1- Eucaristia, dom para amar até ao fim do fim
A Igreja recebeu a Eucaristia de Jesus Cristo como o dom por excelência, porque é dom d’Ele mesmo e, por isso, é ver é verdadeiramente o mistério da fé e o sacramento do mistério da Páscoa. Em S. Paulo (cf. Ef 1, 4-12; 3, 1-13), o mistério de Cristo indica o plano divino da salvação, cujo ponto central é o mistério da Páscoa.
Esta mesa de peregrinos conduz-nos ao banquete do Reino: «felizes os convidados para a ceia do Senhor». Assim o repetimos em cada celebração da Eucaristia, lugar onde somos alimentados pelo Corpo de Cristo e onde se manifesta visivelmente a unidade do Povo de Deus.
A Igreja não vive a partir de si mesma, mas a partir da Eucaristia, que gera a comunhão. O sentido originário é, como diz santo Ambrósio: «Beijamos a Cristo com o ósculo da comunhão… Não se trata do ósculo dos lábios, mas do coração e da alma».
A fonte do dom para amar até ao fim do fim é a Trindade, o Deus três vezes santo; como rezamos na Oração Eucarística II: «Vós, Senhor, sois verdadeiramente santo, sois a fonte de toda a santidade». A liturgia é capaz de narrar num espaço celebrativo concreto o espaço prometido. O espaço, o tempo, o corpo, os gestos e as palavras traduzem a santidade de Deus no aqui e agora da história e chamam- nos à comunhão possível até que um dia seja plena.
2- Ato-palavra do lava-pés
A narrativa da última ceia ligada ao lava-pés encontra-se apenas no evangelho de João. Todavia, o contexto da última ceia e o sublinhar do exemplo de humildade e de amor serviçal dado por Jesus reenvia-nos ao evangelho de Lucas e à exortação do próprio Jesus acerca do poder e do serviço (Lc 22, 24-27).
São João atribui expressamente ao lava-pés realizado por Jesus o significado da humildade a imitar pelos discípulos (cf. Jo 15, 12 e 13). Mas o fundamento de tudo é o amor: «Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo» e ainda mais claramente a seguir Jesus deixa o mandamento novo: «é este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15,12).
Jesus é mestre no servir e interpela-nos a fazer o mesmo. «Jesus não fala, quando se ajoelha diante dos discípulos para lhes lavar os pés. O seu ato vale pela palavra: o seu ato faz corpo com a sua palavra ou a sua palavra faz corpo com o seu ato. O seu ato é palavra» (José A. Mourão).
O sacerdócio batismal de todos os fiéis e o nosso ministério sacerdotal é ainda mais claro ao considerarmos a passagem evangélica do lava-pés, que continua o lugar onde Jesus revela o Seu amor total de eterna vida. Para Jesus, a única autoridade é o serviço. E nós somos «servos inúteis a tempo inteiro» (D. Tonino Bello) e não o queiramos ser em part-time.
3- Hoje, quem são os lavadores de pés?
– Os que acompanham os jovens e os pobres;
– Os bons cuidadores dos idosos;
– Os que de máscara, luvas, bata e outros equipamentos materiais e espirituais combatem o mal comum da pandemia covid-19 e todos os males com o bem comum do seu serviço, profissionalismo, inteligência, coragem e confiança;
– Os médicos, os enfermeiros e todos os que laboram na saúde;
– Os voluntários e todos os cuidadores junto das famílias e das pessoas sós e mais vulneráveis;
– Os que trabalham nos hospitais, nos lares de idosos, nos laboratórios, nos múltiplos serviços do funcionamento da sociedade;
– Os artesãos da paz e da reconciliação;
– Os pastores e os consagrados que estão com o povo santo fiel de Deus;
– As autoridades civis e da saúde que servem ao bem comum;
– Os que rezam e no serviço silencioso praticam o dom da caridade;
– Os que praticam as obras de misericórdia em favor de todos e sobretudo dos pobres da nossa cidade e Arquidiocese;
– As pessoas e as instituições que são conforto para os migrantes e refugiados da guerra;
– Todos os que arriscam dar a vida por amor.
«Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também» (Jo 13, 15). Esta é a vida que nasce da Eucaristia, dom da caridade e mistério de vida eterna.