O Evangelho é a força da vida eterna, dada desde já àqueles que o acolhem. Mas, ao gerar homens novos, essa força penetra na comunidade humana e sua história, purificando e vivificando as suas atividades. Por isso, ela é «raiz de cultura».
Proclamadas por Jesus, as Bem-Aventuranças, que não cessaram de ser vividas, ao longo da história da Igreja, por numerosos batizados e, de maneira eminente, pelos santos, exprimem a perfeição do amor evangélico.
As Bem-Aventuranças, a partir da primeira, dos pobres, formam um todo que não deve ser separado do conjunto do Sermão da Montanha, no qual, Jesus, novo Moisés, comenta o Decálogo, a Lei da Aliança, dando-lhe o seu sentido definitivo e pleno. Lidas e interpretadas na totalidade do seu contexto, as Bem-Aventuranças exprimem o espírito do Reino de Deus que vem. Mas, à luz do destino definitivo da história humana assim manifestada, aparecem, ao mesmo tempo, com mais viva clareza, os fundamentos da injustiça na ordem temporal.
Pois, ao ensinar a confiança que se apoia em Deu, a esperança da vida eterna, o amor da justiça, a misericórdia que vai até ao perdão e à reconciliação, permitem as Bem-Aventuranças situar a ordem temporal em função da ordem transcendente que, longe de eliminar a sua própria consistência, confere-lhe a sua verdadeira medida.
À luz das Bem-Aventuranças, o necessário empenho nas tarefas temporais ao serviço do próximo e da comunidade dos homens é, simultaneamente, exigido com urgência e mantido na sua justa perspetiva. Preservam da idolatria dos bens terrestres e das injustiças que a sua procura desenfreada traz consigo. Preservam da busca de um mundo perfeito, utópica e causadora de ruína, pois «a figura deste mundo passa».
Fonte:
LCL – 62” Liberdade Cristã e Libertação: Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé”