5 de dezembro de 2021 – 2º Domingo do Advento – Ano C

A liturgia deste domingo ressalta a nossa missão profética. Trata-se de um apelo à conversão e à renovação no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao coração de todos. Esta é uma exigência feita a todos os batizados que são chamados a dar testemunho da salvação que Cristo vem trazer.

 

Toda a criatura veja a salvação de Deus.

Não era uma figura agradável a de João Baptista. A indumentária austera e aquele olhar penetrante, aguçado pelo tempo de deserto, certamente provocava alguma reação. E quando as suas palavras começaram a ter o tom dos profetas, que há muito já não eram escutadas, que efeitos desencadearam? E que dizer daquele gesto de mergulhar no Jordão para limpar os pecados, como se nos lavássemos para acolher alguém que vai chegar? Quem o começa a seguir está sedento de uma mudança, talvez julgue que Ele é o Messias, sente-se insatisfeito com o rumo do mundo.

Curiosamente, no início do evangelho de hoje, são anunciados os poderosos do tempo: Tibério, Pilatos, Herodes e Filipe, Lisânias, Anás e Caifás. Talvez sonhassem também com mudanças, mas daquelas aumentassem mais ainda o seu poder! Não é quase sempre assim? Quem começa por ter poder para servir o povo e cuidar do bem comum, à medida que mais poder vai tendo, mais se esquece de onde veio e para o que veio! Quem faz os montes e vales desta vida de classes e distinções tão graves, e porque é que os caminhos tortuosos e as veredas escarpadas são, quase sempre, para os mesmos? Como são os modelos educativos de uma sociedade que privilegia o exterior e a posse de bens? 

Olho para as crianças e vejo como é grande a tentação de as conformarmos. A modelos de adultos e a comportamentos padronizados que as famílias, as escolas, e os meios de comunicação perpetuam. Na imensa diversidade de objetos natalícios espanto-me como, para alguns adolescentes, os presentes ideais que pedem aos pais, são telemóveis do último modelo que até já enviam imagens! Temos que nos conformar, “são filhos deste tempo”, não é o que alguns dizem?

Claro que João Baptista fala dos caminhos interiores, destas “voltinhas do Marão” em que a alma às vezes anda, sem termos a coragem de obras de fundo e caminhos retos. Caminhos tortuosos que depois se refletem na vida, na insatisfação sem norte, ou na alienação do pensamento e das convicções. É preciso que a raiva domesticada, que só magoa quem está mais perto, dê lugar ao inconformismo saudável e próprio de quem continua a sonhar um mundo melhor! No fundo, João Baptista, pede-nos para preparar o caminho para Aquele que renova todas as coisas. Pede-nos que despertemos a nossa costela inconformista, e mesmo contra ventos e marés, tenhamos a coragem da denúncia e do anúncio profético e do trabalho solidário, para que “toda a criatura veja a salvação de Deus”. Toda mesmo!

Check Also

Nota Pastoral na comemoração dos cinquenta anos do “25 de Abril”

1. Na comemoração do cinquentenário da Revolução de 25 de Abril de 1974 cabe aos …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.