6 de março de 2016 – 4º Domingo da Quaresma Ano C

Sozinhos, apenas com as nossas capacidades, seremos incapazes de chegar à verdadeira liberdade. Somente com a ajuda de Deus conseguiremos tal objecivo.

É isto de que nos fala a liturgia da Palavra deste domingo. O amor do Pai é que nos salva e nos convida à conversão e à reconciliação com Ele e com os irmãos.

Estejamos atentos para analisarmos em nós mesmos a modificação interior que é preciso operar para melhor vivermos este restante tempo quaresmal.

A história de Israel imagem da nossa história

A primeira leitura deste domingo narra-nos a chegada dos israelitas à terra prometida, depois de terem escapado do cativeiro do Egipto e empreendido a longa viagem pelo deserto.

Essa fuga e a conclusão da viagem não teria sido possível se Deus os não tivesse acompanhado e ajudado durante tão longo trajecto. Finalmente livres, estão quase a conseguir tomar posse da terra que lhes fora prometida. Terra muito fértil que lhes permitirá viver da agricultura e do pastoreio dos seus rebanhos. Enfim, já não precisarão de se alimentar do maná do deserto e dos poucos frutos que iam conseguindo apanhar pelo caminho. Por isso, sentem necessidade de agradecer a Deus toda esta alegria que Ele lhes proporcionara e decidem tornar a celebrar a festa da Páscoa, tal como tinham feito os seus antecessores, aquando da saída do Egipto.

Esta história dos israelitas é em tudo a imagem da nossa própria história. Pelo baptismo e, depois, através da reconciliação, somos desviados da condição de miséria e de pecado em que nos encontrávamos e conduzidos à libertação, com a ajuda de Deus. Por isso realçamos a salvação alcançada celebrando a Eucaristia e agradecendo ao Senhor tão grande graça, enquanto esperamos o reencontro com Ele na meta definitiva.

Protagonismo do Pai

É Deus que assume o protagonismo nesta libertação, como nos refere o Evangelho de hoje.

Aparecem-nos três figuras nesta parábola: o filho mais novo, que assume atitudes que todos nós provavelmente reprovamos; o filho mais velho, a que se refere o final da parábola; e o pai, que é na realidade a figura proeminente da parábola. De uma coisa não nos poderemos esquecer: é que a parábola foi contada por Jesus para os chefes espirituais, que se consideravam os «justos» do seu tempo por «cumprirem todos os mandamentos da lei», perante quem Ele quer justificar o seu comportamento para com os publicanos e os pecadores. É a estes «justos» que o Senhor quer dar uma lição.

O filho mais novo depois de exigir ao pai aquilo que entendia ter direito, parte para longe. Reparemos na postura do pai: não diz uma única palavra. Isto indica todo o respeito que Deus tem pela liberdade das pessoas.

Desperdiçando tudo o que possui, não encontra a felicidade que procura. As aventuras não o satisfazem e experimenta a angústia de que «morre de fome». A decepção fá-lo «cair em si mesmo» e desejar o «regresso a casa». No reencontro com o pai não chega a desenvolver o discurso preparado, porque o pai o recebe carinhosamente e o abraça sem lhe fazer perguntas. Manda, outrossim, preparar uma festa para comemorar o seu regresso.

O ressentimento e as palavras proferidas pelo filho mais velho estão correctas e até se conformam, provavelmente, com a nossa lógica de pensar. Mas, enquanto o filho mais novo usa cinco vezes a palavra «pai», o filho mais velho, que apresenta as boas obras que realizou, mostra com esta atitude que, para ele, o pai é apenas um patrão. Por isso, nunca da sua boca saiu a palavra «pai». Este relacionamento incorrecto com o pai manifesta-se na rejeição do irmão a quem ele chama: «esse teu filho». O pai prontamente o corrige, esclarecendo: «este teu irmão…».

É esta atitude que Jesus toma quando acolhe os publicanos e os pecadores e come com eles. Por este motivo, escribas e fariseus se irritam com a Sua postura. Jesus evidencia os sentimentos de Deus Pai: Ele não só ama os justos e os pecadores arrependidos, mas ama a todos, sempre e sem condições. Por amar tão perdidamente todo o homem é que Deus o deixa livre, mas «inquieta-o» com o Seu amor, de tal modo que o pecador não conseguirá sentir-se feliz enquanto demorar no seu estado e não correr a abrir o coração ao amor do Pai.

Reflectindo na atitude do pai, poderemos encontrar um exemplo para todos os pais: na família deve haver sempre respeito pelas opções dos filhos, dos irmãos, dos netos. Os pais têm a obrigação de os educar a fazerem escolhas sábias e de harmonia com os autênticos valores da vida. Têm o direito e o dever de encorajar, orientar, auxiliar, mas não decidir em lugar dos filhos. Mesmo que estes errem, são dignos de respeito.

A aventura do filho mais novo redundou em fracasso e levou-o a descobrir que precisava de segurança interior e que o caminho que tinha escolhido não lhe trazia felicidade mas inquietação e falta de paz, o que o levou a reconsiderar o regresso.

Como o filho mais velho raciocinavam os escribas e os fariseus do tempo de Jesus. E é assim, talvez, que alguns de nós, considerados «justos», ainda pensemos.

Ora, seria imerecido considerar que os que deixam a comunidade apenas ambicionam satisfazer as suas paixões. Por vezes, os «irmãos mais velhos», e na comunidade somos todos os que a frequentamos, sentimo-nos no direito de julgar e condenar os que se afastam. Sendo assim, talvez nos caiba parte da responsabilidade em tais deserções.

A maneira de pensar e de falar, as escolhas que fazemos, os juízos de valor que emitimos não coincidem com os do Pai, quando não sabemos acolher convenientemente aqueles que, por qualquer motivo, erraram nas suas opções e posturas de vida. Deste modo, assemelhamo-nos aos escribas e fariseus a quem Jesus dirige a parábola.

Teremos honestamente de nos interrogar sobre a nossa responsabilidade por tais abandonos.

Convite à reconciliação

Por isso, a segunda leitura nos chama a atenção para a necessidade da «reconciliação». Esta, não resultará somente da nossa boa vontade e do nosso esforço, mas é dom de Deus. É Ele que toma a iniciativa de restabelecer a paz. Esta paz não se consegue com cerimoniais purificadores, com práticas devotas, mas, mediante a palavra do apóstolo que é enviado a anunciar o que Deus fez por nós, homens. Cada um só tem de permitir que a sua mente e o seu coração se abram ao dom e à mensagem que lhe é oferecida pela Palavra e regressar «ficando de acordo», «banindo a aversão», «purificando-se dos próprios pecados».

Fica a pergunta: o que teremos de modificar para melhor vivermos esta Quaresma?

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