24 de dezembro de 2023 – Solenidade da Noite de Natal – Ano B

O Senhor convida-nos, pela voz da Liturgia, a abandonar o conforto das nossas casas para irmos em espírito à gruta de Belém, para celebrarmos o nascimento do Salvador do mundo.

Não se trata de uma piedosa lembrança a comemorar, mas de tomar parte neste acontecimento para o celebrar com alegria. Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor.

Aproximemo-nos com o respeito que nos merece o berço de uma criança, para Lhe segredarmos em voz baixa o nosso amor e a nossa gratidão.

 

1. Um Menino nasceu para nós

 

Nesta Noite de Natal, no centro da nossa alegria está um Menino que nos foi dado. É à volta d’Ele que desejamos realizar a nossa festa, porque outra coisa não faria sentido.

Nasceu o Desejado das Nações. A história do mundo divide-se em duas épocas: antes de Cristo e depois de Cristo. Não se trata de uma divisão artificial, mas exprime uma grande realidade.

Durante muitos séculos, Deus foi preparando o mundo para esta hora da Salvação.

– O mundo tinha, finalmente, uma unidade de governo, sob o Império Romano, dando ao mundo conhecido de então uma paz nunca obtida antes.

– Havia a unidade de língua, facilitando o anúncio da Boa Nova. Quem soubesse falar latim ou o grego comercial, era entendido em toda a parte;

– Foram estabelecidas vias de comunicação. Havia carreiras de barcos entre todas as províncias do Império banhadas pelo mar, entre abril e setembro; e as vias romanas ligavam todo o mundo conhecido com a cidade de Roma.

– A falência dos deuses do paganismo era evidente. Os homens imolavam os seus semelhantes em sacrifício e adoravam deuses que eram a glorificação dos vícios e pecados dos homens.

A tal ponto chegou o descrédito que, na cidade de Atenas, era proibido anunciar novas religiões e divindades.

«Um menino nasceu para nós,
 um filho nos foi dado.
 Tem o poder sobre os ombros
e será chamado “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”»

Hoje renova-se a necessidade de que Deus venha. O mundo europeu atravessa hoje a maior crise da história, depois da vinda de Cristo.

Não é uma crise de alimentos que o faz sofrer, mas uma crise de amor, porque esta civilização do conforto acabou por fechar as pessoas no espaço estreito do seu egoísmo. Como temos muitos “brinquedos” para encher o tempo – a televisão, o telemóvel, o computador com a internet –, esquecemo-nos dos outros e fechamo-nos em nós mesmos.

Vivemos na mesma casa e sentamo-nos à mesma mesa, mas procedemos como se estivéssemos sós no mundo, entretidos com os nossos brinquedos.

Renova-se a falta de respeito pela vida humana. Legaliza-se o aborto e a morte dos idosos, diminuídos e doentes, pela eutanásia.

Assistimos ao maior ataque de sempre contra a família, pela união de facto, o divórcio e o re-casamento.

 Temos urgente necessidade de que Jesus Cristo volte a nascer na família, na sociedade, na escola, no mundo do trabalho.

Recebemos uma grande Luz. Jesus Cristo apresenta-se como sendo a Luz do mundo e deseja que cada cristão seja luz para os que vivem com ele. Havemos de sê-lo pela clareza da doutrina, conhecendo bem o Catecismo; e pela vida de acordo com os ensinamentos do Divino Mestre.

Que a nossa vida seja um reflexo da luz que brilhou em Belém na noite de Natal, pelo otimismo e alegria; amizade e compreensão.

«O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte
uma luz começou a brilhar

É a luz da Verdade e do Amor que dissipa as trevas do erro e da mentira; que desterra o ódio e a indiferença.

Ele é a fonte da nossa alegria. Para nos ajudar a compreender a alegria que o nascimento do Salvador causa no mundo, o profeta Isaías recorre a comparações da vida humana: os lavradores que regressam dos campos a cantar, com os braçados das colheitas; ou os soldados que, depois da incerteza e perigo da batalha, repartem depois os despojos conquistados.

«Multiplicastes a sua alegria,
aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença,
 como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos

Interiorizemos a alegria desta noite, para que brote da verdadeira fonte. As prendas, os enfeites e a ceia de Natal só fazem sentido se estamos a celebrar a alegria do nascimento de Jesus.

Recuperamos a liberdade de filhos de Deus. As pessoas tornaram-se escravas umas das outras, pelo regime da escravatura; e escravas de si mesmas pelas paixões desordenadas. Cristo vem ajudar-nos a reconquistar esta dupla liberdade, ando-nos a dignidade de filhos de Deus.

«Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo,
 o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor

Ele dá-nos a verdadeira paz. Ele dá-nos a verdadeira paz porque nos leva a procurar a justiça em todas as nossas ações. O novo nome da paz é a justiça.

Isaías profetiza o fim da guerra com o nascimento do Salvador. Mas esta promessa virá a ser real se nós quisermos. É preciso acolher este dom de Deus destruindo em nossos corações as causas das guerras.

«Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue
 serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas

 

2. Deus Menino vem ao nosso encontro

Deus serviu-se de um decreto dos homens, mandando que fosse recenseada toda a terra para que o Redentor do mundo fosse nascer onde o tinham anunciado as profecias.

Como José e Maria eram descendentes do rei David, dirigiram-se para Belém a fim de se recensearam. O Filho de David, Aquele que vem ocupar o seu trono, nasce na mesma terra.

«José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe

Belém, berço do Salvador. O nascimento de Jesus em Belém não foi uma surpresa inesperada para Maria e José.

Eles conheciam as profecias sobre o nascimento do Salvador. Além disso, quando viajaram para lá, bem sabiam que a Mãe de Jesus não estava em condições de regressar antes de dar à luz virginalmente o Redentor do mundo.

Outra coisa diferente seria desconhecer o sacrifício que exigiu das duas criaturas mais amadas de Deus o nascimento de um filho longe de casa e no meio de pessoas desconhecidas, no maior desconforto.

O primogénito de muitos irmãos. «Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito

A palavra Primogénito, divinamente inspirada, pode significar duas verdades: quando nasce o primeiro filho a um casal, é sempre o primogénito, mesmo que não venha a ter mais irmãos. Esta expressão em nada atenta contra a virgindade de Maria antes do parto, no parto e depois do parto.

De facto, Jesus é o primogénito de muitos irmãos, porque vem restituir-nos a filiação divina que o pecado de Adão nos tinha arrebatado. É o primogénito porque, na verdade, Maria é também a nossa Mãe, na vida da graça.

A delicada generosidade de Maria. Alguns livros piedosos lançam imprecações contra os habitantes de Belém, por não terem oferecido uma casa à Sagrada Família onde pudesse nascer o Salvador.

«Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria

A Hospedaria daquele tempo resumia-se a um espaço cercado por um muro onde as pessoas acampavam a céu aberto. Não era o ambiente propício para Jesus nascer, juntando os primeiros vagidos àquele arraial noturno.

Além disso, toda a pessoa que tocasse numa parturiente em trabalhos de parto, ficava impura, segundo a Lei de Moisés, e tinha de se submeter a complicadas e demoradas purificações antes de tomar parte nos atos de culto.

Maria e José, com suma delicadeza, e sempre a pensar nos outros, procuraram evitar estes incómodos, preparando rapidamente uma das grutas onde abrigavam os animais durante a noite para que não se extraviassem nem fossem roubados.

O romantismo dos nossos presépios conservou a mula e o boi ao lado da manjedoura.

Vamos a Belém. Deus manifesta-se aos corações simples. Precisamos de pedir este coração ao Senhor, antes de nos aproximarmos do Presépio.

Os que discutem tudo o que se refere ao nascimento; que acham que montar um presépio não é próprio de gente adulta e importante, mas entretenimento para crianças, devem despojar-se destes sentimentos antes de se aproximarem.

Os anjos não convidam os Doutores de Lei daquele tempo, nem os governantes e outras pessoas importantes, para visitarem o presépio, mas os humildes pastores que cuidavam dos rebanhos de onde sairiam os cordeiros para os sacrifícios do Templo de Jerusalém; e os cordeiros pascais das famílias.

«Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz.»

O fim de todos os medos. A primeira palavra que o Anjo do Senhor diz aos pastores humildes e cheios de medo, é esta: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor

Não tenhamos medo dos nossos pecados e defeitos que a luz do Presépio torna mais visíveis.

Não tenhamos medo de nada nem de ninguém, porque somos filhos de Deus e não temos inimigos.

Não tenhamos medo de nada nem de ninguém, como dizia um santo dos nossos dias, porque Deus é nosso Pai.

Deus não quer ser temido, mas amado por cada um de nós, porque veio restituir-nos esta intimidade e reconduzir-nosà vida íntima com a Santíssima Trindade.

Com Maria e José aguardemos com Esperança o nascimento do Salvador para nós.

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