21 de fevereiro de 2016 – 2º Domingo da Quaresma Ano C

Nesta caminhada quaresmal, procuramos com mais frequência contemplar o rosto de Deus que Se nos manifesta pelas verdades da fé. Esta contemplação há-de produzir como fruto o Amor vivido em obras.

Neste 2.º Domingo da Quaresma o Senhor convida-nos a prosseguir esta caminhada com alegria, guiados por certezas que não enganam. Propõe-nos também uma revisão da nossa fé: o seu aprofundamento, a vivência prática e o apostolado pelo nosso testemunho.

A fé do Patriarca Abraão

Yahvé convida Abraão a contar, se possível, as estrelas do Céu e promete fazê-lo pai de uma descendência ainda mais numerosa. Na distância dos tempos, Deus via Abraão, não só pai do Povo Hebreu, Deus referia-se à Igreja, novo Povo de Deus.

A descendência era considerada um sinal da benevolência de Deus, uma bênção. Deus mostrava, por este meio, quanto amava o nosso Pai na Fé e como lhe agradara a confiança incondicional no Senhor que o levara a abandonar a família, os bens e a terra e partir para cerca de mil quilómetros de distância.

Hoje, o homem individualista não veria nesta promessa uma bênção. No entanto, continua a experimentar o desejo de se perpetuar nos filhos – com que alegria os pais e avós acarinham uma criança que nasce! – nos monumentos (estátuas, túmulos, etc.), nas ruas dedicadas e na literatura. Quer dizer que a aspiração a eternizar-se continua igual, embora com outras expressões.

Fé e entrega a Deus. Deus continua a lançar a cada pessoa o mesmo desafio de abandonar o que lhe é querido, confiando na promessa do Senhor. É este o repto lançado a todo aquele que segue uma vocação de castidade celibatária, por amor do Reino dos Céus: deixa os seus projectos humanos de constituir uma família, para amar mais a Deus presente nos irmãos; ao casal que deseja viver até às últimas consequências a sua fidelidade ao compromisso assumido, mesmo quando não recebe o dom dos filhos; ao missionário, quando joga todas as suas aspirações humanas nas mãos de Deus.

Este dar à vida uma rumo de eternidade feliz só se alcança pela fé vivida com fidelidade.

A Fé, virtude sobrenatural. Ter é confiar em Deus, fiar-se d’Ele, actuando em consequência com esta confiança. A fé não poderá, portanto, separar-se das obras.

A confiança de Abraão em Deus não é fruto dos esforços humanos do santo Patriarca, mas é puro dom de Deus.

Também nós somos tão pequeninos que não podemos oferecer seja o que for a Deus, sem que Ele coloque previamente esse dom em nossas mãos. Não temos, pois, razão para nos orgulharmos da nossa vocação cristã, da perseverança, nem autoridade para julgar seja quem for.

Por isso, os Apóstolos – e nós também – sentiam a necessidade de pedir ao Senhor que aumentasse a sua fé

Como o Apóstolo, podemos perguntar a nós próprios: «Que possuis que não tenhas recebido

As dúvidas contra a fé. Deus manda a Abraão que prepare um sacrifício cruento: Abraão espera até ao anoitecer que o Senhor se manifeste. Enquanto as aves de rapina adejam sobre o altar, tentando roubar a matéria do sacrifício, e um sono pesado o atormenta, Abraão sente-se tentado na confiança. Não será tudo aquilo um sonho?

Também nós experimentamos a fraqueza da carne, manifestada no sono profundo e na tentação de ceder à dúvida, abandonando tudo. Quem não passou alguma vez por esta provação de lhe parecer que tudo quanto arriscou por Deus na vida foi um mau negócio, porque não tem correspondência real?

As aves de rapina – o demónio e os maus exemplos que suscita na terra – tentam arrebatar-nos a matéria do sacrifício que é a nossa entrega. Não é pelo raciocínio que dissiparemos as dúvidas, pela oração humilde que nos alcança a graça de perseverar.

Deus nunca falta. Finalmente, um facho ardente – manifestação de Deus – passa entre as vítimas esquartejadas, segundo o rito usado naquele tempo. Os dois comprometidos – aqui só Deus Se compromete – passavam entre as metades das vítimas pronunciando uma frase tremenda: «o mesmo que aconteça a mim, se vier a faltar ao meu compromisso!»

Esta Aliança era uma figura da que o Pai fez, em Jesus, no Calvário, também de modo sangrento. O «archote» do Amor infinito com que Deus Se entregou por nós garante-nos que Ele nunca falta às Suas promessas.

Unimo-nos a esta Aliança de Amor, aceitando o Baptismo com todos os seus dons e maravilhas: purificação do pecado original, a filiação divina, com o chamamento a uma vida de comunhão com Deus e com toda a Igreja, a herança do Céu, com todas as bênçãos e graças na vida presente.

Mais do que uma descendência numerosa, o Senhor promete-nos uma família sem fronteiras, com a qual viveremos em comunhão feliz – a própria felicidade de Deus – para sempre!

A luta contra as tentações da fé

Jesus leva consigo ao alto de um monte três dos Seus Apóstolos: Pedro, Tiago e João. São os mesmos que testemunham a ressurreição da menina e que vão ficar perto d’Ele nas duas horas de agonia no Horto.

O Mestre ensina-nos, com este gesto, entre muitas outras coisas, a lutar pela superação das tentações contra a fé. Todas convergem, afinal, para uma única: a soberba, embora com diversas manifestações.

Queremos entender tudo. Esta tentação não é puramente intelectual, como se a fé nos pedisse alguma coisa contra a razão. Aparece, principalmente, quando as verdades da fé levam a um compromisso de vida: exigência de um comportamento moral, desprendimento dos nossos projectos, arriscar o invisível, largando o que já temos na mão…

Se assim fosse, onde ficaria espaço para a confiança em Deus? Quando eu vejo tudo, compreendo tudo, não fica lugar para a fé.

Havemos de procurar aprofundar os conhecimentos da razão até onde for possível, mas parar respeitosamente diante do mistério.

Deus leva-nos, por ela, a ver até onde a nossa inteligência não alcançaria, descobrindo horizontes nunca sonhados. Vemos mais longe e melhor. Ele transmite-nos a Sua capacidade de ver e de entender, tanto quanto o permite a nossa natureza criada.

A ignorância. «Disse-Lhe Pedro: ‘Mestre, que bom é estarmos aqui!’» Temos uma fé débil, e queremos uma vida segura que não arrisque em mais nada a nossa vida.

É preciso alimentar a nossa fé com uma formação contínua e bem orientada. Há meios de formação – retiros, recolecções, conferências – muitos e bons livros e alguém que nos ajude a orientar a nossa vida.

Reconheçamos que esta crise actual se alimenta de uma catequese deficiente, logo enfraquecida ou mesmo apagada por filmes, programas de TV, leituras, maus exemplos.

É muito fácil encontrar pessoas que realizam manifestações de religiosidade, mas se recusam teimosamente a qualquer espécie de compromisso de vida.

Procuramos uma vida sem o mistério da cruz. Teimamos em recusar um esquema de vida em que a cruz está presente. Revoltamo-nos contra qualquer doença ou contrariedade. Porque Deus sai dos nossos esquemas, entramos em crise de fé.

Pedimos ao Senhor que nos resolva um problema e teimamos como se Ele estivesse obrigado a submeter-Se aos nossos critérios. Quando Deus não nos atende logo, ou quer que aprofundemos a intimidade com Ele, por uma oração mais prolongada, ou tem guardado para nós um mimo superior ao que desejávamos.

Não é por acaso que, logo na descida do monte, depois de ter mostrado tantas maravilhas aos Apóstolos, Jesus começa a falar-lhes claramente do Mistério Pascal: a Sua Paixão, Morte e Ressurreição: Ele nunca separa, na catequese estes três passos. Tudo, na nossa vida, acabará em glória, mas depois de passar pela morte e sepultura.

No alicerce de toda a nossa confiança em Deus está a filiação divina recebida no Baptismo.

A Eucaristia, mistério de fé. No primeiro dia de cada semana – o Dia do Senhor, celebração da Páscoa semanal – somos levados pela mão a robustecer a nossa fé.

Alimentamo-la com a Palavra de Deus que é proclamada para nós; fortalecemo-la com a recepção do Corpo e Sangue do Senhor; exprimimo-la e testemunhamo-la diante dos nossos irmãos, rezando e cantando.

Partimos de cada Missa com o mandato de anunciar aos que não estiveram connosco as maravilhas do Senhor.

Santa Isabel aclama Nossa Senhora porque acreditou em tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor. Aprendamos com Ela a meditar a Palavra de Deus em nosso coração, para que a nossa fé cresça de cada vez mais e se exprima em obras de vida eterna.

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