26 de outubro de 2025 – 30º Domingo do Tempo Comum – Ano C | Aos pequenos, Tu reservaste, Senhor, o dom do Reino dos Céus.

Quem conta uma parábola estende sempre uma espécie de armadilha aos seus ouvintes: leva-os, sem que eles se dêem conta, a pôr-se a favor de um ou de outro personagem da história. Depois, quando estão plenamente envolvidos, tira a conclusão moral.
Lendo a parábola de hoje, podemos perder a sua mensagem porque corremos o risco de nos identificarmos com o personagem errado.
Estamos convencidos de que nada temos a ver com o fariseu hipócrita, antipático, cheio de orgulho e de presunção, que despreza com arrogância os outros e se sente justo sem realmente o ser. As nossas simpatias vão todas para o publicano que, pobrezinho, fez algumas asneiras, mas tem um coração de ouro, está arrependido e, portanto, merece amor e compreensão. Convencemo-nos de que esta parábola é dirigida àqueles que não sentem aversão pelo fariseu.
A parábola não é tão simples como parece ser à primeira vista.
Contemplemos antes de mais o fariseu que, assumindo a atitude normal (não orgulhosa) do judeu piedoso, reza em pé (como faz também o publicano). Nenhuma ostentação, nenhuma hipocrisia.
O seu monólogo é uma oração e quando se dialoga com Deus, quando se lhe abre o coração certamente não se pode mentir, diz-se apenas o que se pensa. Basta reler com atenção e sem preconceitos os vv. 11-12 e logo nos damos conta de que estamos perante uma pessoa reta, íntegra, honesta, que observa fielmente os preceitos da lei e evita escrupulosamente todos os pecados (os furtos, as injustiças, os adultérios).
Faz até mais do que aquilo que está prescrito
A lei ordena de jejuar um dia por ano e o fariseu jejuava duas vezes por semana para reparar os pecados dos outros e atrair para o seu povo as bênçãos de Deus. A lei estabelece que, no momento da colheita, o camponês entregue imediatamente aos sacerdotes a décima parte dos produtos principais: o trigo, o vinho, o azeite, os primogénitos do rebanho. São ofertas destinadas a beneficiar os pobres, a manter as despesas do templo e a formar os jovens rabinos.
Em contraste estridente com este primeiro personagem, eis que entra em cena o segundo, um publicano, aquele que imediatamente atraiu a nossa simpatia devido à sua humildade.
Este sim que nos engana, não é de maneira nenhuma o tipo manso e bonacheirão que parece ser à primeira vista.
É um ladrão calejado, um explorador odioso, um chacal.
Não extorque dinheiro aos ricos, mas aos pobres; impõe taxas exorbitantes aos camponeses mais miseráveis, àqueles que não têm sequer o pão para dar aos filhos pequenos. Não tem nada de bom a oferecer a Deus. Está carregado apenas de pecados.
A lei diz que, para se salvar, este deve restituir tudo o que roubou, mais 20% de juros e abandonar imediatamente a sua infame profissão. As condições são tão difíceis de atuar que os rabinos afirmam concordes que para os publicanos a salvação é praticamente impossível.
Agora que esclarecemos quem são os dois personagens, de que lado estamos? Espero que tenha diminuído um pouco a simpatia pelo publicano e que se tenha redimensionado também a aversão para com o fariseu.
Se esta é a nossa nova disposição, tentemos concluir a parábola de forma sensata e lógica.
Jesus deveria exprimir-se mais ou menos assim: o fariseu seja um pouco mais humilde; o seu desprezo pelos outros indispõe um pouco, mas, de resto, é um modelo a imitar. Com as suas obras, com a sua retidão, mereceu a justificação. A ele cabe o direito ao paraíso.
Quanto ao publicano: o seu arrependimento – certamente – coloca-o na boa estrada, mas não bastam os olhos baixos e um ato de contrição tão genérico para pôr tudo em ordem com Deus e com os homens. É preciso mais: deve restituir aos pobres o dinheiro que roubou e cumprir as prescrições da lei, porque os castigos de Deus incumbem sobre ele e cairão certamente, terríveis e repentinos.
Se concordamos com esta conclusão da parábola, então estamos na disposição certa para receber a lição de Jesus: «Eu vos digo que este (o publicano) desceu justificado para sua casa e o outro não).

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