10 de janeiro de 2016 – Festa do Batismo do Senhor

No Evangelho de S. Lucas, que temos para este ano C, o Batismo de Jesus, que hoje celebramos, aparece como a charneira, ou o eixo, entre a pregação do Baptista e a pregação de Jesus. E também a pregação de Jesus está incluída entre os dois batismos de Jesus, o de água no Jordão e o de sangue no Calvário.

O Batismo de Jesus inaugura uma nova relação entre Deus e a humanidade: «a Céu abre-se», não tanto para Jesus, mas verdadeiramente para nós. Assim, o Batismo de Jesus reveste-se dum profundo valor simbólico, pois representa o nosso batismo. Pelo carácter batismal é Deus que passa a apontar-nos: «tu és meu filho muito amado»; e começamos a ser «templos do Espírito Santo».

O ciclo litúrgico do Natal chega hoje ao seu termo. Celebrando fundamentalmente a Incarnação do Verbo, inicia-se com a sua presença visível, no nascimento, e desenvolve-se até culminar na Epifania, isto é, na manifestação deste Verbo incarnado, deste Deus feita homem, de tal modo que todos os povos – o povo de Israel, onde Ele aparece, e todos os outros, os gentios – dêem conta da Sua presença salvadora. O momento mais relevante desta Epifania, desta manifestação, é sem dúvida o batismo do Senhor, que este dia celebra.

E, antes de mais, gostaria de chamar a atenção de alguém mais desprevenido: este batismo de Jesus, não é o sacramento do batismo, que o mesmo Jesus mais tarde instituiria, e com o qual todos nós fomos batizados, não! O próprio João Baptista – Baptista quer dizer simplesmente «aquele que lava, que dá banho» – faz uma distinção clara entre os dois batismos; como lemos no Evangelho de hoje: «Eu batizo-vos com água… Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e em fogo». Este rito, este gesto simbólico de lavar com água era praticado naquele tempo por várias seitas religiosas. Consistia fundamentalmente em mergulhar uma pessoa na água, submergindo-a totalmente, e em tirá-la depois para fora, já completamente lavada. O significado principal deste rito é que toda a vida passada, de pecado, ficou na água, foi levada pela corrente e aquele que saiu da água é um ser novo, como se apenas agora tivesse nascido. Este, o desejo, a prece, daqueles que se faziam lavar, batizar; mas só Jesus Cristo – o único que tem na terra o poder de perdoar pecados – poderá ligar à água essa força purificadora. E fá-lo, tornando, por Sua vontade, essa água portadora da força do Espírito Santo. Ele próprio dirá a Nicodemos que é preciso «renascer da água e do Espírito Santo». Aí está o batismo no Fogo do Espírito Santo de que nos fala João Baptista.

Não resisto a citar as palavras com que um escritor do séc. V, S. Máximo de Turim, se refere ao batismo de Jesus: «Hoje, portanto, o Senhor Jesus veio para ser batizado e quis que o seu santo corpo fosse lavado nas águas do Jordão. Dirá talvez alguém: «Se era santo, porque quis ser batizado?» Escuta: Cristo fez-se batizar, não para ser santificado pelas águas, mas para santificar as águas e para purificar a torrente com o contacto do seu corpo… Quando o Salvador desce à água, toda ela fica limpa para o nosso batismo e é purificada a fonte, de modo que os povos futuros possam receber a graça batismal».

Temos aqui relacionado o batismo de Jesus, com o nosso próprio batismo.

Mas voltemos ao texto de São Lucas que hoje nos é proposto: «Quando todo o povo recebeu o batismo, Jesus também foi batizado e começou a orar.» Reparemos neste pormenor da oração, que só encontramos neste evangelista. O batismo é uma ação de Cristo, não é um rito mágico: ele só se entende num clima de fé, de comunicação com Deus, de abertura a Deus, de oração, numa palavra. Foi assim o batismo de Jesus – uma descida às águas, assumindo a condição de criaturas sujeitos ao pecado, a afim de percorrer com elas o caminho que irá levá-los à libertação. E é neste momento de oração que, como diz S. Lucas «o céu se abre» Aqui está a resposta à ânsia do profeta Isaías: «Oh! Se rasgásseis os céus e descêsseis!»

O Espírito de Deus desce mesmo, tornando-se visível em forma de pomba – a ternura, a mansidão, a paz.

E a voz do Pai: «Tu és o meu filho muito amado!»

Na 1.ª leitura, Isaías apresentara-o como «o Meu servo», aqui, na plenitude da Revelação, Ele é o «Filho muito amado».

Tenhamos hoje bem presente a nossa condição de batizados em Cristo e no fogo do Espírito Santo. E, sobretudo, assumamos corajosamente a responsabilidade que daí decorre: tornar-nos cada vez mais identificados com Aquele cujo Espírito recebemos.

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