31 de maio de 2020 – Solenidade de Domingo de Pentecostes – Ano A

Cinquenta dias depois da Páscoa e dez depois da Ascensão do Senhor, o Espírito Santo desceu, sob a figura de línguas de fogo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos reunidos em oração.

Cumpriam fielmente a recomendação de Jesus: que não se retirassem de Jerusalém para evangelizar o mundo, sem terem recebido o Prometido do Pai.

  1. Pentecostes, festa do Amor
  2. a) O Espírito no coração dos homens. «Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles.»

São várias as figuras com que o Espírito Santo se manifesta no cenáculo, para nos ajudar a compreender a missão que Ele desempenha junto de nós.

  • Rajada de vento. O ar fresco, em rajada cheia de vida, purifica o ambiente, varrendo o ar bafiento e doentio, enchendo os pulmões de ar saudável. Assim actua o Espírito Santo no mundo.
  • Língua de fogo. O fogo aquece, ilumina, funde diversos metais, mesmo que não sejam da mesma natureza, purifica e transforma. O fogo do Amor do Espírito Santo opera todas estas maravilhas nos corações dos fieis.
  • A unidade. As línguas vão-se repartindo. É o mesmo fogo do amor que se comunica a cada um dos presentes. Com isto ajuda-nos a compreender a unidade da Igreja, condição vital para que possamos agradar a Deus.

De resto, Ele vem quando toda a Igreja primitiva está reunida para ouvir a palavra de Deus e cantar salmos. Maria Santíssima e os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar.

  • Água. Jesus compara também o Espírito Santo à água, porque ela mata a sede, lava, purifica, fecunda as plantas.

A água é um elemento indispensável do nosso corpo. Ele é composto por 70% de água. Quando esta percentagem diminui no organismo humano, o corpo desidrata-se e entre em crise.

Não é possível levar uma vida cristã normal sem abrir as portas à acção do Espírito Santo em nós.

 

  1. b) Vida em comunhão divina. «Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.»

No momento da vinda do Espírito Santo acontece uma coisa prodigiosa: judeus e simpatizantes com o judaísmo de todo o mundo tinham vindo ao Templo de Jerusalém para celebrar o Pentecostes. Nele ofereciam ao Senhor as primícias das colheitas e comemoravam a entrega das tábuas da Lei no Sinai a Moisés feita por Iavhé.

Agora são oferecidas ao Senhor as primícias das conversões à Igreja, da grande colheita do Evangelho no mundo, ao longo dos séculos.

A partir de agora, os homens não contam apenas com as tábuas de pedra, com os Dez Mandamentos gravados, mas a lei de Deus é impressa no coração de cada pessoa, como foi prometida pele profeta Ezequiel.

Mas havia uma dificuldade prática: como poderiam as pessoas de línguas e procedências tão diversas compreender a pregação do Evangelho, se Pedro lhes falava em aramaico — a língua da terra Santa no tempo de Jesus?

O Espírito Santo veio em auxílio dos Apóstolos, fazendo que cada um dos presentes entendesse perfeitamente a pregação de Pedro, como se ele estivesse a falar na língua de cada um: «Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes.»

Este prodígio há-de repetir-se mais vezes na história da Igreja, quando for necessário, embora O Espírito Santo não queira fazer aquilo que podemos realizar por nós próprios: estudar a língua das pessoas a quem se anuncia o Evangelho.

Mas, para além do aspecto Paráclito, há uma lição profunda: a doutrina do Evangelho, embora sendo exigente, é entendida por todas as pessoas e exerce sobre elas uma fascinação que, naturalmente, não se explica. Enquanto o pregador fala, o Espírito Santo está na alma de cada um para o ajudar a descobrir as aplicações práticas à sua vida do que é anunciado.

 

  1. c) Dons para partilhar. «De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito.»

O Espírito Santo, Alma da Igreja, faz dela um Corpo vivo e organizado, onde cada membro tem uma função em favor dos outros, à semelhança do que acontece com o corpo humano, de tal modo que ninguém vive para si mesmo.

O Espírito Santo enriquece a Igreja de vários modos:

  • Dons do Espírito Santo. São impulsos espirituais, inclinações fortes que nos levam a pensar e actuar como se Jesus Cristo ou Maria estivessem em nosso lugar.

São sete, número bíblico da plenitude: Sapiência, pelo qual saboreamos a vida de intimidade com Deus; Entendimento, que nos leva a entender interiormente as verdades da fé e a relacioná-las entre si; o Conselho que nos conduz a procurar a vontade de Deus em cada situação da vida; a Fortaleza, que nos possibilita enfrentar situações difíceis e aguentar as dificuldades para continuarmos féis à vontade do Altíssimo; o dom da Ciência que nos ajuda a ver em cada criatura uma ajuda para conhecer e amar o nosso Deus; a Piedade que nos inclina a viver com a delicadeza de filhos de Deus, procurando fazer tudo o que Lhe pode dar gosto; o Temor de Deus que nos move a evitar tudo que, mesmo sem ser pecado, poderia desagradar a Deus.

  • Carismas. Os carismas são qualidades que o Espírito Santo nos dá para bem e serviço de toda a Igreja: a capacidade organizativa, ler e proclamar a Palavra de Deus, cantar, etc.

O Santo Padre recebeu o carisma da infalibilidade em material de fé e de costumes. “A missão do Magistério está ligada ao caráter definitivo da Aliança instaurada por Deus em Cristo com seu Povo; deve protegê-lo dos desvios e dos afrouxamentos e garantir-lhe a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica. O ofício pastoral do Magistério está, assim, ordenado ao cuidado para que o Povo de Deus permaneça na verdade que liberta. Para executar este serviço, Cristo dotou os pastores do carisma de infalibilidade em matéria de fé e de costumes. O exercício deste carisma pode assumir várias modalidades.” (Catecismo da Igreja Católica, n.º § 890).

  • Ministérios. “As próprias diferenças que o Senhor quis estabelecer entre os membros de seu Corpo servem à sua unidade e à sua missão. Pois, embora “exista na Igreja diversidade de serviços, há unidade de missão. Cristo confiou aos apóstolos e a seus sucessores o múnus de ensinar, de santificar e de governar em seu nome e por seu poder. Os leigos, por sua vez, participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo”. Finalmente, “em ambas as categorias [hierarquia e leigos] há fiéis que, pela profissão dos conselhos evangélicos, se consagram, em seu modo especial, a Deus e servem à missão salvífica da Igreja; seu estado, embora não faça parte da estrutura hierárquica da Igreja, pertence, não obstante, à sua vida e santidade”.” (CIC §873).

O Ministério vem a ser um carisma que a pessoa possuía e a Igreja oficializou.

 

  1. O Espírito Santo, Dom do Pai

 

  1. a) A Sua missão na Igreja e no mundo. «Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: “A paz esteja convosco”.»

É missão do Espírito Santo manter viva e operante a Igreja, evangelizando e conduzindo com eficácia as pessoas à salvação eterna. É por isso que a Igreja nunca fracassa, nuca morre nem é derrotada. Depois do que os homens chamam um revês, acaba sempre por aparecer mais bela, depois das provações.

Depois de ressuscitado, Jesus procurou confirmar os Onze e os Discípulos na fé da Ressurreição. Foi procurá-los ao Cenáculo, onde se encontravam com as portas e janelas trancadas, por medo dos judeus. Não tinham paz nem alegria, porque o Mestre tinha-lhes sido roubado e sentiam-se culpados do modo como tinham procedido.

  • O dom da paz. Encheram-se de alegria e segurança, quando viram Jesus ressuscitado. Jesus começa por lhes dar este dom. Invoquemos o Espírito Santo, quando sentirmos a falta de paz interior, e procuremos reconquistá-la, se for preciso, pelo sacramento da reconciliação.

Muitas vezes, quando nos parece que o Inimigo nos quer roubar a paz, lembrando-nos os nossos pecados, façamos um acto de contrição e lembremo-nos que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade — o Paráclito — vive em nós como num templo.

  • O perdão dos pecados. É pelo Espírito Santo recebido na Ordenação Sacerdotal — pela imposição das mãos do Bispo — que o sacerdote recebe o poder de perdoar os pecados.

Este poder é dado ao sacerdote para serviço exclusivo dos irmãos. Se ele pode comungar a Santíssima Eucaristia por ele consagrada, não pode igualmente perdoar os pecados a sis mesmo.

  • A mudança operada nos Apóstolos. A vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Discípulos do Senhor, com Maria, operou neles uma profunda mudança. Eram tímidos e tornaram-se corajosos; de homens do mar, nada habituados a falar em público, Pedro fala em nome da Igreja, com grande eloquência e convertem-se logo cerca de 2.000 pessoas.

 

  1. b) N’Ele vivemos. «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós.»

O Espírito Santo vive em nós como num  templo. Podemos adorá-l’O e falar-Lhe em cada momento, pedindo humildemente a sua ajuda divina.

  • Vivemos no Espírito Santo. S. Paulo, falando no Areópago de Atenas dizia que fala daquele Deus no qual vivemos, nos movemos e existimos. Estas palavras inspiradas ajudam-nos a compreender um pouco a in-habitação do Espírito Santo e a Sua relação com cada um de nós.

Vivemos imersos neste mar infinito de Amor que nos banha, nos conforta e enche de vigor. Deixemos que Ele nos inspire, nos guie e nos anime nos caminhos da santidade pessoal.

  • Ele inspira-nos continuamente. Não podemos ter um bom pensamento ou desejo sem a ajuda do Espírito Santo. 

Quantas vezes somos surpreendidos por um desejo inesperado de maior fidelidade ao Senhor, de corrigir isto ou aquilo! E não nos damos conta de que é o Espírito Santo quem nos está a iluminar e a aquecer no Amor ao Pai.

  • Move-nos com suavidade para o bem. A pesar de termos ficado com inclinações doentias para o mal, para o pecado, também sentimos em  nós, com frequência, um desejo indefinido de amar mais ao Senhor, de vivermos com maior fidelidade a nossa vocação, correspondendo ao Amor de Deus.

Ele faz isto com tal discrição, que nos parece ser uma inspiração que nasceu de nós.

  • Enche-nos de consolação. O Espírito Santo enche-nos de gozo sobrenatural quando nos deixamos guiar por Ele, fazendo a vontade de Deus.

Falando sobre o Espírito Santo, aos Apóstolos no Cenáculo, Jesus diz-nos que Ele é o Paráclito — Advogado das nossas causas — o Consolador, Aquele que nos conduzirá à verdade total, que colocará delicadamente em nossos lábios as palavras necessárias quando formos interpelados sobre a razão da nossa Esperança.

 

  1. c) Em Missão com o Espírito Santo. «Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos”.»

Deus chama-nos a anunciar a todas as pessoas o perdão de Deus, a alegria do Evangelho, a bondade infinita de Deus que veio ao mundo para nos salvar.

Proclamamo-lo com a nossa vida. Embora com muitas deficiências, e com as dificuldades de todos os outros, a nossa vida há-de ser uma proclamação solene da misericórdia de Deus.

À imitação de Jesus Cristo, também nós não estamos no mundo para julgar e condenar as outras pessoas, mas para as levar ao encontro do Mestre.

Não podemos guardar só para nós este tesouro da alegria do Evangelho.

Foi para perdoar os nossos pecados, porque Ele sabe que o justo peca sete vezes ao dia, que Jesus deu aos Apóstolos e, por eles, aos Bispos e Presbíteros de todos os tempos, o poder de perdoar os pecados.

  • Na confissão. Ele está misteriosamente presente no sacerdote, quando ele traça sobre nós o sinal da cruz, pronunciando as palavras d absolvição sacramental.
  • Na Consagração as espécies. Pronuncia, pelos lábios do homem consagrado que é o sacerdote, as palavras da Concelebração sobre o pão e o vinho, transubstanciando-os no Seu Corpo e Sangue. Tudo isto acontece pela força do Espírito Santo recebido na Ordenação Sacerdotal.
  • Em cada celebração da Santa Missa, somos enviados. Quando o sacerdote diz, com certa solenidade Ide em paz e o Senhor vos acompanhe, não faz uma despedida, mas procede a um envio solene para o mundo de onde viemos para a missa.

Quer dizer: Ide continuar a Missa na via de cada dia, santificando-vos e anunciando que Cristo vive e nos quer salvar!

Maria Santíssima, Esposa de Deus Espírito Santo, acompanha-nos nesta missão junto dos outros e ajuda-nos a realizá-la.

Check Also

De 14 a 21 de abril de 2024 | SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES /2024

NOTA PASTORAL – Para quem sou eu? Entre 14 e 21 de Abril, decorre a …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.