Narrar de novo

O debate sobre a comunicação desagua com frequência no que todos desejariam e ninguém tem: os jornalistas gostariam de fazer notícias diferentes, os leitores passar por conteúdos positivos, os telespectadores ver imagens menos dramáticas, os ouvintes ir além de soundbites e todos os membros de grupos nas diferentes redes passar por menos de curiosidades bacocas.

Na origem desta constatação, tantas vezes exposta por profissionais dos media e por aqueles que aparentemente apenas se servem deles, está a abundância globalizada de mensagens, conteúdos, dramas, comentários, imagens ou filmes. E sobretudo o caos que invade as diferentes possibilidades de comunicar. De facto, tanto se valoriza um comunicado como um desabafo e pode ser notícia um relato ou relatório, independentemente de quem o produza. Por outro lado, os critérios de credibilidade e valorização do que está ao alcance de todos os recetores apenas depende do impacto que gera e das audiências que conquista. Sim, porque tanto um programa de entretenimento como uma fotografia estampada num mural têm o mesmo objetivo: conquistar audiência.

A comunicação é cada vez mais um grande fórum, anárquico, onde confluem pequenas e grandes anúncios, local de novidades e curiosidades, centro onde se procuram tanto referencias fundamentais da Humanidade e como bisbilhotices de todos os quotidianos.

Diante deste panorama surge um desafio: “narrar de novo”. É a proposta do Papa na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se assinala este domingo. Francisco fala três vezes em “narrar”: valoriza os media enquanto possibilidade de “narrar e compartilhar”; afirma que o desafio hoje consiste em “aprender de novo a narrar”, indo além da possibilidade de “produzir e consumir informação”; e explica que “narrar significa compreender que as nossas vidas estão entrelaçadas numa trama unitária, que as vozes são múltiplas e cada uma é insubstituível”.

“Narrar”, neste sentido, está distante de qualquer processo de comunicação da galáxia digital que construímos. Porque a trama não é unitária, mas episódica, fragmentada, do instante.

“Narrar”, no conceito do Papa, distancia-se também dos projetos de comunicação, tanto os empresariais que apenas visam o lucro como os institucionais que procuram solidificar um nome, uma comunidade de pessoas, onde se podem incluir também os desenvolvidos pela Igreja Católica.

“Narrar de novo” exige não apenas atitude diferente diante do consumo dos media, mas sobretudo novas estratégias de presença neste ambiente, de desenvolvimento de projetos audiovisuais, descobrindo a “trama unitária” que os liga, mesmo que com “vozes múltiplas”, porque “cada uma é insubstituível.

Narrar de novo passa, por certo, pela concretização de desejos tantas vezes formulados de trabalho em conjunto, parcerias e valorização recíproca do muito que se faz nos media.

Fonte:

Paulo Rocha,

Agência ECCLESIA

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