No princípio, era um punhado de gente simples, que não possuía quase nada; até para conversar tinha pouco assunto.
Foi crescendo: simples, sem muitos bens, com pouco assunto. Mas foram acontecendo coisas importantes na sua vida: vários grupos tiveram de emigrar: por algum tempo prosperaram; depois, foram oprimidos; muitos conseguiram escapar. Em tudo isto, aprenderam a resolver dificuldades; a reparar e a comparar; a ver Deus na sua vida. Criaram cantos, contos e celebrações, frutos da sua fé e estímulo para o seu crescimento.
A família grande tornou-se tribo, depois confederação de tribos e, enfim, nação governada por reis. Já haviam passados vários séculos. Muitos deles já não eram tão simples; deu-se o início a uma literatura. Que é que escreveram? A vida do povo: as suas iniciativas e lutas, as suas reflexões e manifestações, a sua fé. Era o começo daquilo que, mais tarde, veio a ser chamado «Bíblia». Claro, o povo continuou a resolver dificuldades, a reparar e a comparar, a ver Deus na sua vida; a criar cantos, contos e celebrações; a cultivar a sua Fé, a lutar pela sua dignidade. E a Bíblia continuou a ser vivida e escrita por mais 900 anos. E ajudou o povo a resolver dificuldades, a reparar e a comparar, a ver Deus na sua vida; a criar cantos, contos e celebrações, a cultivar a sua Fé, a lutar pela dignidade.
Aí apareceu alguém impressionante, diferente até das pessoas mais profundamente humanas que vieram antes d’Ele: Jesus de Nazaré. Era tão transparente na Sua bondade e dedicação, principalmente aos sofredores, que n’Ele se manifestava em toda a sua densidade o amor de Deus para com os homens. No conflito com a maldade humana, Jesus foi morto. Mas não foi eliminado. Os Seus discípulos testemunharam que Deus Lhe deu nova vida; que Ele está presente na comunidade dos que n’Ele crêem.
Nessa comunidade, os antigos livros da Bíblia foram lidos sob nova luz; outros foram-lhes acrescentados, sempre tendo no centro a figura de Jesus.
Finalmente, a grande comunidade da Fé cristã julgou encerrada a fase da sua fundação. A Bíblia estava completa. Continuará a ser lida com a mesma Fé, mas de maneira sempre nova, alimentando a busca de uma nova sociedade, que respeite o homem e honre a Deus; ajudando o povo a resolver dificuldades, a reparar e a comparar, a ver Deus na sua vida; a criar cantos, contos e celebrações; a cultivar cada vez mais a sua Fé e a lutar pela sua dignidade.
A Bíblia não deve ser vista apenas como uma longa história, cujo enredo vai da criação à consumação do mundo. Ela é, antes de tudo, uma coleção de reflexões sobre as mais variadas experiências da Fé, interpretadas e verbalizadas de mil maneiras diferentes e complementares.