15 de junho de 2017 – Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo -Ano A

A Eucaristia é «o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição» salvadora de Cristo. O memorial tem dois aspetos: o de reviver na memória o Mistério da Salvação como estímulo da nossa gratidão, ao recordar que aquele Deus «em quem vivemos, nos movemos e existimos», é quem «sustenta» o homem e o «alimenta» (I leitura). Um «memorial» que não é simplesmente recordação, mas pela ação do Espírito Santo, o único Sacrifício da Cruz, pelos sinais do pão e do vinho se torna presente no meio de nós e para nós e com a nossa participação. Comendo o corpo de Cristo e bebendo o Seu sangue seremos revestidos de Cristo e viveremos n’Ele e Ele em nós (Evangelho) e assumiremos o compromisso da finalidade da Sua Encarnação e da Sua Paixão e morte pela salvação dos irmãos. Realizaremos, assim, como fruto da Eucaristia, a união do Corpo místico de Cristo, a Igreja (II leitura).

O grandioso mistério da santíssima Eucaristia pode ser olhado sob diferentes ângulos. Podemos meditar na Eucaristia vendo Nela o cumprimento das promessas da antiga aliança ou o penhor da glória futura; podemos também ver Nela um sinal do desejo que Deus tem do homem indo ao ponto de querer cear com ele ou a actualização do sacrifício da Cruz. Mas a festa de hoje sublinha sobretudo a presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, essa presença tão real como outrora na Cruz ou em Belém ou glorioso no céu.

O Corpo o Sangue do Senhor que são, para todos nós cristãos, a presença real, quase sensível e patente aos nossos olhos da pessoa de Jesus. Depois da sua vinda para o meio de nós no Natal, depois de nos ter dado a mensagem salvadora de Deus, depois de ter passado pelo Calvário, pela sua Paixão, Morte e Ressurreição, quis continuar e ficar no meio de nós, até ao fim dos séculos como Ele quis, sob as aparências do pão e do vinho. No meio de nós, nos nossos altares, em cada eucaristia e depois, como prolongamento do altar, em cada um dos nossos sacrários de toda a terra.
Para entendermos e compreendermos sempre melhor esta presença eucarística de Jesus no meio de nós, ouvimos a palavra de Deus que hoje escuta toda a Igreja, em toda a terra, no mundo inteiro.
Na primeira leitura do Livro do Génesis fala-nos o Senhor da figura misteriosa do sacerdote Melquisedec que foi ao encontro de Abraão no regresso de uma luta e combate vitorioso, em favor do povo de Deus. Diz-nos o texto sagrado que esse sacerdote «trouxe pão e vinho pois era sacerdote do Altíssimo e abençoou Abraão». Seguiu-se uma oferta a Deus, em acção de graças, pela vitória de Abraão, nosso Pai na Fé.
A Igreja e a própria Bíblia viu sempre, nesta oferta de Melquisedec, a primeira alusão bíblica à Eucaristia que viria a deixar-nos Jesus Cristo na última Ceia.
A Eucaristia, com a oferta a Deus em cada dia do pão e do vinho é, antes de mais, o prolongamento na história, do que fez o próprio Jesus Cristo, pela primeira vez, em Quinta-Feira Santa. Como único sacerdote do Altíssimo por excelência, Jesus Cristo, apresentou a Deus então e, pelas mãos do sacerdote, apresenta agora em cada altar esse pão e esse vinho. No pão e no vinho Jesus quis ficar com todos os seus sofrimentos, a sua paixão e a sua morte, como acção de graças por tudo o que o próprio Deus fez e está a fazer dia a dia, em nosso favor até ao fim dos séculos. A Eucaristia é sempre, de facto, a grande oração de acção de graças de cada dia e sobretudo de cada Domingo, na nossa missa dominical em que vamos tomando parte.
Na segunda leitura da Carta de S. Paulo aos Coríntios é S. Paulo que nos mostra Jesus a dar-nos a Eucaristia que também aqui estamos hoje e neste momento a celebrar: «Meus irmãos: Eu próprio recebi do Senhor o que por minha vez vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e deu graças; depois partiu-o e disse: Isto é o meu Corpo que é para vós. Fazei isto em memória de mim».
Temos efectivamente a Eucaristia, como presença real de Jesus, debaixo das aparências do pão e do vinho, só e unicamente porque Jesus, à maneira de Melquisedec, em Quinta-Feira, como ouvimos, nos trouxe o pão e o vinho dos quais Ele se quis servir para ficar connosco ate ao fim dos séculos. Quis fazê-lo Ele pelo ministério dos sacerdotes: «Fazei isto em memória de mim». É o mesmo que dizer tomai-me presente no mundo até que Eu venha, no fim dos séculos.
A Eucaristia, com o sacerdócio, e por eles a presença de Jesus no mundo, são o grande dom de Deus que hoje aqui estamos a celebrar neste momento.
No Evangelho, Jesus aparece-nos a dar de comer a cinco mil pessoas esfomeadas no deserto. Fê-lo com a ordem terminante dada aos seus apóstolos: «Dai-lhes de comer».
A Eucaristia que aqui estamos a celebrar é esse dom de Jesus para todos poderem comer desse pão sagrado, onde está Ele connosco para acabar assim com todas as fomes do mundo. Para acabar com todas essas fomes e também com a fome do pão nosso de cada dia. Quis Ele ficar connosco na Eucaristia, em forma de pão que se reparte, para que ao recebê-lo assim, vamos todos daqui e de cada Eucaristia dispostos a abrir as nossas mãos e repartir o pão a todos aqueles que têm fome, saciando-os com aquele pão que não nos faz falta e ele é, de facto, de todos aqueles que têm fome.

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