6 de setembro de 2015 – 23º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Vivemos num mundo em contínua renovação, com invenções e descobertas que não podíamos imaginar há pouco tempo ainda.

Para os otimistas, é um tempo de grandes realizações, e descobertas, em que se abrem ao homem imensas possibilidades; para os pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear…

Quer queiramos, quer não, Para todos nós é um tempo de desafios, de interpelações, de procura, de risco…

Como é que nós encaramos este mundo em transformação? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com os óculos negros do desespero?

  1. Deus, nossa paz e salvação

Isaías, o primeiro dos chamados profetas maiores, acompanha a primeira leva de Judeus que vão desterrados para a Babilónia. Nesta situação humilhante e sem esperança, ameaça-os a tentação do desespero.

O Senhor envia-lhes o Seu profeta – como a cada um de nós aos homens de hoje – para os levantar desta prostração.

  1. a) Deus nunca nos falta. «Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais.»

Estamos habituados a que os homens falhem nas suas promessas, e transferimos esta experiência amarga para Deus. E assim, ao mínimo contratempo, entramos em dúvidas de fé e de esperança.

É verdade que, muitas vezes, Deus não nos faz a vontade, não nos acompanha nos nossos sonhos de loucura, porque tem algo infinitamente mais valioso para nos dar.

Há, de facto, no mundo uma organização do mal que tem um chefe, um mentor, na luta contra Deus e na tentativa para destruir o amor e o bem no coração dos homens, pela violência, a imoralidade e o medo. Manifesta-se com leis iníquas, grupos de malfeitores e colaboração dos homens pela cedência à degradação.

A última palavra, contudo, pertence a Deus. O Salmo II, lembrando a omnipotência e a bondade infinita do Senhor do universo, e depois de chamar projetos vãos, sem futuro aos planos de alguns para destruir a humanidade que a Igreja tenta edificar, diz: «Aquele que habita nos céus ri-se deles e escarnece (dos seus planos).»

  1. b) N’Ele pomos a nossa esperança. «Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-nos».

Sem que os israelitas se apercebessem, o Senhor preparava o seu regresso à Terra Prometida, no momento oportuno.

Regressariam, porém, já convertidos dos seus desmandos anteriores, não para a grandeza de um reino temporal, fora do qual ficariam todos os outros povos – era este o seu sonho – mas para um reino que Deus viria fundar com as fronteiras do mundo e para os povos de todas as nações e tempos, Seria um reino espiritual, de salvação, que começasse na terra a comunhão que nos espera no Céu.

Sofremos, muitas vezes, porque teimamos em querer e exigir que Deus aprove os nossos planos caducos e colabore incondicionalmente neles.

Quando as coisas nos desagradam, a primeira pergunta que havemos de fazer é: qual a mensagem que o Senhor me transmite, por meio dos acontecimentos? Em que devo mudar a minha mentalidade e a minha conduta?

Todos os acontecimentos são portadores de um apelo de Deus a que nos convertamos, porque Ele sabe que este é o nosso caminho único de felicidade.

  1. c) Dá sempre resposta às nossas carências. «Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria.»

Nas promessas do profeta Isaías ao povo de Deus parece intuir-se uma indicação discreta dos aspetos da vida em que precisamos urgentemente de melhorar:

Então se abrirão os olhos dos cegos. Temos necessidade de crescer na fé…e não o conseguiremos enquanto não melhorarmos a nossa formação doutrinal, para dar resposta aos problemas fundamentais do homem. Por outro lado, quando a fé não é levada à prática da vida, quando não há coerência entre o que acreditamos e fazemos, a fé debilita-se e morre. È como se os olhos se fechassem.

e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Precisamos de estar mais atentos ao que o Senhor nos diz pela Sua Igreja e viver a docilidade às Suas inspirações.

Então o coxo saltará como um veado. Como está o nosso progresso na vida espiritual? Não é verdade que nos agarramos teimosamente a uma vida rotineira, resistindo ao que o Senhor nos inspira?

e a língua do mudo cantará de alegria. A pouco e pouco, emudecemos nas nossas orações e outras práticas de piedade. Entramos no plano inclinado da rotina, fazendo as coisas de Deus sem alma, e acabamos no abandono cobarde das nossas promessas do Batismo.

É tempo de regressar, para que o Senhor possa corresponder ás nossas carências. Deste modo, águas brotarão no deserto e as torrentes na aridez da planície; a terra seca transformar-se-á em lago e a terra árida em nascentes de água.

  1. Jesus, rosto da bondade do Pai

Na Sua vida pública, Jesus passa distribuindo às mãos cheias os milagres. Eles manifestam o poder, a bondade e a solicitude de Deus por nós.

  1. a) Deus vem ao nosso encontro. «Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole.»

Jesus Cristo apresenta-Se no mundo como o rosto visível do Pai. Na última Ceia responde a um dos Doze: «Filipe: Há tanto tempo que estás comigo e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai

Onde verdadeiramente se realiza a profecia de Isaías é na vinda de Jesus, no mistério da Incarnação. «Ele próprio vem salvar-nos».

Ele quer estar presente e atuante na Igreja até ao fim dos tempos. Nela Se torna acessível a todos.

Os milagres que faz na vida pública são uma alusão velada aos Sacramentos:

– a ressurreição dos mortos, pelos Sacramentos do batismo e da Reconciliação e Penitência;

– a multiplicação dos pães e dos peixes, na Eucaristia;

– à cura dos cegos, leprosos, paralíticos, etc., respondem os Sacramentos da Igreja onde encontramos remédio para os nossos males.

Ao mesmo tempo que lança à terra dos corações a semente abundante da Boa Nova, Jesus realiza com gestos proféticos a riqueza dos Sacramentos – fontes da Graça – que nos vai oferecer na Sua Igreja.

  1. b) Nós caminhamos ao encontro de Jesus. «Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele.»

As pessoas trazem a Jesus um surdo-mudo para que lhe restitua as condições de normalidade de vida. Ele quer deixar uma parte da Redenção para nós, associando-nos à alegria de espalhar o bem.

Muitos caminharão ao encontro de Jesus pelo seu próprio pé, inspirados pelo Espírito Santo. Mas, na economia normal da redenção, tem de ser cada um de nós a levar alguém ao encontro d’Ele, para que o cure.

É-nos pedido um pouco de esforço humano, para que tenhamos algum merecimento em nosso caminhar para Ele. Ouvir e ler a palavra de Deus, abeirar-se dos Sacramentos, participar na vida litúrgica são outros tantos modos de ir ao encontro de Jesus, para que nos conceda as Suas graças.

Não podemos, contudo, pensar apenas em nós. Temos de começar na terra a vida em comunhão que será o nosso prémio no Céu, para sempre, ajudando os outros a caminhar ao encontro do Senhor.

Fazemo-lo pelo testemunho de vida que lança interrogações nas pessoas; pela amizade sincera que se traduz numa palavra amiga que ajuda alguém a tomar norte e alento na vida.

  1. c) Deus tudo faz bem feito. «Cheios de assombro, diziam: ‘Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem’.»

Somos tentados algumas vezes, perante os acontecimentos que nos ultrapassam, a pensar que as coisas não têm lógica.

É necessário ter presente que Deus sabe infinitamente mais do que nós e conhece aquilo de que precisamos. Pelos caminhos mais desconhecidos leva-nos ao encontro das Suas maravilhas.

Foi assim com a Sua Paixão, Morte e Ressurreição. O que pareceu uma derrota avassaladora na Sua missão transformou-se numa vitória retumbante e para sempre.

Celebramos todos os dias e, com especial solenidade aos Domingos, a Santa Missa, mistério de fé, para que tenhamos presente esta sabedoria infinita de Deus.

Ela é um convite permanente a que nos entreguemos ao Senhor, confiando inteiramente n’Ele.

Nossa Senhora dá-nos o exemplo deste abandono nas mãos de Deus, pela sua entrega filial, embora o que Deus lhe pede seja um mistério profundo que só no decorrer dos tempos vai desvendar.

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