A grande novidade

«A grande novidade» de Cristo é absoluta e deve ser considerada na sua totalidade, e não pela metade como se fosse «uma ideologia», porque «não se fazem negociações» mundanas com a verdade e não se «dilui o anúncio do Evangelho». Para a sua meditação, o Papa Francisco inspirou-se numa «contrariedade» de Paulo devido à «vida dupla» dos cristãos de Corinto e observou que acabamos por ser «hipócritas» se não percebermos a diferença «entre “a novidade” de Jesus Cristo e “as novidades” que o mundo nos propõe».

«O apóstolo Paulo está um pouco contrariado com os cristãos de Corinto», observou o Papa referindo-se ao trecho da primeira carta aos Coríntios (5, 1-8) proposto hoje pela liturgia como primeira leitura. Aliás, acrescentou Francisco, Paulo não está «um pouco», mas «muito zangado» com aqueles cristãos e «repreende-os porque viviam “uma vida dupla”, digamos assim». De facto, escreve o apóstolo na sua carta: «Irmãos, ouve-se dizer constantemente que se comete, no vosso meio, a luxúria, e uma luxúria tão grave que não se costuma encontrar nem mesmo entre os pagãos». Como se quisesse dizer: mas vós sois cristãos e viveis desta maneira? Há alguma incoerência.

«Paulo repreende» explicou o Pontífice, mas «explica, a ponto que diz algo desagradável. Algo forte e até desagradável: as pessoas que fazem isto sejam entregues a satanás, porque a nossa vida segue outro caminho».

«Esta é a realidade que Paulo vê» insistiu o Papa. E «relativamente a esta realidade não só condena, mas explica inclusive o princípio. Esta gente gabava-se por ser assim, digamos “cristãos abertos”, onde a confissão de Jesus Cristo caminhava de mãos dadas com uma imoralidade tolerada entre eles. E “não é bom que vos vanglorieis deste modo”» escreve claramente Paulo.

Mas depois o apóstolo «explica o princípio: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova”». Portanto, é preciso tirar o «fermento velho, para que haja outro fermento, ou nenhum fermento, para que a massa seja boa». Paulo «usa aquele símbolo dos ázimos, a massa pura, a massa boa». E «isto recorda-nos» a expressão «de Jesus “vinho novo em odres novos”». Com efeito, explicou o Papa, «a novidade do Evangelho, a novidade de Cristo não consiste somente em transformar a nossa alma; mas em transformar todos nós: alma, espírito e corpo, todos, tudo, ou seja, transformar o vinho — o fermento — em odres novos, tudo». Porque, acrescentou, «a novidade do Evangelho é absoluta, total; abrange todos, porque nos transforma a partir de dentro: o espírito, o corpo e a vida quotidiana».

«Mas esta gente era assim, não tinha compreendido isto» prosseguiu o Pontífice fazendo sempre referência à carta aos Coríntios, sublinhando: «Tinham talvez considerado a novidade do Evangelho como uma ideologia, um modo de viver bem, social: “Sim, sim Jesus, sim”, mas depois viviam seguindo costumes pagãos». Mas «a novidade do Evangelho é muito clara. O próprio Paulo explica-a claramente no final do trecho hodierno da sua carta: «E, de facto, Cristo, nossa Páscoa, foi imolado! Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de pureza e de verdade”».

«A grande novidade do Evangelho — afirmou Francisco — é que Cristo está vivo, Cristo ressuscitou, Cristo pagou pelos nossos pecados, Cristo — a ressurreição de Cristo — transformou-nos e enviou o Espírito para que nos acompanhe na vida. Precisamente «esta é a novidade do Evangelho! Eis o convite de Jesus a viver esta novidade. Nós cristãos somos homens e mulheres de novidade, da grande novidade».

Os cristãos de Corinto, «que queriam ambas as coisas, viviam “de novidades”, não “da novidade”». E «tanta gente procura viver o cristianismo “de novidades”» dizendo «mas hoje pode-se fazer assim; hoje pode-se fazer assim». Mas «esta gente que vive de novidades que lhe são propostas pelo mundo é mundana, não aceita toda a novidade». E, deste modo, «há um confronto entre “a novidade” de Jesus Cristo e “as novidades” que o mundo nos propõe para viver».

«Por esta razão — explicou o Papa — Paulo condena as pessoas que vivem assim: é gente tíbia, imoral, é gente que simula, é gente formal, hipócrita». Com efeito, «quando não consideramos a totalidade do anúncio de Jesus Cristo e aceitamos viver com “as novidades”, conviver com ambas as coisas, acabamos por ser hipócritas».

«A chamada de Jesus é para a novidade» reafirmou o Pontífice. Certamente, «alguém podem dizer “padre, nós somos débeis, somos pecadores”». Mas «esta é outra coisa: se aceitares ser pecador e débil, Ele perdoa-te, porque um aspeto da novidade do Evangelho consiste em confessar que Jesus Cristo veio para o perdão dos pecados. Mas se tu, que afirmas ser cristão, convives com estas novidades mundanas, não, esta é uma hipocrisia. Esta é a diferença». O próprio Jesus, observou o Papa, «tinha-nos dito no Evangelho: «Estai atentos quando vos disserem: Cristo está aqui, ali, lá. As novidades são estas: não, a salvação é com isso, com isto”». Porque «Cristo é um só. E a mensagem de Cristo é clara».

A este ponto, sugeriu o Pontífice, «talvez possa surgir a pergunta — porque a liturgia de hoje nos indica isto — mas como é o caminho de quantos vivem “a novidade” e não querem viver “as novidades”?». A resposta encontra-se no «trecho do Evangelho de hoje» (Lc 6, 6-11): «Mas eles — os escribas, os doutores da lei — fora de si pela raiva — porque não tinham podido apanhar Jesus em flagrante a cometer um erro — começaram a discutir entre si sobre o que teriam podido fazer a Jesus». Basicamente, acrescentou o Papa, «como o apanhar, como o matar», como «o eliminar».

«O caminho de quantos aceitam a novidade de Jesus Cristo — recordou Francisco — é o mesmo de Jesus: o caminho rumo ao martírio; quer o martírio cruento, quer o martírio de todos os dias». É «o testemunho do martírio; aquele é o caminho, não há outros. Aquela é a estrada, “porque os inimigos — como explica o Evangelho — observavam Jesus, para ver se curava no dia de sábado a fim de encontrar um pretexto para o acusar”». E «atrás deles estava o grande acusador: satanás». Também «nós estamos a caminho e somos observados pelo grande acusador que incita os acusadores de hoje para nos apanhar em contradição».

«O convite da Igreja hoje — concluiu o Papa — é considerar “a grande novidade”, toda, e não fazer negociações com “as novidades”». Em síntese, «não diluir o anúncio do Evangelho».

 

Fonte:

www.vatican.va

PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

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