14 de março de 2015 – 4º Domingo da Quaresma – Ano B

Alegra-te Jerusalém! O grito de Isaías tem atualidade para nós hoje quando ouvimos proclamar a misericórdia divina que não abandona o seu povo. Quando sentimos em nós Cristo a oferecer continuamente uma vida nova no Baptismo e renovada na graça do perdão, de um novo viver para Deus. A fé é a primeira razão de toda alegria e de todo o esforço de renovação espiritual. Deixemo-nos envolver na misericórdia divina.

No início da vida pública Jesus vê virem ao seu encontro os primeiros discípulos e diz-lhes – que procurais? A resposta é outra pergunta: Mestre, onde moras?

O mundo de hoje mostra-nos uma realidade semelhante à do povo de Israel, povo rebelde e infiel como diz o profeta e espera que alguém faça idêntica pergunta: afinal onde mora Deus perante tanta rebeldia?

Não é difícil pintar o quadro de sombras que pairam no horizonte. Mundo de ateísmo e afastamento de Deus. Ninguém pode ignorar os múltiplos aspectos de rebeldia e indiferença espiritual do homem que, longe de Deus, cava a sua própria destruição.

Buscam-se ídolos no poder, no racionalismo e na falsa ciência sem sobrenatural, no hedonismo egoísta, violento e cego que nega toda a ordem de valores éticos e a dignidade da própria criatura humana, criada à imagem de Deus. Idolatria na exploração do outro pela sede de riqueza a todo o custo, nas desordens da sexualidade entendida apenas como instinto irracional, sem compromisso nem responsabilidade, afastada de todo o complemento afectivo e de humanidade plena, sem respeito pela ordem e pela pessoa, disposto a usar todos os meios para destruir as vidas que possam surgir dessa capacidade concedida por Deus quando chamou o género humano a ser colaborador na obra da criação.

O homem faz-se deus de si mesmo e encontra-se numa situação insustentável, escravo de todos os desvarios na fé, na ética e no relacionamento fraterno que seria próprio de irmãos que têm o mesmo Deus como Pai.

Aí está a infidelidade assinalada pelo profeta. Aí o desespero humano de quem não encontra razão de viver. Eis o projecto divino invertido. Eis o plano de felicidade impossível. Eis o amor perdido, a revolta implantada, o homem aniquilado.

Um Deus de misericórdia

Mas Deus não quer uma humanidade condenada ao desespero. Não quer uma sociedade sem lei nem respeito pelo próximo, não quer uma sociedade em crise. Mandou os profetas para denunciar falsas aventuras e anunciar a conversão, mandou os apóstolos para indicarem caminhos de salvação, mandou o seu próprio Filho para nos salvar. Confiou à Igreja, aos sacerdotes e aos fiéis, esta missão sublime. Onde havia infidelidade lançar a fé, onde a rebeldia anunciar a confiança, onde o ódio e o egoísmo levar o Amor, onde falta Deus anunciar a sua presença e despertar o interesse de O encontrar: Mestre, onde moras? E seguir o convite: vinde e vede. Sim temos de parar. Eu e vós, ouvir Jesus e segui-l’O com fé e confiança.

A alegria a que nos convida a missa de hoje neste peregrinar quaresmal encontra o seu motivo na graça do Baptismo, na infinita misericórdia divina que nos chama a uma vida nova.

Mesmo reconhecendo e prevenindo contra outras infidelidades do povo de Israel à maneira das «nações pagãs», infidelidades que provocam a destruição do Templo e o exílio, a misericórdia do Senhor manifesta-se na atitude do rei da Pérsia que manda reconstruir o Templo e regressar os filhos de Israel. O povo aceita a prova e busca a reconciliação e recupera a liberdade para de novo dar testemunho da sua fé.

A segunda leitura exprime de modo incisivo que “Deus é rico em misericórdia” e que tudo quanto há de bom e vida renovada é fruto desse amor infinito de Deus que chama continuamente à perfeição.

No amor de Deus a salvação

Se a salvação adquirida é pura graça divina, ela obtém-se pelo bom uso da liberdade. Nicodemos, modelo do homem livre, movido pelo santo desejo de verdade, foi ter com Jesus. Aquele homem de coração recto e sincero encontrou o momento singular para ouvir Jesus falar do valor da fé activa, motivadora de atitudes que salvam e ajudam a pessoa humana a abdicar das próprias opiniões para seguir os conselhos divinos. O contraste entre aquele que odeia a luz e o que pratica a verdade está claro no Evangelho deste dia ao realçar o valor das obras «feitas em Deus». Aqui se levanta o grande problema do abuso da liberdade para fugir da luz ao contrário do homem livre que se aproxima da luz, pratica a verdade e sente a fonte salutar da alegria pela presença de Deus consigo. Quem não quer ser livre?

É pelos caminhos da liberdade que podemos encontrar e seguir a Deus. (Catecismo da Igreja, n.º 1730 / 1731.). «Deus criou o homem racional, dotado do domínio dos seus próprios actos, quis deixar o homem entregue à sua própria decisão, de tal modo que procure por si mesmo o seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegue à total e beatífica perfeição». «A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e de maturação na verdade e na bondade. E atinge a perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança».

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