«Deus é o Senhor também da morte. A morte não pode opor-se à vida… Aquele que, como orvalho desceu do céu, e como orvalho saiu do seio de Maria, posto no sepulcro penetra na terra com a Sua humildade vivificante, e com a luz da Sua ressurreição ilumina e vivifica os mortos. Hoje, sábado, parece que a morte triunfou, que o último inimigo obteve a vitória máxima, matando o Filho de Deus. Mas não! No silêncio da morte o orvalho está pregnando na terra. Amanhã, domingo, a morte terá mais poder sobre Ele. Amanhã terá fim a vitória da morte… Se alguém pôde vencer o último inimigo, a nossa vida é esperança, pois o último inimigo, a morte foi aniquilado».
OS SÍMBOLOS PASCAIS
- O símbolo do fogo
Reconhecido pelos antigos como um dos quatro elementos do mundo, o fogo é um princípio ativo. As suas características são uma certa «imaterialidade» ou «espiritualidade», que o torna próximo de Deus. Tem capacidade de purificar e regenerar. Os ritos de purificação são bem conhecidos: basta lembrar as queimadas que preparam o manto verde da natureza: o crisol onde são purificados os metais, etc. Em sentido translato, o fogo representa o amor, as paixões que se aninham nos corações. Na Bíblia, o fogo é sinal da presença e ação de Deus no mundo, é expressão da santidade e transcendência divinas. As teofanias sob a forma de fogo marcam momentos ímpares da revelação de Deus: no monte Horeb, e Sinai, e são importantes sob o ponto de vista da vocação de alguns profetas.
Na liturgia da Vigília Pacal, o fogo representa a grande teofania de Deus: a nova criação realizada na ressurreição de Jesus Cristo.
- O símbolo da luz
A luz é a força fecundante, condição indispensável para que haja vida. Em oposição às trevas, que são, corolariamente, símbolo do mal, da infelicidade, da perdição e da morte, a luz exalta o que é belo e bom. Na Bíblia, Deus é luz. Jesus é a luz do mundo. Quem crê torna-se luz, reflexo da luz de Cristo. A vida inspirada pela fé é um «caminho na luz». A transfiguração de Jesus, manifestação da Sua filiação divina, é uma antecipação da glória pascal que ilumina os que crêem.
Entre todos os simbolismos que derivam da luz e do fogo, o Círio Pascal é a expressão mais forte pela sua riqueza de significados. É a fusão da Lua-cheia de Nisan (símbolo da salvação pascal) e o rito da luz (quando, à tardinha, os hebreus acendiam as lâmpadas), que é uma ação de graças pelo dom da luz. Representa Cristo ressuscitado, vencedor das trevas e da morte (os cravos do Círio), Senhor da história (os algarismos), princípio e fim de tudo, ( A e Ω), sol que não conhece ocaso. É acesso como o fogo novo, produzido em plena escuridão, pois na Páscoa tudo renasce.
A tipologia da luz é descrita no Exultet, que forma um todo orgânico com o anúncio da libertação pascal. A aclamação «Eis a luz de Cristo» é um memorial da Páscoa. A procissão com o Círio marca a presença de Cristo no meio do Seu povo.
- O símbolo da água
A água é símbolo da vida. Representa a eficácia do sangue redentor de Cristo, comparado à água que lava. A descida do catecúmeno à fonte batismal assemelha-se à descida de Cristo às profundezas da terra. A imersão do Círio Pascal na água é a união do elemento divino com o humano. A força fecundante de Cristo, gerador de vida nova, para que todos os que se banharem nessa água fecunda se tornarem filhos de Deus.
- Liturgia da Palavra
As leituras procuram dar uma panorâmica da História da Salvação, desde a criação até à nova criação realizada na morte-ressurreição de Jesus. De facto, parte-se do Génesis, onde «tudo era bom» (I leitura). No sacrifício de Isaac e na fé de Abraão estão prefigurados o sacrifício de Jesus e a adesão dos fiéis, pela fé em Cristo, ao projeto de Deus (II leitura). A libertação definitiva em Cristo e a «passagem» dos cristãos da morte à vida ( III leitura».
As crises de Israel no exílio na Babilónia suscitam a memória do amor perene de Javé pelo Seu povo, Sua esposa (IV leitura). As promessas de Deus cumprem-se na história, fecundando de esperança a vida dos homens, e essas promessas atrairão todos os povos de Deus (V leitura).
Quem foi infiel: Javé ou Israel? Baruc exorta Israel a tomar consciência do que fez, convidando-o ao arrependimento (VI leitura). Esgotados todos os recursos para salvar o povo, Deus anuncia a nova aliança, na qual Ele será o nosso Deus e nós seremos o Seu povo (VII leitura). Essa nova Aliança foi selada na morte e ressurreição de Jesus. Com o anúncio do Anjo: «Ele não está aqui. Ressuscitou», os cristãos começam a celebrar o memorial da presença de Deus no meio do povo (Eucaristia). Esse memorial tem início com o Batismo: mortos com Cristo, viveremos para Deus (Epístola, Liturgia batismal).