2 de julho de 2021 – sexta-feira da 13ª Semana do Tempo Comum – Vocação do publicano Mateus

PARA UMA RELIGIÃO AUTÊNTICA

  1. Uma acusação com fundamento. Realmente era verdadeira a acusação dos puritanos a Jesus: Anda com pessoas de má fama. Assim o evidencia o evangelho de hoje, em que o Senhor chama para a sua companhia, como um apóstolo mais, Mateus – a a quem Marcos e Lucas chamam também Levi, publicano de profissão, isto é, cobrador de impostos para os romanos, a potência estrangeira de ocupação. Os abusos dos publicanos, “ladrões oficiais”, eram manifestos, pois aí radicava a sua margem de lucro. Por isso mesmo eram de evitar social e religiosamente, na opinião dos mestres da ortodoxia judaica.

Porquê essa preferência de Jesus pelos marginalizados da salvação? “Não têm necessidade de médico os sãos, mas os doentes. Ide, aprendei o que significa quero misericórdia e não sacrifícios: com efeito, eu não vim chamar os justos mas os pecadores”. Eis aqui a explicação da conduta de Jesus e o substrato de todo o seu mistério de encarnação na raça humana, a razão de toda a sua vida e do seu evangelho, a finalidade da sua morte e ressurreição.

Jesus provoca intencionalmente o escândalo dos puritanos tomando partido pelos pecadores para mostrar a misericórdia de Deus, que os acolhe e perdoa como o pai ao filho pródigo. Mais ainda: avisou os chefes religiosos do povo judeu de que publicanos e prostitutas lhes levavam a dianteira no caminho do reino de Deus. De facto, foram os pecadores e os ignorantes, os pequenos e os pobres, os doentes e marginalizados, que captaram a mensagem libertadora de Cristo melhor que os justos e os sábios, os grandes e os entendidos.

Ninguém, pois, deve escandalizar-se; porque a misericórdia de Deus não é cumplicidade e laxismo permissivo, mas procura do homem para o promover e redimir. Mateus era um marginalizado da salvação e um discriminado social, como o são hoje tantos homens e mulheres. Não obstante, ou precisamente por isso, Cristo dignifica-o e restabelece-o na sua condição de pessoa e de filho de Deus com o voto de confiança que supôs o convite do “segue-me”; sugestão que, por certo, contava com todos os pressupostos em contrário. Mas para o Senhor a pureza religiosa autêntica não é a legal, mas a conversão ao amor, à piedade e à misericórdia.

  1. Para uma religião autêntica. Remetendo-se à frase de Deus pelo profeta Oseias: “quero misericórdia e não sacrifícios”, Jesus não patrocina uma religião sem culto, mas uma religião essencial que não se fique por uma prática meramente ritualista, alheia ao compromisso da vida. Na linha profética Cristo diz não a uma religião que passa ao lado do homem e do amor ao irmão. Não é um dilema eliminatório; não se trata de suprimir o culto litúrgico, os “sacrifícios”, mas de projetar a sua celebração para o amor e a fraternidade, que rompem as barreiras discriminatórias; para a justiça que liberta os mais fracos.

Hoje é dia de examinar as nossas motivações religiosas: Porque é que acreditamos em Deus e porque devemos praticar a religião? Há motivações falsas e autênticas.

Entre as falsas motivações estão: o ver a religião como um seguro que garante a própria salvação; o individualismo egoísta, que se procura a si mesmo; a religião mercantil do mérito espiritual; o medo do castigo de Deus, quando este temor anda órfão de amor; o ritualismo formulista, que tenta ganhar magicamente o favor divino à base de mecanismos culturais; o espírito de ghetto incontaminado e privilegiado, frio e insociável perante os outros, etc..

Entre as motivações autênticas, de acordo com a sinceridade evangélica ao estilo de Jesus, estão: a fé e a entrega incondicionais a Deus como resposta a um amor que nos precedeu primeiro em Cristo; a atitude de receptividade e pobreza perante a gratuitidade de Deus, que nos ama porque ele é bom e não porque mereçamos; a adoração ao Pai em espírito e em verdade; a piedade e a misericórdia, que privilegiam o amor ao irmão; a abertura ao marginalizado social e religioso; a compreensão, a tolerância e a justiça, inclusivamente sobre o próprio culto; o conhecimento de Deus, definitivamente, por meio de seu Filho e da sua Palavra pessoal que é Cristo, feito homem por nós, “morto pelos nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação”.

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