31 de agosto de 2014 -22º Domingo do Tempo Comum Ano A

RELAÇÃO DO HOMEM COM DEUS

O texto das «confissões de Jeremias» exprime com força a relação pessoal de todo o homem com Deus, as exigências da chamada divina perante a força irresistível da Sua Palavra.

Na verdade, o profeta encontra-se numa situação dramática:

– possui um temperamento amante da paz e vê-se forçado, por causa da conduta do Povo de Israel, a anunciar a guerra e o castigo.

– deseja a simpatia de todos e vê-se forçado a ser antipático, por causa das exigências da Palavra de Deus;

– gostaria de se esquivar à missão de que foi incumbido, de desistir da sua vocação de profeta, mas Deus «induziu-o» não pela violência física, mas por uma atração irresistível.

Para exprimir a força da inspiração que sente dentro de si, Jeremias compara-a a um fogo que não se pode extinguir.

Na verdade, as exigências da vocação batismal, que se concretizam, depois, na vocação pessoal, fazem do chamado um holocausto, isto é, um sacrifício no qual a vítima é inteiramente consumida pelo fogo, neste caso, pelo fogo do amor.

A fraqueza humana perante a missão divina. «Em todo o tempo sou objeto de escárnio, toda a gente faz troça de mim».

Este é também o nosso drama: gostamos de ser simpáticos, de não destoar do ambiente, de não desempenhar o papel de um «desmancha prazeres», com a nossa conduta ou com as palavras. É uma tendência boa, em princípio, este desejo de agradar, tão apropriado à natureza social do ser humano, à sua vocação de comunhão.

SEGUIR JESUS CRISTO, LEVANDO A CRUZ

O sofrimento é o companheiro inseparável de todas as pessoas que vêm a este mundo. Também o foi de Jesus: «Tenho de receber um batismo, e que angústias as Minhas até que ele se realize!». Ele será o preço desse incêndio de Amor que Ele quer lançar sobre o mundo: «Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que Ele já se tenha ateado?».

A dor é, num primeiro olhar, um sinal de alarme chamando a atenção para algo que está mal, a viver em condições deficientes.

Há dores físicas e morais. Umas e outras significam que algo está fora do seu lugar, a funcionar em condições deficientes em situação anormal.

A grande anormalidade que abriu as portas do mundo para que entrasse a dor foi o pecado dos nossos primeiros pais, secundado pelos pecados de cada um de nós.

JESUS CRISTO, VENCEDOR PELA CRUZ

«Jesus começou a explicar aos discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumo sacerdotes e dos escribas; e que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».

A afirmação de Jesus choca profundamente com a mentalidade dos Seus contemporâneos, sem excluir os Apóstolos, e com a nossa. O sofrimento mete-nos medo. E, porque acreditamos facilmente no que nos convém, achamo-lo desnecessário.

Evitar a dor, dando-lhe um tratamento adequado, entra dentro daquele plano que o Criador apresentou aos nossos primeiros pais: «Enchei a terra e submetei-a».

Mas fazer desta fuga do sofrimento, de tudo o que custa algum sacrifício, o supremo ideal, evitando a dor física ou moral a qualquer preço, está mal.

É precisamente esta situação doentia que o demónio procura explorar nos nossos dias. Atua na nossa imaginação e na sensibilidade, de modo que nos faz entrar em pânico diante do mais pequeno sacrifício.

Atualmente este perigo é maior, porque a vida está demasiado facilitada pela técnica. Há máquinas para tudo. Poupam-se quase todos os sacrifícios e desabituam-se do que custa.

ABRAÇAR A CRUZ DE CADA DIA

«Se alguém quiser seguir-Me, renegue-se a si mesmo, pegue na sua cruz e siga-Me».

À primeira vista, estas palavras de Jesus parecem um código de infelicidade, para nós que temos esse hábito doentio de perguntar à nossa sensibilidade se lhe apetece ou não fazer algo.

Mas a fé exige muitas vezes de nós este despreendimento do que nos parece melhor, para nos fiarmos de Deus. Só assim compreendemos a alegria dos mártires, a paz dos que lutam contra as manifestações do mal do mundo, da firmeza e segurança daquele que se fia de Deus contra o que lhe parece mais seguro, segundo a razão.

Abraçar a cruz de cada dia leva-nos a pôr em prática a admoestação de S. Paulo: «Recomendo-vos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós próprios como vítima viva, santa, agradável a Deus».

Não se trata de andar doentiamente à procura do que custa. Mas de não recuar quando a vontade de Deus não se pode cumprir sem sofrimento:

-Abraçar a cruz na vocação pessoal, aceitando alegremente todas as suas exigências: como casados, na aceitação dos filhos, na sua educação e na fidelidade; como tendo abraçado o celibato por amor do reino dos Céus, compreendendo que o Senhor os tornou livres para amar mais.

– Abraçar a cruz do trabalho, na pontualidade, no preencher generosamente os sessenta minutos de cada uma das horas, com alegria, com perfeição e com alma contemplativa, sem esquecer um bom relacionamento com os companheiros de cada dia.

– Abraçar a cruz duma amizade sincera, para levar todos ao encontro de Jesus Cristo.

A nossa ação apostólica em relação aos que sofrem tem de ser múltipla: atendê-los e ampará-los; ajudá-los a libertar-se do egoísmo que os leva a querer tornar-se o centro do mundo.

A Missa em que participamos é a proclamação desta verdade. Jesus Cristo ama-nos tanto que não recuou perante os maiores sacrifícios para nos redimir.

Pela proclamação da Sua Palavra, Jesus coloca-nos perante a única e verdadeira perspetiva da vida: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se arruinar a própria vida? Ou que há-de o homem dar em troca da sua vida?

Mais do que nunca, é urgente recordar esta verdade a todos os homens.

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