22 de fevereiro de 2023 – Celebração de Quarta-feira de Cinzas

Com uma chamada à conversão pessoal e à penitência, a Quarta Feira de Cinzas marca o princípio da Quaresma de cada ano.

A imposição das cinzas, que devem proceder dos ramos de oliveira queimados que restaram do Domingo de Ramos, lembram-nos uma verdade irrecusável: o nosso corpo voltará a desfazer-se no pó da terra, até que alcance a ressurreição gloriosa.

Este rito está a ensinar-nos que tudo quanto não é feito por amor de Deus e do próximo, é cinza que calcamos com os pés. É uma advertência para que não nos deixemos enganar, armazenando falsas riquezas que para nada servem.

 

  1. Quaresma, tempo favorável

Conversão verdadeira. «Diz agora o Senhor: «Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos

Deus quer de nós, neste primeiro dia da Quaresma, uma conversão total, completa. É o que nos ensina pelas palavras: «Convertei-vos a Mim de todo o coração.»

Não se trata de ficarmos santos de repente, como quem prime um botão e ouve imediatamente uma campainha ou acende uma luz.

Podemos falar de duas espécies de conversão: afectiva e efectiva.

  • Conversão afectiva. Consiste na mudança de vontade que, na linguagem popular é simbolizada pelo coração. Trata-se de querer emendar-se de todos os pecados de efeitos, Não o seria se puséssemos reservas a esta mudança de coração, reservando algum defeito ou pecado, mesmo venial, de que não nos queremos emendar.

O apego ao pecado venial ou a um defeito chama-se tibieza e torna-se um entrave muito sério para a salvação. Na verdade, para prender as asas de uma ave tanto serve uma corda de carro, como um laço. O efeito prático é o mesmo, embora a corda seja mais difícil de quebrar.

Neste caso não teríamos uma verdadeira conversão, porque a alma continua presa ao lodo da terra e não pode voar ao encontro de Deus. Este apego vai tornar-se facilmente uma pedra de tropeço, fazendo-nos voltar às infidelidades do passado.

  • Conversão efectiva. Consiste na emenda verdadeira dos pecados e defeitos. Esta, sim, é trabalho para a vida inteira.

Muitas vezes convencemo-nos de que já voamos muito alto, corrigimos os defeitos e pecados e, de repente, estatelamo-nos na terra, leve ou gravemente. Deus permite-o, para que sejamos humildes, uma vez que a soberba é o maior obstáculo ao nosso caminhar para Deus.

Esta conversão diária não é uma utopia. Deus vai-nos dando vitórias sucessivas, de tal modo que uma vitória prepara outra, do mesmo modo que uma derrota prepara a seguinte.

  • Conversão pela contrição. Devemos procurar a contrição perfeita dos nossos pecados, que se concretiza na dor – arrependimento – motivado pelo amor de Deus.

O profeta Joel faz alusão a um costume dos judeus que, para manifestarem o seu arrependimento, rasgavam com ruído, uma tira de pano que tinham cosido na sua roupa, para significar a sua reprovação, quer dos próprios actos, quer dos alheios.

O importante, nesta conversão, não são os gestos exteriores, mas a mudança de coração arrependido.

 

  1. Um programa para a Quaresma

 Vivê-la com humildade. «Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Aliás, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus. “Teu Pai, que vê no segredo, te dará a recompensa”.»

Há duas tendências desordenadas em nós, quando se trata de fazer alguma coisa boa: fugir de tudo o que custa e dar espectáculo com alguma coisa boa que fazemos, à procura da aprovação e aplauso dos outros.

O Senhor pede-se, com especial insistência nesta Quaresma, que não façamos uma coisa nem outra.

  • Não fugir do que custa. A vida e a saúde do corpo exigem de nós que façamos esforços custosos:

– As caminhadas, sobretudo quando está frio ou mau tempo, são um sacrifício custoso que, às vezes, nos esquecemos de oferecer a Deus.

– O cuidado com o arranjo pessoal, as boas maneiras de quem vive em sociedade, a atenção amiga e constante aos que vivem connosco, são tesouros que devemos aproveitar.

– O levantar todos os dias para ir trabalhar, o permanecer activo e atento durante as horas laborais, podem ser encaminhados para Deus.

  • Fugir do espectáculo. Fazer coisas boas para que os outros vejam, tenham boa impressão de nós e nos louvem é, de facto, um pagamento muito pobre. Somos pouco ambiciosos, alem de nos causarem um enorme prejuízo: «não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus

Montserrat Grases, uma menina que, ao fazer desporto na neve, deu uma queda, e adoeceu com um cancro nos ossos do qual veio a falecer com fama de santidade, estava muito desfigurada e pálida, às vezes, por causa das dores que aa doença lhe causava.

Procurava, então, pintar-se habilmente, para que os familiares e as pessoas que a visitavam não ficassem tristes ao vê-la sofrer.

Também os Pastorinhos de Fátima são disto um exemplo. Sabiam esconder de tal modo a sua vida de mortificação que os familiares de nada se apercebiam.

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