29 de março de 2018 – Quinta-feira Santa – Missa da Ceia do Senhor

Quinta-Feira Santa! Dia de profunda densidade espiritual pois nele a Igreja celebra “o supremo gesto do Amor de Jesus” que se traduz na instituição da Eucaristia e do Sacerdócio e ainda na proclamação do Mandamento Novo culminando, depois, na Sua Morte na Cruz. Perante tão insigne Mistério, recolhamo-nos no nosso interior, louvando, agradecidos, este Amor que tem a dimensão do Infinito.

Aproxima-se o termo da carreira terreira do Senhor. O Mestre ia partir, Ele antevia já a saudade que havia de apoderar-se dos discípulos que, em breve, ia deixar. Como lenitivo, lega-se a Si próprio em testamento, ficando entre eles e todos os vindouros.
“Se este Deus que se oculta num pouco de pão não estivesse tão abandonado, os homens seriam mais felizes, mas não o querem ser”.
Todo o que d’Ele se alimentar, viverá eternamente: eis o Pão que fortalece o homem e o defende de cair em tentação. A Eucaristia é o alimento quotidiano dos que desejam ser fortes e dos que aspiram a ser puros. Diz São Bernardo: “se alguém não sente tão frequentes vezes nem tão fortes os movimentos da ira, da inveja e da luxúria, dê graças ao Corpo e Sangue de Cristo”. A Eucaristia não é uma recompensa, é um remédio que cura e nos tonifica para os combates de todos os dias.
É a rotina um perigo que nos deve manter num constante alerta; ela gera a apatia e lança na mediocridade. Não se trata, todavia, de procurar consolações sensíveis. O que importa é que este Sacramento seja o sinal da união entre os homens e que, em cada dia que passa, o cristão seja mais perfeito e a sua vontade se identifique cada vez mais com a vontade do Senhor.
Ao mesmo tempo que Cristo instituiu o Sacramento do Amor, deixou-nos também o Mandamento do Amor – o grande e Novo Mandamento, “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”.
Já pensamos em que não podemos ter parte com Cristo e unirmo-nos a Ele pelo sacramento do Amor se não praticarmos a caridade?! Diremos mesmo que o novo mandamento é condição para bem participar no Sacramento novo; há uma interdependência profunda entre um e outro: caridade para bem recebermos o Corpo do Senhor e caridade, fruto da mesma Comunhão.
Não ousaremos receber o alimento celeste se, dentro de nós, se albergar a inveja ou o rancor. Não basta, porém, a ausência destes sentimentos; é necessário transbordar de amor pelos irmãos.
Dominados, por vezes, por circunstâncias particularmente difíceis, somos tentados a subtrair-nos a esse princípio da fraternidade cristã. Mas porque sabemos que os muros que nos separam são obstáculos à nossa adesão ao Senhor, pretendemos tranquilizar-nos dizendo que não queremos mal a ninguém, como se esta atitude fosse suficiente para darmos cumprimento ao mandamento da caridade.
É fácil amar o pobre, enquanto a sua mão sente o peso da nossa, enquanto nos apelidarem de beneméritos, enquanto a sua miséria mais faça realçar a nossa pretensa virtude e enquanto na escuridão do seu casebre mais brilharem o fausto e as honrarias de que nos rodeamos, mas é tremendamente difícil, heroico até, amar os que nos fazem mal, os que passam rasteiras, os caluniadores, os que se riem do mal que provocam, os traidores, os que aniquilam para sempre, o valor moral ou intelectual dos outros. Só no Senhor teremos capacidade “para destruir o ódio, absorvendo-o e convertendo-o em amor, no próprio coração”.

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