28 de outubro de 2018 -30º Domingo do Tempo Comum -Ano B

A vida fácil e cómoda que o progresso material pretende proporcionar-nos não conduz à felicidade. O homem criado por Deus e para Deus só é feliz quando crê e confia no seu Criador. A fé, misto de credibidade e confiança, abre o caminho da nossa salvação, levando-nos ao conhecimento de Deus. No mundo materialista de hoje, que procura o bem-estar através do prazer dos sentidos, tentemos à luz da Palavra divina, anunciadora do valor da renúncia e da humildade, crescer na fé.
Este trecho de S. Marcos leva-nos a refletir sobre o problema da fé. Como dom gratuito de Deus a todos e a cada um de nós, a sua intensidade varia e pode aumentar, diminuir ou ser anulada. Isso dependerá de cada qual. Há, portanto, um princípio geral: Deus, Aquele que dá generosamente; o homem, aquele que recebe mais ou menos conforme a sua abertura e responsabilidade. A iniciativa vem de Deus. No caso concreto do cego de Jericó isto é bem patente. Jesus (Deus feito homem) passa pelo caminho onde ele mendiga e como que Se lhe oferece. Pondo-Se ao alcance de Bartolomeu manda-o chamar e dá-Se à medida da sua crença e confiança. Este encontro de Deus com o homem realiza-se também, com maior ou menor nitidez, na vida de cada um de nós, mas, infelizmente, nós rejeitamos, por vezes, essa aproximação.
Poder-se-á definir a fé? Ao tentar descobrir esta verdade vemos que é uma luz interior que nos faz sentir onde se encontra a verdadeira felicidade do homem e Quem no-la pode dar. A fé baseia-se numa adesão consciente a Jesus Cristo, salva-nos de nós mesmos, das nossas limitações, da nossa cegueira, das nossas dúvidas, da nossa solidão. Seguindo o Senhor, nós O conheceremos cada vez melhor e aumentaremos a nossa fé, sem nunca chegarmos, é claro, ao Seu conhecimento pleno. Esse só será alcançado depois da vida terrena, onde a fé já não existirá por ser desnecessária.
A fé é uma ciência que dê resposta a tudo, embora a possamos fazer crescer com a ajuda da nossa inteligência. Ela resulta mais do conhecimento do nosso coração do que propriamente do nosso raciocínio. Através do nosso espírito e do nosso coração, o Senhor dá-se a conhecer. Nós podemos conhecer Jesus intelectualmente através do Evangelho e de outros meios válidos, mas isso não nos conduzirá necessariamente ao caminho da fé como meio único de resposta à salvação do homem. Não nos devemos esquecer que se nós reconhecemos o Senhor não é simplesmente pela nossa reflexão, pela nossa procura, pelo nosso estudo, mas principalmente pela profundidade da nossa oração e do nosso amor, que são sempre resultado de Jesus ter passado pelo nosso caminho, de rer vindo ao nosso encontro. É Ele que nos abre os olhos da nossa «cegueira». Cabe-nos a nós mantê-los abertos para, tal como Bartolomeu fez, seguirmos Cristo em plena e voluntária adesão. Não esqueçamos que a fé viva não se reduz a um saber objetivo e frio. Podemos saber que Deus é Criador, é eterno e todo poderoso, podemos saber que existiu um homem chamado Jesus Cristo que diz ser Filho de Deus. Podemos saber tudo isto sem acreditar em Jesus. Crer é dizer a Cristo sim numa adesão e num compromisso que partem do mais profundo do nosso ser, capazes até de nos fazerem ariscar a vida por Cristo, se tal nos for pedido. Nesta ordem de ideias «os olhos» da fé não são um privilégio da inteligência culta. Há descrentes que podem conhecer perfeitamente o Evangelho e saber muita teologia, mas que se mantêm cegos sob o ponto de vista da fé, havendo em contrapartida muitos crentes que sabem pouca teologia e o mínimo das verdades de fé, mas que pela honestidade do seu coração, pela sua generosidade, pelo seu sim dado a Jesus Cristo, mantêm os olhos da fé bem abertos e vivem segundo a luz do Divino Espírito Santo. Estes são os autênticos discípulos do Senhor que, depois de verem, O seguem incondicionalmente. O Senhor abriu-lhes o espírito e o coração à luz da fé que não é mais que um ato de corresponsabilidade ao amor de Deus. Não se negando nunca a quem O deseja verdadeiramente conhecer e amar, Deus manifesta-se e prolonga-se na existência do amor ao próximo. A fé traduz-se assim em ação pela prática das obras do Espírito correspondentes às necessidades dos nossos irmãos.

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