácter universal foram já anunciadas. O Papa Francisco presidirá à abertura das celebrações em 30 novembro deste ano, primeiro domingo do Advento, e haverá uma assembleia plenária da CIVCSVA sobre a novidade na Vida Consagrada a partir do Vaticano II. Estão previstos diversos encontros internacionais em Roma para noviços, jovens religiosos e religiosas, formadores e formadoras, superiores e ecónomos gerais e provinciais. Haverá ainda um congresso internacional de teologia da vida consagrada e uma amostra internacional sobre a vida consagrada como evangelho na história humana. Há várias sugestões para as irmãs contemplativas, entre elas uma «cadeia mundial de oração entre os mosteiros». Alguns documentos sobre diversas áreas específicas estão igualmente em preparação e em reelaboração, como a Instrução «Mutuae relationes», que dá critérios diretivos para as relações mútuas entre os Bispos e os Religiosos na Igreja. E quase a concluir as celebrações do Ano da Vida Consagrada, não faltará uma solene concelebração presidida pelo Papa, em finais de 2015, nos 50 anos do Decreto «Perfetae caritatis».
3. Um ano de bênção e de graça
Na nossa missão de Pastores, queremos cuidar com particular estima daqueles e daquelas que seguem Jesus Cristo nesta forma radical de existência cristã que é a vocação à Vida Consagrada. A partir dos nossos organismos diocesanos mais especificamente ocupados com as formas de Vida Consagrada e em coordenação com a Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) e com a Conferência Nacional dos Institutos Seculares de Portugal (CNISP), desejamos que este Ano seja verdadeiramente um ano de graça, tendo sempre na mente e no coração os três objetivos atrás delineados para toda a Igreja: fazer memória agradecida do passado, abraçar o futuro com esperança, viver o presente com paixão.
Olhando a nossa realidade em Portugal, destacamos algumas ações que já são comuns: a Semana do Consagrado, instituída pela Conferência Episcopal, que principia a 26 de janeiro e encerra com a Festa da Apresentação do Senhor e o Dia do Consagrado a 2 de fevereiro, em que procuramos estar presentes como Pastores das Igrejas locais; o Dia Mundial de Oração pela Vida Consagrada Contemplativa. Procuraremos refletir e atualizar para a Igreja em Portugal as orientações contidas na Instrução «Mutuae relationes». Acompanhamos ainda com atenção as iniciativas conjuntas promovidas pelos organismos coordenadores da Vida Consagrada em Portugal, particularmente a CIRP e a CNISP, como as semanas de estudo sobre a Vida Consagrada, as suas assembleias gerais, as atividades fomentadas pelas suas comissões nacionais e secretariados regionais, as muitas planificações em cada instituto e dalguns em comum.
4. Celebrar a Vida Consagrada na comunhão da Igreja
Neste conjunto de celebrações, queremos avivar o Dia do Consagrado, instituído universalmente em 1997 por São João Paulo II, para “ajudar toda a Igreja a valorizar sempre mais o testemunho das pessoas que escolheram seguir a Cristo mais de perto, mediante a prática dos conselhos evangélicos e, ao mesmo tempo, ser para as pessoas consagradas uma ocasião propícia para renovar os propósitos e reavivar os sentimentos, que devem inspirar a sua doação ao Senhor”. Os três objetivos, então por ele apontados para viver este dia, podem sintonizar com o que se pretende ao longo deste especial ano de graça: responder à íntima necessidade de louvar mais solenemente o Senhor e agradecer-Lhe o grande dom da Vida Consagrada, que enriquece e alegra a comunidade cristã com a multiplicidade dos seus carismas e com os frutos de edificação de tantas existências, totalmente doadas à causa do Reino; promover o conhecimento e a estima pela Vida Consagrada, por parte de todo o povo de Deus, fazendo com que a doutrina sobre ela seja mais largamente e mais profundamente meditada e assimilada por todos os membros do povo de Deus; convidar as pessoas consagradas a celebrar em conjunto e solenemente as maravilhas que o Senhor realizou nelas, para descobrir a beleza e a diversidade dos dons difundidos pelo Espírito no seu género de vida, e tomar consciência mais viva da sua insubstituível missão na Igreja e no mundo.
5. A alegria do Evangelho no coração da Vida Consagrada
Todas as celebrações ao longo deste ano apontarão para a vocação e a missão que a Vida Consagrada, de modo permanente nas suas variadas formas, é chamada a ser e realizar, ao espelhar o modo de vida de Jesus Cristo, hoje, e empenhar-se, já, na construção do Reino dos céus. No dizer do Papa Francisco no referido encontro com os Superiores Gerais, os consagrados e consagradas são desafiados a estar e a marcar presença em variadas situações para despertar o mundo: «A Igreja deve ser atrativa. Despertar o mundo! Sede testemunho de um modo diferente de fazer, de agir, de viver! É possível viver de um modo diferente neste mundo. Estamos a falar de uma visão escatológica, dos valores do Reino encarnados aqui, nesta terra. Trata-se de deixar tudo para seguir o Senhor. Não, não quero dizer radical. A radicalidade evangélica não é somente dos religiosos: pede-se a todos. Mas os religiosos seguem o Senhor de maneira especial, de modo profético. Espero de vós este testemunho. Os religiosos devem ser homens e mulheres capazes de despertar o mundo».
A vida de consagração em castidade, pobreza e obediência, seguindo de perto o estilo de vida de Jesus Cristo, é um tesouro para a vida e missão da Igreja. Fazemos nossas estas palavras do Concílio Vaticano II: «o sagrado Concílio confirma e louva os homens e mulheres, Irmãos e Irmãs que nos mosteiros, escolas, hospitais ou missões, embelezam a Igreja com a sua perseverante e humilde fidelidade na mencionada consagração e prestam generosamente às pessoas os mais variados serviços» (Lumen gentium, n. 46).
Desejamos que todas as iniciativas deste Ano da Vida Consagrada sejam assumidas com interioridade na santidade, com coerência na vida comunitária, com testemunho na missão. O encanto, a alegria e o entusiasmo no seguimento de Cristo, assumidos por todos os consagrados e consagradas na sua existência como discípulos missionários e por todas as formas de vida consagrada, constituirão certamente fermento e atração de novas vocações à Vida Consagrada. Acolhendo os reiterados apelos do Papa Francisco para serem «chamados e levar a todos o abraço de Deus» e «transformados na alegria do Evangelho», os consagrados poderão contribuir de modo especial para despertar o mundo ou os mundos por eles habitados.
Confiamos à Virgem Maria a renovação espiritual e apostólica das pessoas consagradas e dos institutos de Vida Consagrada para testemunharem Jesus Cristo com uma existência transfigurada.
Fátima, 13 de novembro de 2014