27 de novembro de 2016 – 1º Domingo do Advento – Ano A

Entrar no Advento é entrar no tempo da espera inflamada pelo desejo de ir ao encontro do Senhor. A espera é esse tempo que verifica a nossa fé nesta travessia do deserto até chegarmos à terra prometida. O Senhor vem. A tradição cristã distingue três vindas do Senhor. A primeira aconteceu em Belém quando o Verbo divino se fez carne e habitou entre nós; comemoramos essa vinda no dia de Natal que o Advento prepara. A terceira vinda ocorrerá no fim da história quando o Senhor vier julgar os vivos e os mortos; durante o Advento, a Igreja grita: «Vem, Senhor Jesus!» manifestando o seu desejo de ver Deus instaurar o seu reino eterno. A segunda vinda é aquela que ocorre sempre que nós acolhemos o Verbo no nosso coração «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 14, 23); o Advento é o tempo propício para o acolhimento dessa palavra que precede a habitação de Deus em nós. Entremos em Advento.

  1. a) Vivemos numa atitude de espera. «Sucederá nos dias que hão-de vir, que o monte do templo do Senhor se há-de erguer no cima das montanhas e se elevará no alto das colinas.»

Encontramo-nos perante as três vindas de Jesus Cristo que convergem numa só:

Ao preparar a vinda histórica de Jesus, leva-nos a comungar na esperança dos Patriarcas e Profetas que, ao longo do Antigo Testamento, suspiraram pela Sua vinda. Vamos celebrá-la – torná-la presente e participar nela – quando celebrarmos o Natal do Senhor. Como aquele que, sem apetite, quando se senta à mesa, o sente despertar, perante o dos outros, a Igreja, com a sua pedagogia de Mãe, coloca diante de nós as aspirações destes justos do Antigo Testamento, para despertar em nós estes mesmos desejos.

Aponta-nos para a vinda escatológica, no fim dos tempos, quando Ele vier sobre as nuvens do Céu, para julgar os vivos e os mortos e convida-nos a estar preparados para esse momento. A lembrança deste acontecimento ajuda-nos a olhar com maior seriedade a nossa vida de cada dia e a ter as contas da alma em ordem.

Anima-nos a um esforço para crescer na vida de intimidade com Deus, para que se torne realidade, no íntimo de cada um de nós, a vinda espiritual. Concretiza-se na renovação da nossa vida cristã, sacudindo toda a poeira da tibieza, para crescermos na intimidade com Deus.

 

  1. b) Deus vem para nos salvar. «Ali afluirão todas as nações e muitos povos acorrerão…» A mensagem evangélica é claramente positiva e optimista. Não é tecida de ameaças de condenação, mas de promessas de salvação.

Na verdade, Deus ama-nos, e não Se cansa de nos oferecer provas do Seu amor infinito por nós. Ele não nos diz que ama a humanidade, mas os homens, cada um de nós.

Anima-nos a pôr a nossa vida em ordem, e a trabalhar pela santidade pessoal, recordando-nos que estamos em tempo de prova, à conquista de um prémio eterno.

Não podemos ficar em desejos vagos de melhorar a vida espiritual. É urgente formular propósitos concretos, indo ao encontro do nosso defeito dominante e ajudando os outros a uma vida mais feliz, a começar pela própria família.

Por isso S. Paulo nos convida a despertar do sono. Despertar é um acto pessoal em que podemos ser ajudados, mas ninguém nos pode substituir a fazê-lo.

 

  1. c) Ele respeita a nossa liberdade. «Vinde, subamos ao monte do Senhor ao templo do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os Seus caminhos e nós andaremos pelas Suas veredas.»

Que programa temos para este Advento que agora começa? Vamos deixar que tudo continue com a mesma rotina e frieza de sempre?

Dentro dos nossos propósitos estão o acolhimento à Palavra de Deus, a mortificação pessoal, eliminando pequenos caprichos que se tornaram hábitos desnecessários e até prejudiciais e partilhando com os outros o nosso entusiasmo de caminhar ao encontro do Senhor.

Somos um povo em marcha. Também Maria Santíssima, depois de ter acolhido o Filho de Deus nas suas entranhas virginais, caminhou ao encontro de Isabel para lhe levar a alegria e a graça para o filho que trazia em seu ventre.

 

  1. Ele vem para nos salvar
  2. a) Atenção aos sinais reveladores. «Como aconteceu nos dias de Noé […] não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou.»

A grande tentação dos homens de hoje é procurar o gozo do momento presente, sem olhar ao futuro, numa total falta de esperança. Por falta de fé, muitas pessoas hoje não esperam nada no futuro.

Procura-se apenas uma vida light, sem riscos, sem responsabilidades: o sexo sem risco, o tabaco sem nicotina, a cerveja sem álcool…

Paralelamente a este modo de pensar, as pessoas sofrem hoje de uma grande incapacidade para se comprometerem para sempre. O medo ao compromisso definitivo, para sempre, é um dos grandes obstáculos na descoberta e na vivência de qualquer vocação.

E como a vida não tem horizontes, surge a depressão, o suicídio, a união de facto, o divórcio.

 

  1. b) A esperança cristã. «Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós…»

É preciso levantar de novo a bandeira da esperança cristã. A nossa vida tem um sentido precisamos orientar a vida por ele.

A nossa vida tem um sentido: somos filhos de Deus e procuramos viver e intensificar na terra uma comunhão de vida com o Senhor e os irmãos para a continuar eternamente no Céu.

O Pai ama-nos tanto que nos dá o Seu Filho Unigénito para nos salvar. Ele assume a nossa natureza humana, com todas as suas limitações, para Ser um de nós e nos elevar à Sua altura.

Todo o Advento nos lembra esta loucura de Deus que nos ama e faz tudo o que está nas Suas mãos – sem nos privar da liberdade pessoal, para nos salvar.

Seja qual for a situação em que nos encontremos, temos sempre abertos os braços do Pai para nos acolher.

 

  1. c) Um programa para o Advento. «Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o Senhor.»

Toda a preparação do Advento a que a Igreja nos convida pode resumir-se na vigilância.

Para explicar a importância fundamental desta atitude na vida cristã, Jesus lança mão de duas imagens: o descuido dos contemporâneos de Noé, tão distraídos que não se aperceberam dos cuidados dele na construção da arca; e a imagem do ladrão que espera o momento em que a vítima está mais descuidada para desferir o golpe.

  1. Paulo concretiza esta vigilância na Carta aos fiéis de Roma:

– Acordar do sono em que nos deixamos cair. A rotina e o desleixo invadem a nossa vida e acabamos por deixar de rezar e fazer desleixadamente a nossa oração. A tibieza tolhe o nosso verdadeiro amor na vida. É tempo de ressuscitar, de começar uma vida nova.

– Abandonemos as obras das trevas. As obras das trevas são todas aquelas que estão contra a Lei de Deus. S. Paulo sublinha duas delas: é preciso evitar comezainas e excessos na comida e na bebida.

Tudo isto nos fala da necessidade da mortificação cristã. Façamos um plano de pequenas mortificações que nos ajudem a viver cada vez mais despertos para o Natal que se aproxima.

– Revistamo-nos das armas da luz. Para ser santo não basta não fazer mal. É preciso realizar boas obras: oração, testemunho de caridade e de alegria.

Mas, para as realizarmos, temos necessidade da luz da formação doutrinal. Sem ela não somos capazes de procurar o bem, a vontade de Deus.

– Andemos dignamente, como em pleno dia. Uma vida fundada na verdade, sem disfarces, eis o que o Senhor nos propõe neste princípio do Advento.

Viver em pleno dia pode significar para nós conformar o comportamento com a nossa condição social, sem procurar grandezas artificiais e adoptar como lema nunca realizar qualquer obra da qual nos venhamos a envergonhar no juízo final.

O melhor modo de viver bem este Advento é participar cada vez melhor na Celebração da Eucaristia, deixando-nos banhar pela Palavra de Deus e alimentando-nos com o Corpo e Sangue do Senhor.

Junto de Maria Santíssima – por uma devoção filial – aprenderemos a esperar e preparar a vinda ao mundo d’Aquele que vem para nos salvar.

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