16 de abril de 2017 – Domingo de Páscoa – O AMOR GERA A FÉ, A FÉ GERA O TESTEMUNHO

Anseios de vida nova, busca de um sentido para a própria existência, medo da morte como fracasso, esperança do amor que tudo renova… tudo isto encontra a sua razão de ser na ressurreição de Jesus (Evangelho). Ela é o dinamismo que impulsiona a vida e ação dos que se comprometem com Cristo, de modo que se atue hoje a prática de Jesus de Nazaré (I leitura). Essa prática exige discernimento, desapego, para que o cristão, ressuscitado com Cristo no batismo, caminhe para a plena realização (II leitura).

Evangelho (Jo 20,1-9) O amor gera a fé

O texto é uma catequese sobre a ressurreição de Jesus, própria da comunidade do autor do IV Evangelho. Com esta perícope, visa-se responder à pergunta: com que sentimentos deve o cristão encarar o túmulo vazio do Domingo de Páscoa? Serão ainda necessários «sinais» que suscitem a fé em Jesus? De facto, o trecho cita sete vezes a palavra sepulcro. É uma insistência martelante que provoca tomadas de posição. O texto pode ser dividido em três pequenas cenas: a) Maria Madalena junto do sepulcro e com os discípulos; b) Os dos discípulos junto do sepulcro; c) Explicação da incredulidade.

  1. Maria Madalena: A comunidade que ainda não assimilou a morte de Jesus.

A cena começa com uma indicação de tempo, que não é mera datação formal: «No primeiro dia da semana». Iniciou-se a nova criação nascida da morte e ressurreição de Jesus.

Maria Madalena é figura simbólica. Representa a comunidade sem a perspetiva da fé, incapaz de assimilar a morte de Jesus. Ela é figura representativa de todos os que pensam que o túmulo seja o lugar do fracasso do projeto de Deus. No versículo 2 ela fala na 1ª pessoa do plural («não sabemos»), denotando que é figura representativa de um todo. Já é de madrugada (nasceu um novo dia), mas para ela é ainda trevas (skotias, em grego). As trevas representam o «mundo», a negação da vida, que não aderiu a Jesus . o gesto de Maria que vai ao sepulcro sintetiza as buscas da comunidade cristã, ansiosa de vida e amor, mas que às vezes os procura em lugar errado.

Diante da pedra rolada ela pensa que roubaram o cadáver. Para ela, a morte havia interrompido a vida, para sempre. E o relato que faz aos dois discípulos confirma-o: «Tiraram do sepulcro o Senhor e não sabemos onde O puseram».

  1. Os dois discípulos: corre mais quem ama mais

Também os dois discípulos representam a comunidade que não assimilou a morte de Jesus. O evangelista dá a entender que a comunidade se tinha dispersado. Por isso Maria Madalena encontra os dois a sós. A intenção de João é bem clara: a comunidade não subsiste sem a vivencia da fé em Cristo ressuscitado.

Os dois discípulos são Simão Pedro e «aquele que Jesus amava». Eles saem a correr em direção ao sepulcro. É uma verdadeira maratona. Quem corre mais? Quem chega em primeiro lugar? Certamente não é quem está em melhores condições físicas, mas sim aquele que tem as autênticas disposições para correr. Em outros termos, quem ama corre mais e chega primeiro. De facto, o «outro discípulo» não tem nome, mas um apelido: «aquele que Jesus amava». Foi esse discípulo quem este perto de Jesus por ocasião do julgamento e da morte. Com isso, João mostra quais são os sentimentos do cristão em relação à morte de Jesus. Mas não é tudo. O discípulo amado chega antes. «debruçou-se, viu os panos de linho por terra, mas não entrou». Ele percebe que há sinais de vida mas ainda não alcança a plena compreensão do que aconteceu. Os panos de linho (e os perfumes) podem ser uma ténue referência ao leito nupcial. Para João e para o discípulo amado que vê, o túmulo não é lugar de morte, mas sim do encontro do Senhor da vida com a Sua esposa, a comunidade.

Chega Simão Pedro. O facto de deixar que Pedro entre antes no sepulcro é, da parte do discípulo amado, um gesto de reconciliação e de amor, gesto que repete o de Jesus. Tendo seguido a Jesus, disposto a morrer com Ele, o discípulo amado não se considera por isso superior a Pedro. Este entra, «começou a observar as ligaduras, que estavam no chão, e o lençol que Jesus tivera na cabeça, não colocado no chão, com as ligaduras, mas `parte, enrolado para outro sítio». A descrição da cena quer demostrar claramente que não houve violação do sepulcro e nem roubo do cadáver, pois os ladrões não se teriam preocupado em dobrar o sudário.

Aconteceu algo de inaudito: Jesus não continuava prisioneiro das malhas da morte. Ele estava vivo.

  1. Explicação da incredulidade

Dissemos que Pedro é figura representativa da comunidade que ainda não fez o salto de qualidade para passar do temor à fé. Por isso o evangelista lembra um texto da escritura que diz: «Os Teus mortos tornarão a viver, os Teus cadáveres ressurgirão… Porque Javé está para sair do Seu domicílio».

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