2 de fevereiro de 2016 – Festa da Apresentação do Senhor

A Apresentação do Senhor é a festa de Cristo «luz do mundo», e do encontro do Messias com o seu povo, no Templo de Jerusalém.

O dia 2 de Fevereiro é, para cada cristão, em especial para os consagrados, uma excelente ocasião para meditar sobre o dom da própria vocação à consagração total de si a Cristo, numa experiência de sincero arrependimento das próprias faltas e de renovado amor, para viver uma relação mais verdadeira com Deus e com o próximo.

A promessa de Deus

Nós estamos habituados a cumprir um certo número de práticas religiosas para «estarmos de bem com o Senhor» e ficamos melindrados porque, na nossa maneira de pensar, os «malvados» são bem vistos e recompensados pelo Senhor. Assim pensavam também os israelitas.

Ora, Malaquias diz na sua profecia que o Senhor responde a esta questão com uma promessa solene: «Enviarei o meu mensageiro, para que me prepare o caminho» e depois – continua – aparecerá um outro chamado «Senhor», «Anjo da Aliança», «Senhor do Universo», que depurará a religião de Israel. Actuará como o «fogo dos fundidores» e a «lixívia dos lavandeiros». É evidente que o fogo aniquila os resíduos dos metais e a lixívia queima numa ferida, mas branqueia e limpa os tecidos e as roupas manchadas. Assim será preciso que aconteça com a nossa maneira errada de pensar e agir, para que se complete em nós a promessa do Senhor.

A sua realização

Tal promessa cumpriu-se com a vinda de Jesus, que introduziu a única religião agradável a Deus, a do coração, a do amor aos homens. Jesus anulou para sempre a religião composta pelos homens, a que não é adesão a Deus e que se reduz a gestos quase mágicos, mas instituiu a Eucaristia para expressar a plena anuência a Ele e à sua promessa de vida.

Talvez a nossa prática religiosa ainda precise de uma purificação com o «fogo» e com a «lixívia» (cada um terá de se interrogar!). Não estará circunscrita ainda a simples ritos que não modificam o nosso coração, que nos deixam conviver com os nossos egoísmos e paixões, com as nossas misérias e infidelidades?

Mas Jesus será sempre a ajuda necessária para todas as nossas dificuldades.

Ajuda em toda a provação

Ele não ficou no céu para nos indicar, do alto, o caminho que conduz à libertação, para nos apontar de longe os procedimentos a seguir. Deixou-se ser tentado durante toda a sua vida, como homem que era, sem se deixar vencer pela tentação, mas fazendo em tudo a vontade de seu Pai. Mesmo sendo Deus aceitou em tudo a condição humana e partilhou, desde a infância, todas as experiências humanas. Deixou-se envolver pessoalmente nos nossos dramas, nas nossas dúvidas, nas nossas angústias, nos nossos problemas.

A família de Nazaré seguiu o cumprimento escrupuloso de todas as determinações da lei do Senhor. Por isso, desde os primeiros anos da sua vida, Jesus cumpriu fielmente a vontade do Pai, vontade que se declara nas sagradas Escrituras. Os pais consagraram-no ao Senhor desde o início da sua vida, educando-O coerentemente com a fé que professavam. Simeão, quando o Menino lhe é apresentado, mostra que Jesus não pertence apenas ao seu povo, mas está destinado à salvação de todas as gentes e será luz para todas as nações.

Todos os pais se preocupam justamente em dar uma educação, uma instrução, um trabalho e uma boa posição social aos seus filhos, mas isto não é suficiente: têm uma outra missão, muito mais importante, a cumprir: devem, à semelhança da sagrada família, consagrar os seus filhos ao Senhor desde o início da sua vida. Educá-los para uma vida cristã fiel e coerente com tudo aquilo que se encontra descrito no Evangelho.

A vida autenticamente cristã dos pais é a melhor maneira de dar catequese aos filhos: rezando em família, lendo a Bíblia para nela encontrar a luz da própria vida, participando nos encontros da comunidade cristã, praticando o amor, o perdão e a generosidade. Os filhos seguirão o exemplo que virem na prática dos pais.

É de louvar também o bom costume do nosso povo de apresentar e consagrar no dia de hoje as crianças ao Senhor, entregando-as à vigilância maternal da Virgem Nossa Senhora, também denominada Senhora das Candeias ou da Candelária.

Anunciadores como Simeão e Ana

A presença de Simeão e Ana no rito litúrgico da apresentação do Menino Jesus no templo de Jerusalém serviu para explicitar a identidade e a missão do Filho de Deus. Ele era muito diferente dos inúmeros primogénitos trazidos ao templo para serem consagrados ao Senhor.

Simeão estava convicto de tratar-se do Messias. O Espírito Santo havia-lhe revelado que não morreria antes de vê-lo. Quando chegou ao templo, também movido pelo Espírito Santo, e deparou-se com o menino Jesus, não teve dúvidas de que a promessa divina tinha sido cumprida. Daí o seu hino de louvor, proclamando-o como presença da salvação na história do povo eleito, luz para iluminar todos os povos e ajudá-los a superar as trevas do erro, e motivo de glória para Israel. Posto como sinal de contradição, haveria de provocar divisão a seu respeito: se por um lado seria reconhecido e acolhido por uns, por outro lado tornar-se-ia motivo de escândalo e ódio para outros. Seria impossível manter-se neutro diante d’Ele, pois a Sua presença revelaria os pensamentos escondidos no íntimo dos corações.

Por sua vez, Ana tornou-se uma espécie de apóstola do Messias, pois «falava do menino a quantos esperavam a redenção de Jerusalém». Ela demonstrou estar absolutamente certa de quem se tratava. Daí ter-se empenhado em dizer a todos que, afinal, a salvação estava a acontecer.

Peçamos, a exemplo de Simeão e de Ana, e por intercessão da Família de Nazaré, que o Senhor nos faça penetrar no mais profundo do mistério de Seu Filho Jesus, e nos torna anunciadores da salvação presente na nossa história.

Não somos o salvador nem a salvação

Os pais do Menino continuavam admirados com o que d’Ele se dizia… e regressaram para a Galileia, cumpridas que foram todas as prescrições da Lei do Senhor, e o «Menino crescia e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele».

Dois mil anos depois destes acontecimentos, como aqueles profetas Simeão e Ana, é impossível deixarmos de nos alegrar e cantar que «o Senhor do Universo é o Rei da glória», pois vemos, ouvimos e lemos… na vida e na História que, de facto, aquele Jesus Menino continua a maravilhar tudo e todos… E sempre que cumprimos o que da parte de Deus nos vem, a nossa vida e a dos que nos rodeiam tem um sinal mais positivo e misericordioso…

Muitas vezes, percebemos em nós uma que outra relutância em nos apresentarmos ao Senhor tal como somos e, sobretudo, como Ele desejaria: seja porque nos sabemos pecadores, seja porque, por vezes, nos convencemos de que há coisas de Deus que não nos parecem «actuais»… e queremos deixar a nossa marca! Nós, porém, não somos nem o «salvador» nem a «salvação» de nada nem de ninguém… somos, isso sim, também «em tudo semelhantes» a este Menino Jesus e, por isso, devemos apresentar-nos a Ele, como Ele Se apresentou ao Pai, para que nos transforme, nos purifique e nos justifique, de modo a sermos luz uns para os outros, neste caminho de salvação que é a nossa existência.

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