A máscara do medo

Há muitos momentos em que as palavras sobram e, diante da violência que se vai multiplicando em tantas partes do mundo, é justo dizer-se que são mesmo aquilo de que menos precisamos neste momento. Naturalmente, ficamos mais aturdidos quando essa violência terrorista nos bate à porta – lá longe isso é “costume” e acabamos por habituar-nos -, mas uma resposta global ao fundamentalismo e à radicalização ideológica, que usa a religião como justificação para o seu anseio de domínio e sede de morte, exige que olhemos com atenção para todos os pontos do globo.

Desde logo, colocando o dedo na ferida como tem feito o Papa Francisco: quem lucra com a venda das armas que se multiplicam nas mãos de guerrilheiros, exércitos ao serviço de ditaduras, terroristas e lunáticos onde menos se esperaria? Como é que podemos assistir impavidamente a este longo arrastar de conflitos armados que vão saltando de um lado para o outro, caindo no esquecimento, naquilo a que o Papa chama III Guerra Mundial aos bocados?

Sim, o terrorismo chegou ao coração da Europa. Não teria sido necessário esperar por isso para despertarmos para esta triste realidade, mas agora não adianta discutir isso. O que é que vamos fazer a seguir? É justo dizer que na origem do problema está apenas a dificuldade de integração de gerações juvenis cuja identidade não está bem definida? É difícil exigir a quem reside num país ocidental que respeite a sua Constituição como primeira referência, acima de qualquer ordenamento jurídico de inspiração religiosa, evitando assim a construção de comunidades paralelas? Demora muito a exigência de reciprocidade na relação entre países, quando está em causa a garantia da liberdade religiosa, independentemente do credo professado?

Há muito para refletir e para decidir nos próximos tempos. Da Síria, há não muito tempo, recebíamos queixas de responsáveis cristãos, espantados com a chegada de jovens europeus para combater pelo autoproclamado ‘Estado Islâmico’. É, de facto, altamente perturbador que uma civilização ancestral tenha perdido a capacidade de cativar as novas gerações com os seus valores fundamentais, a começar pelo mais elementar, o respeito pela vida humana, igual em dignidade independentemente de raças ou religiões. O primeiro passo é recuperar esses valores, professá-los publicamente e sem hesitações, deixar cair a máscara do medo. A força militar até poderá ganhar o presente, mas só a força moral pode conquistar um futuro de paz.

Octávio Carmo,

Agência ECCLESIA

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