1 de janeiro de 2023 – Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

A Igreja contempla na oitava do Natal, sem desviar os olhos de Cristo, a criatura por meio da qual tão grande mistério se tornou possível. O Filho de Deus encarnou, por obra do Espírito Santo, de Maria, sempre virgem, que por isso é verdadeiramente Mãe de Deus. Comecemos o novo ano dizendo, agradecidos, a Nossa Senhora: Santa Maria, Mãe de Deus rogai por nós para que percorramos estes dias santamente.

 

Santa Maria Mãe de Deus

A Igreja, oito dias depois da celebração do nascimento de Nosso Senhor, regressa a Belém, pela mão dos pastores, para contemplar o Mistério. Durante oito dias, os olhos da fé não se afastaram do Menino recém-nascido e do Mistério do amor de um Deus que veio morar entre os homens. Mas não chega um só dia para celebrar tão grande Mistério, e a festa estende-se por toda a semana em adoração e louvor ao Filho de Deus, feito homem. A Igreja, e cada um de nós, não se cansa de ler no Evangelho, o sucinto relato de tão grande dom. Mas o quer contemplar permanentemente, e o Espírito Santo suscitou a piedosa tradição cristã do presépio. No presépio o Mistério do Amor de Deus permanece sempre vivo, na intimidade dos lares. A celebração do Natal, de olhos fixos no Menino-Deus que dorme, na humilde manjedoura, é uma explosão de alegria e louvor em união com cântico dos Anjos e a exultação dos pastores. Mas a Igreja agora, no fim da oitava, relendo de novo o relato de S. Lucas e olhando para o Menino Jesus que se venera nos templos, com que se pergunta: mas como veio Ele até nós? Como é isto possível? E então volta a sua atenção para Maria, Aquela que aconchega no seu colo o Filho de Deus e a Ele se dirige chamando-O “meu Filho”.

Essa jovem mãe, descendente da família de Davide, mãe pelo poder criador do Espírito Santo, é verdadeiramente mãe de Jesus. É virgem, cheia de graça e mãe fecunda, e tal vez a primeira palavra que pronunciou a Palavra encarnada foi “mãe”, “mãezinha”, e foi dirigida a Maria.

Nossa Senhora é verdadeiramente mãe de Jesus. Deu a seu filho tudo o que as mães dão aos filhos que trazem ao mundo. E Jesus é verdadeiramente Deus. Por isso desde sempre a Igreja venerou Nossa Senhora como Mãe de Deus, e nós rezamos cheios de alegria: Santa Maria, Mãe de Deus rogai por nós. Foi também exultando, com grande alegria que o povo de Deus, no ano de 431, acolheu a definição dogmática do Concilio de Éfeso sobre a verdade sempre professada pelos fiéis. Os padres conciliares afirmaram: “A Santa Virgem é Mãe de Deus, quanto à humanidade” e acrescentaram que não se pode chamar “à Virgem Maria Mãe de Deus em sentido figurado”.

Já sabemos como veio Jesus até nós, já sabemos o que hoje estamos a celebrar. Vivamos esta Eucaristia bem imersos no Mistério da Encarnação do Filho de Deus e da Maternidade divina de Maria, e digamos sempre com fé, admiração e agradecimento cada uma das nossas Ave-Marias.

 

A Bênção de Deus e a nossa paz

Na primeira leitura da que foi hoje proclamada foi ouvimos a bênção judaica com que os sacerdotes abençoavam o povo de Israel no fim das grandes solenidades litúrgicas. Era como que um anúncio da grande bênção prometida por Deus e. que S. Paulo anuncia como já realizada: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”. Deus abençoou o Mundo concedendo a sua salvação. Essa grande bênção é Jesus, e veio por meio de Maria.

A fórmula da bênção judaica, contida no livro dos Números, repete por três vezes o nome do Senhor, e diz o Papa emérito Bento XVI: “Isto significa a intensidade e a força da bênção, cuja última palavra é «paz». A palavra bíblica shalom, que traduzimos por «paz», indica aquele conjunto de bens em que consiste a «salvação», que trouxe Cristo, o Messias anunciado pelos profetas” (Vaticano, 1 de Janeiro de 2007). Nossa Senhora trouxe-nos essa plenitude da bênção divina, e por isso a Igreja nos recorda, neste primeiro dia do ano solar, dia mundial da paz, que foi por meio da Mãe de Deus que Deus veio morar entre nós e com Ele a verdadeira paz.

Nossa Senhora zela continuamente pela paz dos seus filhos, foi este um dos principais motivos das suas aparições em Fátima. Como não recordar a Bênção prometida pela Senhora, para o mês de Outubro, e que foi concedida, como fora anunciada, enquanto no céu se desenrolava o impressionante milagre do sol. Diz a Irmã Lúcia que uma vez desaparecida a celeste mensageira “vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora (…) Nosso Senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que S. José” (Memorias da Irmã Lúcia. Vol. l., p.181). Os Bispos de Portugal na carta pastoral no centenário das aparições, comentam esta passagem das Memórias. Lembram que “esta bênção vinha sendo anunciada pelos pastorinhos desde os meses precedentes. E não era algo apenas para eles, mas para a humanidade inteira. Esta bênção era a motivação de quanto estava a acontecer e permite-nos penetrar no núcleo da iniciativa de Deus que, na presença cheia de luz e de beleza da Virgem Maria, mostrava a sua proximidade misericordiosa junto do povo peregrino” (C.P. Fátima, sinal de Esperança para o nosso tempo, p. 8). O mundo e Portugal passavam por situações verdadeiramente dramáticas, e Deus por meio de Maria mostrava que a sua bênção de paz continua no meio de nós, e nos envolve sempre, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Somos filhos de Deus, como recorda S. Paulo aos cristãos da Galácia, e nada nos pode arrebatar a nossa paz. Jesus disse aos Apóstolos e a todos nós: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde” (João 14. 27). Essa paz é a presença permanente de Jesus em nós e no meio de nós, e essa paz é que devemos transmitir ao mundo. O cristão é por antonomásia construtor da paz. Anunciar Cristo é anunciar a paz. Temos a bênção de paz connosco, mas ao mesmo tempo a temos de conquistar. “A paz, que Deus Pai deseja semear no mundo, deve ser cultivada por nós. E não só, mas deve ser também «conquistada». Isto comporta uma verdadeira luta, um combate espiritual que tem lugar no nosso coração, porque inimiga da paz não é apenas a guerra, mas inclusive a indiferença, que nos leva a pensar unicamente em nós mesmos e a criar barreiras, suspeitas, temores e fechamentos. E estas realidades são inimigas da paz. Graças a Deus, dispomos de muitas informações; mas às vezes vivemos tão submergidos pelas notícias que nos distraímos da realidade, do irmão e da irmã que têm necessidade de nós. Neste ano comecemos a abrir o coração, despertando a atenção pelo outro, por aqueles que estão mais próximos. Este é o caminho para a conquista da paz!” (Papa Francisco, Angelus 1 de Janeiro de 2016). Esforcemo-nos, pois, para conquistar a paz para semear a paz nas almas, nas famílias e na sociedade, com a presença materna de Santa Maria Mãe de Deus, Rainha da paz.

 

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