16 de junho de 2022 – Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Celebramos hoje a festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, a Eucaristia. A presença de Cristo no meio de nós. A festa da Comunhão e da Unidade.

Aproveitemos esta oportunidade para aprofundar a devoção a Cristo presente na Eucaristia. Ouçamos com atenção os textos que a liturgia de hoje nos propõe, para melhor conhecermos a doutrina eucarística e vivermos coerentemente essa Comunhão e Unidade.

Para celebrarmos condignamente esta Festa, reconheçamos que nem sempre fomos fiéis à nossa ligação a Cristo, nem soubemos partilhar com os irmãos os benefícios desta íntima comunhão.

 

A relação entre pão e Eucaristia

Como escutamos na primeira leitura, Abraão regressava a casa depois de ter travado uma dura batalha contra alguns reis, que tinham raptado o seu sobrinho Lot. Vinha extenuado, cheio de fome e sede. Chegou à cidade de Salém e saiu-lhe ao encontro Melquisedec, rei e sacerdote do Deus Altíssimo, que lhe ofereceu pão e vinho. Depois, invocando sobre ele o nome de Deus, abençoou-o.

Quem beneficiou deste pão e vinho foi Abraão e os judeus seus filhos, bem como o povo pagão de Salém. Todos se irmanaram e uniram neste banquete.

Esta generosa oferta de pão e vinho sempre foi associada pelos cristãos ao tema da Eucaristia, pois relacionam o gesto feito por Melquisedec com Jesus, Messias/Sacerdote e Rei, que se oferece a todos os homens como alimento, que é partilhado à mesma mesa.

 

Ligação entre Eucaristia e vida

No relato que escutamos, no texto do Evangelho, esse mesmo gesto foi feito por Jesus. Contrariamente aos seus discípulos que sugeriam que cada um se arranjasse por si próprio, Jesus propõe que sejam os apóstolos a dar de comer à multidão os pães e os peixes que lhes foram apresentados. S. Lucas, ao relatar a multiplicação dos pães, quis descrever o rito da celebração da Eucaristia, como ela se fazia nas suas comunidades.

Jesus acolhia as multidões que o seguiam e falava-lhes do Reino de Deus. É isso que acontece nas nossas liturgias dominicais: o celebrante, em nome de Cristo ressuscitado, acolhe os fiéis da comunidade com a saudação da paz e, na Liturgia da Palavra, anuncia-lhes o Reino de Deus.

A hora, a que nas comunidades de Lucas se celebrava a Eucaristia era o sábado à noite, quando o dia começava a declinar.

O lugar deserto, em que a multidão escutava a palavra de Jesus, recorda o Êxodo dos israelitas na sua fuga da escravidão do Egipto. A comunidade cristã, no tempo de Lucas, é composta por todos aqueles que saíram do estado de lugar deserto de escravidão, de poligamia, de propósitos de vingança, de violência, de más companhias, de mentira, de desonestidade, de bruxaria e que se encaminha para a liberdade, por uma vida realmente nova.

O problema do alimento interpela os discípulos. São justamente os discípulos, a comunidade seguidora de Jesus, que deve preocupar-se com a fome dos irmãos.

Os gestos feitos por Jesus na multiplicação dos pães e dos peixes são os mesmos feitos pelo sacerdote na celebração da Eucaristia. Por isso, a Eucaristia não se pode separar da vida das pessoas. A Eucaristia é um alimento. É preciso recebê-la com fé, aceitando o empenho que contém o gesto de comer o corpo e beber o sangue de Cristo, como ligação que existe entre Eucaristia e vida, entre o partir do pão, que é Cristo, e o pão que alimenta o corpo.

 

Partir o pão entre os irmãos na comunidade

Os cristãos da comunidade de Corinto, a quem Paulo dirigiu a segunda leitura que escutamos, sabiam perfeitamente que, para partir dignamente o pão eucarístico, era necessário repartir primeiro o pão material. Mas em vez de porem em comum o que cada um trazia de casa, formavam-se em grupo: os ricos, reunidos num lado à parte, comiam e bebiam até se embebedarem, enquanto os pobres ficavam do outro lado a olhar. Perante o absurdo do seu comportamento, Paulo recorda-lhes como foi instituída a Eucaristia e os gestos simbólicos de Jesus com o pão e o vinho na Última Ceia: «Isto é o Meu corpo… isto é o Meu sangue…».

Sempre que, a convite do Senhor, a comunidade cristã reparte o pão eucarístico, isso representa Jesus que doa a sua vida por amor. Jesus continua realmente presente entre os seus discípulos, como alimento a consumir, para ser partido e partilhado com amor entre os irmãos, na prática das boas obras. Os que comem do corpo e bebem do sangue de Cristo aceitam a sua identificação com Jesus; formam um só corpo com Ele; desejam assimilar o seu gesto de amor; empenham-se em doar a própria vida aos irmãos, como Ele fez, comunitariamente e em união com Ele.

Na comunidade cristã não é possível entrar em comunhão com o Senhor sem partilhar com os irmãos o pão material, pondo em comum todo o alimento que possui. Não se trata apenas de doar dinheiro, roupas e alimentos, mas pôr à disposição da comunidade: capacidades, talentos, qualidades, competência e sobretudo a inteligência. Deste modo, haverá abundância para todos. A generosidade e o amor, com a bênção de Cristo, operarão o milagre.

Não há justificação para não se receber a comunhão em cada Eucaristia, estando devidamente preparado, pois somos convidados por Cristo, para o banquete eucarístico que Ele nos oferece. Ser convidado, assistir ao “banquete” e não “comer” é falta de consideração para com “Aquele” que Se oferece neste banquete.

O pão eucarístico é um dom, não um prémio a que só os bons têm direito. É um alimento oferecido aos pecadores, não aos justos. Embora tenhamos consciência de sermos indignos, porque pecadores, a Eucaristia estimula-nos a tornarmo-nos o que ainda não somos: pão partido, comungado e dividido em união com todos os irmãos.

 

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